Em Beirute, expatriados e libaneses sempre brincam nos cafés da cidade ao dizer que desconfiam que o interlocutor com quem estão falando na verdade é um agente secreto do Mossad, o serviço secreto de Israel, ou da Mukhabarat, como são chamados os serviços de inteligência do mundo árabe. A suspeita é óbvia, já que o Líbano, por ter um governo fraco e grupos ligados a iranianos, sírios, americanos e sauditas, sempre foi um destino comum para espiões. Dependendo da aliança ou dos interesses, a Muhabarat síria, o Mossad, a CIA, ou mesmo agentes do Hezbollah, de grupos palestinos e de facções cristãs serão acusados dentro das mais elaboradas teorias da conspiração que circulam primeiro em Beirute e depois se difundem pelo restante do mundo árabe.De todos, os únicos realmente investigados são os espiões à serviço de Israel. No aeroporto de Beirute, ninguém entra se tiver um carimbo israelense no passaporte. Se o "r" no sotaque em inglês for muito forte, como o do hebraico, o estrangeiro pode ter problemas.A desconfiança de espiões de Israel, que por muitos anos estava no lado da conspiração, descobriu-se real com o desmantelamento de uma rede de informantes no Líbano na semana passada. E, para a surpresa dos libaneses, formada por cidadãos do país, das mais diferentes religiões, incluindo xiitas, trabalhando para o Mossad em troca de dinheiro - o serviço secreto de Israel não confirma nem desmente o envolvimento destas pessoas em espionagem.Havia até generais da reserva e técnicos de uma companhia telefônica. Vinte já foram acusados e três condenados à morte.As pessoas costumam imaginar que os espiões e informantes no mundo árabe são israelenses que se camuflam de cidadãos nacionais, como no passado, na época de Eli Cohen. Símbolo de uma outra era, o espião israelense se tornou um herói em seu país ao conseguir ocupar o posto de conselheiro-chefe do Ministério da Defesa da Síria, principal inimigo de Israel. Ele acabou sendo desmascarado e executado pelos sírios.