‘Nosso primeiro propósito é impedir que continuem as políticas de Duque’

Senador e líder da campanha de Sergio Fajardo, candidato presidencial de centro às eleições na Colômbia, fala sobre as estratégias para melhorar nas pesquisas e chegar ao segundo turno

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Por Fernanda Simas
5 min de leitura

Ainda com pouca expressão nas intenções de voto para as eleições presidenciais na Colômbia, o candidato de centro Sergio Fajardo, da coalizão Centro Esperança, tem sido cortejado pelo direitista Federico Gutiérrez para juntos tentar bater o candidato Gustavo Petro, que aparece liderando as pesquisas. No entanto, o líder da campanha de Fajardo, o senador Jorge Enrique Robledo, afirma que a candidatura do centrista é pela mudança.

“Nosso primeiro propósito é impedir que continuem as mesmas políticas de Iván Duque, porque são um desastre ao país”, disse o senador, em entrevista ao Estadão. Fajardo escolheu como seu vice Luis Gilberto Murillo, o ex-ministro do Meio Ambiente e ex-governador do Departamento (Estado) de Chocó, o mais pobre do país. Com 55 anos, o líder negro é considerado escolha chave na campanha.

Candidato de centro à presidência na Colômbia, Fajardo faz campanha em Medellín  Foto: JOAQUIN SARMIENTO

Qual é a importância da candidatura de Fajardo para o atual cenário eleitoral?

Em todas as eleições, a primeira decisão que deve ser tomada é de continuísmo ou mudança. A candidatura de Sergio Fajardo, do Centro Esperança, é de mudança. Nosso primeiro propósito é impedir que continuem as mesmas políticas de Iván Duque, porque são um desastre ao país. Do outro lado de Duque, como oposição, há dois candidatos: Gustavo Petro, uma candidatura sem dúvida forte, e a candidatura de Fajardo, que foi definida como de centro. Estamos convencidos de que nosso programa de governo é o que a Colômbia necessita e, ao mesmo tempo, estamos convencidos de que a candidatura de Petro não é capaz de unir esse país. Já levamos muito anos vendo a política sendo transformada em algo agressivo. A nossa candidatura tem uma lógica diferente: confrontamos e debatemos, mas dentro de limites que nos permitam, ao ganhar a presidência, propor uma política de unidade entre os distintos setores do país.

Como conseguir os votos já que atualmente Fajardo tem cerca de 7% das intenções de voto?

Em nossas pesquisas aparecemos com 14%. Estamos trabalhando muito fortemente. Há quatro anos, quando a vantagem de Petro sobre nós era grande, de 16 pontos, mas ao final ele passou ao segundo turno com apenas 1 ponto de diferença, começamos a remontar a candidatura de Fajardo. E estamos otimistas de que vamos passar Federico Gutiérrez (nas pesquisas) nas próximas semanas. Essa candidatura é resultado de uma consulta que fizemos a cinco setores políticos diferentes e estamos muito otimistas, as coisas vão bem.

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Qual é a importância da escolha de Luis Gilberto Murillo como vice?

É uma decisão chave. Acredito que é o melhor candidato à vice que temos neste momento no país. Ele foi ministro do Meio Ambiente, governador do Departamento de Chocó e é professor universitário.

Quais são os principais problemas a serem tratados com os eleitores?

Uma questão em que somos muito fortes e únicos: Fajardo nunca fez concessões à politicagem ou à corrupção política. Um dos principais problemas deste país é a corrupção política, que está vinculada à corrupção de outros setores, como os grandes negócios. Com isso, a Colômbia perde uma quantia muito grande de recursos. A corrupção política leva à fraude eleitoral. Cada dia mais colombianos percebem isso. A parte de mentiras e calúnias, que sempre existem, ninguém acusa Fajardo desses crimes. Outro ponto que estamos abordando com força na campanha é a questão das oportunidades. Fajardo tem propostas muito interessantes, tanto em emprego quanto em educação. Bom lembrar que ele é matemático, foi professor muitos anos, e isso mostra sua vocação de servidor público.

Os candidatos à eleição na Colômbia, da esquerda para a direita Sergio Fajardo, Enrique Gomez, Ingrid Betancourt e Federico Gutierrez Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

Como tratar as demandas da população jovem que saiu às ruas do país nos últimos anos?

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No tema de violência e segurança, temos uma proposta muito detalhada. A presidência de Fajardo criará um ministério de segurança social, onde vamos alocar a polícia. A Colômbia tem uma longa tradição de violência, que mudou muito a função da polícia, hoje militarizada. Estamos propondo um ministério para garantir que a polícia seja capaz de cumprir com seus deveres na luta contra todo tipo de delito, mas, ao mesmo tempo, seja uma força treinada de forma tática, atuando com critérios democráticos. Além disso, Fajardo tem uma proposta séria na área de educação. Primeiro com a defesa da educação pública. Pensamos ao mesmo tempo em uma universidade pública gratuita e com todos os recursos necessários. Além disso, uma reforma na instituição do governo que faz financiamento de créditos para universidades privadas. Vamos diminuir o custo deste crédito.

Como o senhor espera que Fajardo lide com os diferentes espectros políticos do país?

Fajardo era um professor na Universidade dos Andes, sem nenhum vínculo com a política. E quando decidiu entrar para a política, teve muito êxito, foi prefeito de Medellín, a segunda maior cidade do país, e depois governador de Antioquia, um Departamento muito importante. Nas duas ocasiões, ele ganhou estando do lado oposto à politicagem. Depois ele governou sem fazer concessões à classe política corrupta que detinha o poder na maioria das prefeituras. Fajardo se relacionou com todos os políticos, mas de uma forma transparente. Fajardo sabe que precisa somar as maiorias necessárias para fazer uma boa presidência, com o estilo de respeitar os contraditórios políticos e, ao mesmo tempo, ganhar e governar com eles.

Qual deve ser a relação de Fajardo, em caso de vitória, com outros líderes da América Latina?

De excelência. Vamos fazer todo o esforço para ter as melhores relações com a América Latina, mas também com outros países do mundo. Quando construímos a coalizão Centro Esperança, aprovamos um artigo que falava em relações com todos os Estados, respeitando as soberanias nacionais. Ou seja, em nada será parecido com as relações internacionais da Colômbia neste momento de Duque.

Como seria a relação com Maduro?

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Com o governo venezuelano, vamos chamar assim. Será uma relação entre Estados, que precisa ser reconstruída. Vemos que essa política de rompimento de toda a relação com a Venezuela não é correta. Como é possível não termos um vínculo com o governo de um país vizinho, mesmo que haja desacordos políticos? Esse rompimento, produto de Iván Duque, causou perdas imensas à nação colombiana. Os principais perdedores somos nós. Mesmo com as dificuldades, a Colômbia vai se esforçar para reconstruir a relação com a Venezuela, respeitando a soberania nacional e sem ingerências em temas de outros países.

Como vê a atual relação com Brasil e quais as possibilidades já que também haverá uma eleição presidencial aqui?

Faremos todos os esforços para manter boas relações. O Brasil é um país muito importante na América Latina, o mais grande e populoso. O governo de Fajardo será muito grato em poder ampliar e melhorar as relações com o Brasil de todos os tipos.

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