NOVA DÉLHI - O presidente Jair Bolsonaro foi convidado de honra na cerimônia do Dia da República da Índia, principal festa do país. Sob forte esquema de segurança, ele assistiu neste domingo, 26, a um desfile de tropas e armamentos, elogiou o poder militar indiano, uma das nove potências nucleares do mundo, mas garantiu que o Brasil não pretende desenvolver armas atômicas.
“(A Índia) é um país nuclear, inclusive por causa dos problemas que existem na região. Mas eles não chegam às últimas consequências justamente pelo poderio bélico que têm”, disse Bolsonaro, sugerindo que os armamentos de ponta não haviam sido mostrados no desfile. “Todo mundo sempre esconde essa questão.” O presidente, no entanto, negou o interesse brasileiro em armas nucleares. “Está na nossa Constituição, que abdicamos da energia nuclear a não ser para fins pacíficos”, afirmou.
Cerca de 1% da matriz energética do Brasil é nuclear – produzida em dois reatores em Angra dos Reis (RJ). O programa nuclear brasileiro, no entanto, sempre foi visto com desconfiança pela comunidade internacional. Apenas em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, é que o País aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
Atualmente, além dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido – outros quatro países têm armas nucleares: Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
O governo americano, que historicamente sempre trabalhou em favor do regime internacional de não proliferação, tem se esforçado nos últimos anos para evitar que o clube ganhe seu décimo membro: o Irã. O presidente Donald Trump tem mantido um rígido pacote de sanções para tentar conter as ambições iranianas.
O convite de honra para o Dia da República foi o ápice da viagem de quatro dias de Bolsonaro à Índia. Durante a visita, ele assinou 15 acordos bilaterais e trocou promessas de mais investimentos com o premiê indiano, Narendra Modi. Hoje, os dois líderes se sentaram lado a lado para acompanhar a parada militar.
A segurança do evento foi reforçada com drones, helicópteros, 10 mil soldados, além de bloqueios de avenidas, ruas e alamedas da capital indiana. No céu, caças animaram a população com voos rasantes. Em alguns momentos, o cortejo lembrou o desfile das escolas de samba do carnaval brasileiro, com camelos fantasiados, malabaristas e carros alegóricos exaltando a diversidade cultural da Índia, um país de 1,3 bilhão de habitantes.
O Exército, a Marinha e as Forças Armadas da Índia também foram exaltados na larga esplanada Rajpath, onde ficam importantes edifícios públicos de Nova Délhi. A transmissão do evento foi realizada por vários canais locais e foi o assunto mais comentado no Twitter indiano. O rosto do presidente, que sentou ao lado de Modi, foi mostrado diversas vezes. Devido ao fuso de oito horas e meia e à agenda intensa, ele aparentava cansaço. A viagem se encerra hoje, com um encontro com empresários e uma visita ao Taj Mahal, ponto turístico mais conhecido do país.
Protestos
A visita do presidente foi bastante enaltecida pelo primeiro-ministro e por seus apoiadores, mas não foi unanimidade. Os críticos ao presidente afirmam que ele não representa os valores da cultura indiana e não seria o convidado mais adequado para a data. No Twitter, ao lado da hashtag #RepublicDay como tópicos em destaque, havia também a mensagem #GoBackBolsonaro.
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