Dois aviões militares colombianos chegaram a Bogotá nesta terça-feira, 28, com cerca de 200 migrantes deportados pelos Estados Unidos, alguns dos quais denunciaram um “pesadelo americano” devido às condições do programa de expulsão de Donald Trump.
Os aviões foram enviados pelo governo da Colômbia após o presidente Gustavo Petro se recusar no domingo a permitir que voos militares dos EUA com os deportados pousassem no país e exigir de Trump “condições dignas”, como não algemar os repatriados. O pedido desencadeou uma crise diplomática que incluiu ameaças tarifárias mútuas, abandonadas após os dois países chegarem a um consenso.
Segundo o jornal El Colombiano, os voos desta terça incluíram os 160 deportados que estavam nos aviões militares dos EUA que Petro não autorizou aterrissar e que nenhum desses teriam antecedentes penais nem mandados de prisão, e que a deportação se deu por estarem em situação irregular nos EUA. Dentre eles há 26 menores de idade.

No seu perfil da rede social X, Petro postou uma foto recebendo os deportados, disse que eles viajaram “livres, dignos, sem estar algemados” e anunciou um plano de crédito para reintegrá-los. “Estruturamos um plano de crédito produtivo, associativo e barato para o migrante. O migrante não é um delinquente é uma pessoa humana livre”, afirmou.
Não está claro se a Colômbia vai enviar novos aviões militares para os próximos voos de deportados ou se eles serão realizados pelos Estados Unidos - e se, neste caso, haverá alguma mudança de protocolo com relação aos voos recusados por Petro. No domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia afirmou que mantinha conversas com os EUA para buscar acordos que “assegurem condições mínimas de respeito e trato digno para os compatriotas”, sem detalhar medidas específicas.
Ao desembarcar em Bogotá, os migrantes afirmaram à imprensa colombiana que haviam vivido um “pesadelo americano”. “Não sabíamos se era dia ou noite, pior até do que estar na prisão. Nos davam comida estragada”, disse o colombiano Carlos Gómez à imprensa, já em Bogotá.
Carlos relatou que foi preso pelas autoridades americanas junto com o seu filho de 17 anos e que havia perdido todos os seus pertences antes de ser deportado. “Eles não me agrediram verbalmente porque eu preferi ficar quieto e ficar em um canto (...). Mas era o tratamento que recebemos na cela. Eles jogavam a comida no chão”, declarou
Outro repatriado, identificado apenas como Daniel, também afirmou que perdeu todos os pertences ao ser preso. Ele também reclamou das condições impostas no voo, incluindo o retorno do primeiro avião aos EUA. “No início viríamos de San Diego (...) algemados e com correntes nos quadris, como se fôssemos extraditados ou criminosos de alto nível. E como é que, sendo colombianos, não nos deixam pousar na Colômbia?”, denunciou.
O relato do colombiano é semelhante ao de migrantes brasileiros que chegaram ao país no sábado, 25. Em resposta, o governo brasileiro convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para pedir explicações sobre o protocolo adotado.
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Crise diplomática
O incidente diplomático do fim de semana é o primeiro confronto de Petro com Trump, que assumiu o cargo em 20 de janeiro com promessas de realizar uma deportação em massa de migrantes.
Em meio à crise, Trump anunciou tarifas imediatas sobre as importações da Colômbia e a embaixada dos EUA em Bogotá suspendeu a emissão de vistos, garantindo que assim que os deportados retornassem à Colômbia as medidas seriam suspensas.
Em retaliação, Petro adotou sanções semelhantes contra os Estados Unidos, o principal parceiro comercial da Colômbia, cujas forças militares cooperam há décadas na luta contra guerrilhas e cartéis de drogas.
As ameaças de Trump de deportar milhares de pessoas o colocaram em desacordo com os governos da América Latina, de onde se estima que venha a maioria dos 11 milhões de imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos. /Com AFP