Em meio à escalada na Ucrânia, a Rússia disse ter interceptado neste sábado, 12, um submarino americano em suas águas no extremo leste do país, segundo informou a agência de notícias Interfax. O comunicado ocorre horas depois de a Rússia confirmar o início de exercícios militares no Mar Negro, elevando os temores de uma invasão à Ucrânia.
Os militares informaram que usaram "meios apropriados" para fazer o submarino deixar as águas russas depois de haver ignorado os pedidos de retirada.
Segundo a agência, o submarino foi detectado perto das ilhas Curilas do Pacífico enquanto a Rússia realizava exercícios navais, disseram os militares. Não houve explicações sobre quais teriam sido os meios apropriados utilizados.

O Ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, convocou o adido militar americano na região para discutir o que alega ser uma violação das águas russas, segundo informou a agência RIA. "O submarino dos EUA deixou as águas territoriais russas em velocidade máxima", disse o Ministério da Defesa. Não houve comentários imediatos dos Estados Unidos.
No mesmo dia, mais de 30 navios da Marinha Russa foram enviados ao Mar Negro para exercícios militares, disse o Ministério da Defesa da Rússia em comunicado. Com o movimento, o país fecha o cerco à Ucrânia em todos os lados e alimenta os temores de um ataque a Kiev nos próximos dias.
As embarcações se juntarão a outros navios russos enviados ao Mar Negro nas últimas semanas. O Ministério da Defesa da tem afirmado que o avanço é um movimento pré-planejado de recursos militares. A pasta disse que os exercícios incluiriam “foguetes e artilharia” e “bombardeamento aéreo em alvos marítimos, terrestres e aéreos”. Com os navios de guerra concentrados no Mar Negro, os temores é de uma incursão por meio da Península da Crimeia, que foi anexada pela Rússia em 2014.
Além da força da marinha, a Rússia também realiza exercícios militares com Belarus perto da fronteira ucraniana. As manobras devem ocorrer até dia 20 de fevereiro, quando também encerram os Jogos Olímpicos de Pequim. A inteligência ocidental apostava em uma incursão russa logo após o fim dos jogos, para não irritar a China. Mas na última sexta-feira, 11, os Estados Unidos informaram que um ataque poderia ocorrer antes.
Segundo o comunicado, os navios russos partiram de portos nas cidades de Sevastopol e Novorossiysk. O ministério afirmou que 140 navios participarão dos exercícios, juntamente com mais de 60 aeronaves e cerca de 10 mil fuzileiros navais.
Os exercícios militares ao sul da Ucrânia, no Mar Negro e no Mar de Azov, ameaçam bloquear os portos ucranianos de Odessa, Mykolaiv e Kherson. O governo de Kiev disse na sexta-feira que pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que protestasse contra o bloqueio de seus portos.
Escalada em semanas
Nas últimas semanas, a Rússia vem realizando uma série de exercícios em torno da Ucrânia. Nesta sexta-feira, 11, os militares da Ucrânia alertaram que separatistas apoiados pela Rússia no leste do país estavam realizando exercícios militares. Um dia antes, a Rússia iniciou exercícios conjuntos com forças na Belarus, perto da fronteira norte da Ucrânia – a Otan estima a participação de dezenas de milhares de soldados.
Moscou nega planos de invasão, dizendo que está defendendo seus próprios interesses de segurança contra agressões de aliados da Otan. A Rússia já concentrou mais de 130.000 soldados na fronteira com a Ucrânia.
Em conversa por telefone, o presidente americano, Joe Biden, voltou a advertir o presidente russo, Vladimir Putin, que os Estados Unidos e seus aliados vão impor "custos severos" à Rússia em caso de invasão à Ucrânia. Esta é a segunda vez que os dois líderes se reúnem para discutir a situação no Leste.
Antes, Putin conversou com o presidente francês Emmanuel Macron. Em comunicado após a ligação de 90 minutos, a França afirmou que o presidente russo não disse nada que indicasse a intenção de invadir a Ucrânia. O francês foi à Rússia no início da semana como parte de um esforço diplomático para aliviar as tensões, mas não houve avanço nas conversas.
"Nós não vimos nenhum indicativo no que o presidente Putin disse de que ele vá iniciar uma ofensiva", disseram autoridades francesas após o término da chamada. "No entanto, estamos extremamente vigilantes e em alerta sobre a postura [militar] russa para evitar o pior", acrescentou.
Segundo o assessor de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, uma invasão pode ocorrer na semana que vem ou até mesmo no fim de semana. Sullivan disse ainda que não há informações se o presidente Vladimir Putin já tomou a decisão, mas a inteligência americana trabalha com um cenário de uma ocupação rápida da capital, Kiev.
O secretário de Estado, Antony Blinken, conversou com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Blinken disse ao colega que os canais diplomáticos permaneceram abertos para evitar um conflito na Ucrânia, mas exigiu que Moscou faça uma redução na escalada, indicou o Departamento de Estado. Lavrov, por outro lado, acusou os Estados Unidos de promover "uma campanha de propaganda" sobre o suposto ataque russo à Ucrânia.
Neste sábado, Estados Unidos e Rússia decidiram retirar seus funcionários de suas embaixadas em Kiev, indicando os temores de que a situação piore muito rápido. A embaixada do Brasil na capital ucraniana recomendou que os cidadãos brasileiros fiquem em alerta, mas não sugere a retirada até o momento.
Tensões antigas
A crise envolvendo a Ucrânia, Rússia, os Estados Unidos e a Otan já é antiga e tem origem no fim da Guerra Fria. Com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental. Putin vê esse avanço como ameaça, em especial se a Ucrânia se tornar parte da Otan.
Fazer parte da aliança é um antigo desejo ucraniano, que vê na estratégia uma forma de se proteger das investidas russas. Uma vez parte da Otan, todo país que sofre alguma agressão recebe a ajuda imediata dos aliados. A Ucrânia se tornou uma candidata em 2018, mas não há uma definição de quando, e se, o país de fato fará parte.
A disputa atual teve início em novembro do ano passado, mas foi acirrada nas últimas semanas, depois de mais uma rodada de negociações frustradas entre representantes das diplomacias americana, europeia e russa.
Em meio às negociações, o vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, chegou a afirmar que não poderia "nem confirmar, nem excluir" a possibilidade de envio de recursos militares para Cuba e Venezuela se as negociações falhassem e a pressão dos EUA sobre a Rússia aumentasse. /AFP, EFE, REUTERS e NYT