Pelo menos 51 pessoas morreram após serem abandonadas em um caminhão próximo a uma rodovia em San Antonio, no Texas, em um episódio que já é considerado um dos mais letais na fronteira entre EUA e o México nos últimos anos. De acordo com as autoridades, até o momento foram identificadas vítimas de três países: México, Guatemala e Honduras.
Informações da polícia local apontam que o caminhão abandonado foi encontrado por um funcionário municipal por volta das 18h de segunda-feira, 27, ao ouvir gritos de socorro. Inicialmente, 46 pessoas foram encontradas sem vida e 16 foram socorridas para hospitais locais - incluindo quatro crianças. Organizações do Texas confirmaram a morte de outras quatro pessoas mortes na manhã desta terça-feira, 28, número que também foi confirmado pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador.
A investigação do caso está sob responsabilidade do Homeland Security Investigations, um ramo do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA especializado em casos de tráfico de pessoas, de acordo com o The Washington Post. Segundo a Associated Press, três pessoas teriam sido presas, incluindo o motorista do veículo. Não há detalhes sobre a participação das outras duas no esquema.
O juiz do condado de Bexar, Nelson Wolff, confirmou que entre os mortos estão 39 homens e 11 mulheres. A nacionalidade de todas as vítimas, no entanto, não foi confirmada pelas autoridades até o momento. De acordo com o chefe do departamento de América do Norte da diplomacia mexicana, Roberto Velasco Alvarez, identificou-se que 22 das vítimas eram do México, sete de Guatemala e duas de Honduras.
Os corpos foram encontrados próximo a Interstate 35, uma importante rota de trânsito da fronteira EUA-México. A passagem de fronteira mais próxima ao local fica a cerca de 225 quilômetros. Moradores próximos ouvidos pelo The New York Times informaram que o local era um ponto de desembarque tradicional.
O caso ocorre em meio a um aumento na migração na fronteira sul dos EUA, que registram um recorde de prisões. Em maio, 239 mil pessoas foram presas ao longo da fronteira com o México.
Apesar da causa das mortes ainda não ter sido confirmada oficialmente, autoridades da polícia e do corpo de bombeiros do Texas apontam que as vítimas encontradas com vida foram levadas ao hospital com problemas de saúde relacionados ao calor - San Antonio e outras cidades do Estado vivem uma onda de calor em níveis recordes. A temperatura na segunda-feira chegou a 39,4ºC na cidade.
“Eles estavam sofrendo de insolação e exaustão”, disse o chefe do Corpo de Bombeiros Charles Hood, referindo-se aos sobreviventes. “Era um trator-reboque refrigerado, mas não havia nenhum ar condicionado visível.”
Organizações de contrabando que trabalham dentro dos Estados Unidos às vezes colocam migrantes em caminhões e trailers de carga depois que eles já cruzaram a fronteira com o México, a fim de escapar dos postos de controle rodoviários operados pela Patrulha de Fronteira dos EUA
San Antonio é um importante ponto de trânsito para os migrantes que vão do Texas para outros pontos dos Estados Unidos, e dezenas de milhares de migrantes passaram pela cidade nos últimos meses, segundo defensores dos imigrantes.
Repercussão
O governador do Texas Greg Abbott (Republicano) responsabilizou no Twitter o presidente Joe Biden pelas mortes dos migrantes. “Essas mortes estão em Biden. Elas são o resultado das suas políticas mortais de fronteira aberta. Elas mostram as consequências mortais de sua recusa em fazer cumprir a lei”, declarou.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse a repórteres a bordo do Air ForceOne que o presidente Joe Biden estava “monitorando de perto os relatos absolutamente horríveis e comoventes” de San Antonio.
A assessora rebateu o argumento de republicanos sobre a política democrata na fronteira, culpando contrabandistas humanos pela tragédia. “O fato é que a fronteira está fechada, e é em parte por isso que você vê pessoas tentando fazer essa jornada perigosa usando redes de contrabando”, disse ela.
O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, disse que um dos cônsules-gerais do país esta em direção ao local.
O arcebispo de San Antonio, Gustavo García-Siller, lamentou a tragédia e lembrou que ela acontece pouco tempo depois do massacre na escola infantil de Uvalde, também no Texas, que deixou 19 crianças e 2 professoras mortas. “O Senhor tenha misericórdia deles. Eles esperavam uma vida melhor”, declarou.
Tragédias anteriores
Os mais 40 corpos encontrados sem vida nesta segunda-feira imediatamente se tornam um dos piores incidentes envolvendo migrantes ilegais em solo americano. O incidente mais mortal da história recente havia sido até então em 13 de maio de 2003, que guarda semelhança com o atual: na ocasião, 19 migrantes morreram no compartimento traseiro de um caminhão no sul do Texas.
Segundo as investigações, o motorista do veículo do caso de 2003 concordou em transportar os migrantes através de um posto da fronteira por US$ 7,5 mil, mas não ligou o sistema de refrigeração do caminhão. As temperaturas no interior subiram para 78,3ºC.
As pessoas transportadas no veículo arranharam a parte interna e gritaram por socorro. Quando o motorista finalmente abriu as portas traseiras, os 19 foram encontrados mortos por desidratação, superaquecimento e asfixia. O motorista foi condenado a 34 anos de prisão. /NEW YORK TIMES, W.P., REUTERS, AP
Esta reportagem está em atualização