Uma menina de 11 anos sobreviveu por três dias no mar após um naufrágio na costa da Itália, agarrando-se a duas câmaras de ar de pneus, disse a equipe de resgates na quarta-feira, 11. A criança, originária de Serra Leoa, na África, estava em um barco precário de migrantes que partiu da Tunísia dias antes.
O barco afundou perto da costa da ilha italiana de Lampedusa durante uma tempestade, afirmou a organização de resgate alemã Compass Collective em um comunicado. Até 45 migrantes estavam a bordo. A menina, que vestia um colete salva-vidas, foi a única sobrevivente. A equipe de resgate ouviu seus gritos na escuridão às 3h20 de quarta-feira.
“Foi uma coincidência incrível termos ouvido a voz da criança, mesmo com o motor funcionando”, disse Matthias Wiedenlübbert, capitão do Tromatar III, um navio alemão de vela que auxilia no resgate civil no Mediterrâneo desde agosto de 2023, em comunicado. A equipe procurou outros sobreviventes, mas após uma tempestade de um dia inteiro com ondas de dois metros e ventos fortes, “era inútil”, acrescentou o capitão.
A criança não tinha água potável ou comida com ela, segundo a equipe de resgate. Mas, apesar de estar hipotérmica, estava responsiva. Lampedusa, uma ilha italiana mais próxima do Norte da África do que da Itália continental, é frequentemente usada como ponto de passagem para migrantes que buscam uma vida melhor no exterior.
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“Morrer no Mediterrâneo não é uma opção”
Nicola Dell’Arciprete, chefe da agência infantil da ONU (Unicef) na Itália, disse que o incidente foi mais uma tragédia em uma das rotas marítimas de migração mais perigosas do mundo. ”Enquanto muitos de nós estão celebrando nestes dias, nossos pensamentos vão para a menina que desembarcou hoje em Lampedusa, a única sobrevivente de mais um naufrágio no Mediterrâneo”, escreveu Dell’Arciprete em um post no X. “Toda vida importa. Precisamos de rotas seguras, busca e resgate. Proteger as crianças é um dever.”
Mais de 30 mil migrantes foram registrados como desaparecidos no Mediterrâneo desde 2014, segundo a Organização Internacional para as Migrações. Milhares de pessoas tentam a perigosa jornada todos os anos, saindo das costas do norte da África e da Turquia em direção à Europa em busca de asilo ou melhores condições de vida, sem os documentos de viagem necessários.
O governo de extrema-direita da Itália tentou reprimir a migração ilegal, embora seu plano de deter migrantes na Albânia enquanto seus pedidos de asilo são processados tenha enfrentado obstáculos legais. A Itália é o maior ponto de entrada único para solicitantes de asilo que chegam à União Europeia vindos das costas africanas. O plano rígido, que busca desencorajar potenciais migrantes de fazerem a travessia, está sendo observado de perto por outros líderes europeus.
“Mesmo durante tempestades, as pessoas são forçadas a usar rotas de fuga perigosas pelo Mediterrâneo,” disse Katja Tempel, porta-voz da Compass Collective, nesta quarta-feira. “Precisamos de passagem segura para refugiados e de uma Europa aberta que acolha pessoas e lhes dê acesso fácil ao sistema de asilo. Morrer no Mediterrâneo não é uma opção.”