O número de pessoas migrando globalmente aumentou constantemente nas últimas duas décadas, à medida que a pobreza, as mudanças climáticas e a violência levaram pessoas a fugir de seus lugares de origem.
Em alguns casos, como os de africanos que buscam chegar à Europa ou latino-americanos que tentam chegar aos Estados Unidos, a jornada se tornou mais perigosa nos últimos anos. As políticas de fronteiras dos países ficaram mais rígidas e consequentemente o contato com contrabandistas nas rotas ilegais cresceu.
O episódio recente mais brutal desta violência aconteceu nesta segunda-feira, 27, no Texas. Pelo menos 50 pessoas transportadas dentro de um caminhão foram encontradas mortas ou acabaram morrendo durante o atendimento médico, vítimas de insolação e desidratação. A tragédia serve como signo de quão perigosas as viagens são.
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Embora o número total de migrantes tenha aumentado nos últimos 20 anos, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), os migrantes correspondem próximo de 3% da população global. O que mudou mesmo é o número de pessoas que morrem ou desaparecem. Em 2021, essa estatística ficou em 5.914 pessoa – a maior desde 2017, quando 6,284 migrantes morreram ou desapareceram.
De acordo com a OIM, as rotas mais mortais estão no Mediterrâneo, utilizada pelas pessoas que vão para a Europa, seguidas por rotas na África e nas Américas.
Entre 2020 e 2021, mortes de dezenas de migrantes em rotas para outros países foram registradas no norte da África, no sudoeste asiático, no Oriente Médio, no sul da Europa e no Canal da Mancha, além de mortes na América Latina, como as desta segunda-feira.
Nos EUA, ordem de saúde durante pandemia contribuiu para migração ilegal
A fronteira dos Estados Unidos está tecnicamente fechada desde março de 2020, quando o governo de Donald Trump emitiu a ordem de fechá-la com a justificativa de conter o fluxo do coronavírus no país. A política, conhecida como Title 42 (Título 42, em tradução livre), acabou por encorajar os migrantes a entrarem no país através de rotas ilegais por diversas vezes.
A ordem permitiu que os agentes de fronteira expulsassem rapidamente a maioria dos migrantes, sem lhes dar a chance de solicitar asilo, sob a justificativa da segurança sanitária. Muitos são frequentemente enviados de volta ao México sem enfrentar penalidades criminais ou detenção.
Algumas famílias e menores de idade desacompanhados ainda conseguem o processo para obter asilo, o que evidencia um processo desigual. Isso, aliado ao fator de retornarem ao México sem detenção, encorajou várias pessoas a entrarem no país repetidas vezes.
Cerca de 3 em cada 10 adultos que tentam cruzar a fronteira já o fizeram mais de uma vez, segundo as autoridades americanas. Há casos de pessoas que tentam até 10 vezes.
No governo Biden, a política da era Trump foi utilizada para deportar pelo menos um milhão de pessoas. O governo tentou suspende-la em maio, mas um juiz federal emitiu uma decisão que exige a continuidade da medida. Alguns especialistas em saúde pública criticaram o fato da ordem permanecer com a justificativa de que a vacina contra a covid-19 é generalizada e, portanto, a explicação de segurança sanitária não tem mais base científica.
Caso a ordem caia, autoridades americanas estimam que até 18 mil imigrantes chegariam diariamente ao país.
Em 2021, o número de imigrantes sem documentos nos EUA chegou ao recorde de 1,7 milhão; até maio deste ano, o número já havia ultrapassado 1,5 milhão.
Política de permanência no México
Outra política em vigor que o governo Biden tentou acabar é a popularmente conhecida como “Remain in Mexico” (Permanecer no México, em tradução livre), que exige que os migrantes de um terceiro país que chegam pela fronteira sul dos EUA aguardem o resultado do pedido de asilo no México. A política está na Suprema Corte dos EUA depois que Estados processaram o governo Biden para impedir o fim da medida.
As duas políticas significam que, apesar das promessas de campanha de Biden de mudança na abordagem dos imigrantes, os controles de fronteira permanecem basicamente os mesmos que eram sob o presidente Trump.
O governador do Texas Greg Abbott (Republicano) responsabilizou no Twitter o presidente Joe Biden pelas mortes dos migrantes nesta segunda-feira. “Essas mortes estão em Biden. Elas são o resultado das suas políticas mortais de fronteira aberta. Elas mostram as consequências mortais de sua recusa em fazer cumprir a lei”, declarou.
Tragédias mundiais com migrantes nos últimos dois anos
Abaixo, conheça alguns dos casos mais mortais para migrantes nos últimos anos em todo o mundo:
- No sábado, 25, 23 imigrantes morreram e muitos ficaram feridos depois de tentarem cruzar uma cerca no enclave espanhol de Melilla, no norte da África.
- Em maio, pelo menos 16 pessoas da minoria muçulmana rohingya perseguida em Mianmar morreram depois do barco em que estavam virar na costa sudoeste do país.
- Em fevereiro, 12 imigrantes morreram em temperaturas congelantes na Turquia, perto da fronteira do país com a Grécia.
- Em dezembro de 2021, pelo menos 30 pessoas morreram em uma série de acidentes de barco no Mar Egeu, perto da Grécia.
- Em novembro de 2021, pelo menos 27 pessoas morreram ao cruzar o Canal da Mancha para a França. /NEW YORK TIMES
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