Maioria dos vencedores nas primárias republicanas apoia alegações falsas de Trump, diz jornal

Uma análise feita pelo The Washington Post mostrou que 108 candidatos a cargos estaduais ou no Congresso dos EUA repetiram as acusações falsas de fraude nas eleições de 2020

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Por Redação
Atualização:

Mais de 100 candidatos vencedores até o momento nas primárias do Partido Republicano para cargos estaduais e federais nos Estados Unidos endossam as alegações do ex-presidente Donald Trump de que as eleições de 2020 foram fraudadas. A revelação foi feita pelo jornal americano The Washington Post, que analisou os resultados eleitorais e os discursos dos candidatos até as primárias de maio. O jornal promete atualizar a investigação conforme novos resultados forem saindo.

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Segundo o levantamento, os eleitores escolheram pelo menos 108 candidatos a cargos estaduais ou no Congresso que repetiram as acusações falsas de Trump. O número salta para pelo menos 149 candidatos vencedores – de mais de 170 disputas – quando inclui aqueles que fizeram campanha em favor do endurecimento das regras de votação ou aplicação de medidas mais rigorosas, apesar da falta de evidências de fraude generalizada.

O levantamento inclui resultados nos 14 estados que já realizaram primárias ou convenções de indicação até o final de maio, e considera as disputas para o Congresso e todos os cargos estaduais com poder de administração eleitoral: governador, vice-governador, procurador-geral e secretário de Estado.

Os candidatos considerados vencedores incluem aqueles que avançaram para o segundo turno das primárias, mas ainda não garantiram a indicação do partido.

Um vídeo do ex-presidente Donald Trump falando é exibido enquanto o comitê da Câmara encarregado de investigar o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio realiza uma audiência  Foto: JABIN BOTSFORD/EPA/EFE

Já foram escolhidos oito candidatos para o Senado dos EUA, 86 candidatos para a Câmara, cinco para governador, quatro para procurador-geral e um para secretário de Estado que abraçam a negação eleitoral de Trump, aponta o Post. “A contagem não inclui a rodada mais recente de primárias em 7 de junho. O Post continuará atualizando sua análise ao longo do ano”, informa.

Integridade eleitoral

A análise também mostrou que, mesmo candidatos que não abraçaram completamente as falsas narrativas de Trump se sentiram compelidos a, de alguma forma, adotar o discurso da “integridade eleitoral”.

Além dos 108 candidatos que ganharam suas indicações ou avançaram para o segundo turno utilizando as falsas alegações de fraude, outros 41 vencedores nomearam a integridade eleitoral como um elemento-chave em sua campanha.

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Entre os argumentos dessa integridade estariam a suposta necessidade de “melhorar” ou “restaurar” a confiança do público nas eleições americanas ou fornecer mais aplicação das leis existentes.

“Em vez de declarar que a eleição de 2020 foi legítima, muitos desses candidatos citam a falta de fé no resultado entre seus eleitores como motivo para exigir leis eleitorais mais rígidas”, aponta o jornal. “Defensores dos direitos de voto dizem que tais leis podem tornar mais difícil para as pessoas votarem e são desnecessárias, dada a escassa evidência de fraude.”

E mesmo candidatos que não abraçaram a acusação de fraude, inclusive se opondo à estratégia de Trump de pedir recontagens e tentar bloquear a certificação, se viram apoiando a tese da integridade eleitoral. Os principais exemplos são o governador Brian Kemp e o secretário de Estado Brad Raffensperger, ambos da Geórgia, que desafiaram Trump em 2020, mas apoiaram uma lei de integridade eleitoral em 2021.

Por outro lado, apenas 22 concorrentes vencedores ou candidatos a vagas abertas se recusaram a abraçar a falsa narrativa de fraude ou evitaram a retórica da integridade eleitoral.

Força motriz do partido

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“A análise oferece um novo retrato da extensão de como abraçar as falsas alegações de Trump se tornou parte de uma fórmula vencedora nas disputas republicanas deste ano e o que isso significa para o futuro imediato da democracia americana”, escreveu o jornal.

O levantamento indicou que a maioria dos candidatos negadores dos resultados das eleições que garantiram suas indicações está concorrendo em distritos ou estados que se inclinam para os republicanos, de acordo com as classificações do Cook Political Report, “o que significa que provavelmente conquistarão os cargos que estão buscando”, aponta.

De acordo com o Post, muitos desses candidatos devem ocupar cargos com o poder de interferir nos resultados de futuras disputas, como bloquear a certificação dos resultados eleitorais, alterar as regras sobre a atribuição dos votos eleitorais de seus estados ou concordar com litígios que tentam anular o voto popular.

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A investigação conduzida por um comitê da Câmara dos EUA que analisa os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, já concluíram que as alegações do ex-presidente eram falsas e foram uma tentativa de golpe. Além disso, na última segunda-feira, 14, o grupo ouviu testemunhas próximas de Trump que disseram ter tentado dissuadi-lo da ideia de declarar fraude - bem como conselheiros e familiares - e chamaram a estratégia de “a grande mentira”.

“Mas a análise do Post mostra a difusão de suas inverdades dentro do Partido Republicano um ano e meio depois”, escreveu o jornal. “O conjunto de falsidades que os membros do comitê descreveram como ‘a grande mentira’ é agora uma força motriz central do Partido Republicano.”

Segundo o Post, muitos desses candidatos acatam as declarações falsas de Trump como uma tentativa de cortejar o endosso ou as contribuições de campanha do ex-presidente, ou também para evitar sua ira.

Um exemplo recente da ira de Trump foi direcionada ao deputado Mo Brooks, republicano pelo Alabama, quando o ex-presidente rescindiu seu endosso depois que Brooks rejeitou as declarações sobre o resultado de 2020 e pediu aos eleitores que seguissem em frente.

Um vídeo mostrando o ex-procurador-geral William Barr falando durante uma entrevista com o Comitê que investiga o episódio de 6 de janeiro de 2021 Foto: J. Scott Applewhite/AP

“Mo Brooks, do Alabama, cometeu um erro horrível recentemente quando ‘acordou’ e declarou, referindo-se ao golpe da eleição presidencial de 2020: ‘Deixe isso para trás, deixe isso para trás’”, disse Trump em comunicado na época.

Trump fora do realidade

No segundo dia de audiência do comitê de investigação da Câmara, o ex-procurador-geral William Barr disse em um depoimento gravado que o ex-presidente havia se “desligado da realidade” ao pressionar o Departamento de Justiça para investigar alegações de fraude. Essa foi uma das avaliações mais duras sobre a obsessão de Trump com o pleito de 2020.

O grupo afirmou na última segunda que o ataque ao Capitólio foi o resultado direto das repetidas alegações infundadas de Trump de que a eleição presidencial de 2020 foi roubada. Trump continuou insistindo nessas acusações, apesar de ter sido informado repetidamente que Joe Biden havia vencido a corrida de forma justa, de acordo com depoimentos de pessoas próximas ao ex-presidente.

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Trump respondeu ao comitê, chamando as investigações de “deboche da justiça”. Em uma carta de 12 páginas, o ex-presidente disse que, em vez de se concentrar nos problemas do país, o painel é um “tribunal ilegal” que “procura distrair o povo americano da grande dor que sentem”.

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