Prestes a anunciar suas novas políticas governamentais e planos para o Iraque, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, teve parte de suas estratégias antecipadas pela imprensa americana nesta quarta-feira. A principal e mais comentada das medidas é o envio de mais tropas para o país árabe. De acordo com fontes do governo dos Estados Unidos, Bush pedirá em seu discurso marcado para esta noite um orçamento de US$ 6,8 bilhões para financiar o envio de mais 21,5 mil soldados para o Iraque. Assessores do presidente anteciparam, entretanto, que esse novo contingente terá papel limitado, já que sua principal função será dar apoio às forças iraquianas empenhadas na estabilização do país. O presidente também deve reconhecer que foi um erro não ter reforçado antes o contingente dos EUA no país do Golfo Pérsico, e anunciará um plano de metas a serem cumpridas pelo governo iraquiano. Estima-se que, do total de novos soldados, 17,5 mil irão para Bagdá, enquanto os outros 4 mil seguirão para a conturbada província de Anbar. De acordo com o plano, a primeira brigada chegará até a próxima segunda-feira, a segunda até 15 de fevereiro e as outras serão enviadas gradualmente. A decisão, entretanto, deve encontrar resistência em amplos setores da sociedade americana. Líderes da maioria democrata no Congresso já anunciaram que se oporão ao aumento de tropas planejado por Bush. A presidente da Câmara de Representantes (Deputados), Nancy Pelosi, anunciou que pedirá que o aumento de tropas seja submetido a votação, enquanto o senador Edward Kennedy apresentou um projeto de lei para impedir a adoção de novos fundos para aumentar o contingente militar. Em declarações à imprensa americana nesta quarta-feira, o conselheiro da Casa Branca Dan Bartlett explicou que as tropas adicionais atuarão apenas no apoio às forças iraquianas, e que o envio de mais homens estará condicionado ao comprometimento do governo do país árabe com uma mudança de políticas. Bartlett explicou ainda que como condição para o aumento das tropas, o primeiro-ministro Maliki teria concordado em enviar soldados iraquianos à capital e remover restrições que protegiam milícias xiitas ligadas a seus aliados políticos. "O presidente Bush não comprometeria mais tropas em Bagdá se não houvesse uma nova estratégia", destacou Bartlett em entrevista à Fox News. Erros Em outra entrevista na manhã desta quarta-feira - desta vez à rede CBS -, o conselheiro da Casa Branca afirmou que Bush admitirá em sua declaração desta noite que as primeiras operações americanas no Iraque foram marcadas por erros. "Uma grande maioria do povo americano não está satisfeita com a situação no Iraque", disse Bartlett à CBS. "O presidente Bush está do seu lado. Ele não está satisfeito, ele vai dizer que a estratégia não está funcionando, ele vai dizer especificamente como vai consertar a estratégia." Ainda assim, o presidente americano deverá atribuir ao governo iraquiano a culpa pelo acirramento da violência nos últimos meses. Bush deverá dizer que o governo do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, excluiu das operações certos bairros em Bagdá, disse Bartlett. "As operações militares às vezes foram limitadas pela interferência política da liderança iraquiana", disse. Bush deve anunciar que o sucesso das forças adicionais dependerá de o governo adotar passos específicos para conter a violência sectária e tomar outras medidas para lidar com os problemas políticos e econômicos. Seriam incentivadas medidas para trazer de volta ao cenário político e administrativo antigos integrantes do Partido Baath, de Saddam Hussein. Funcionários disseram que várias metas serão estipuladas para o governo iraquiano tentar estabilizar o país, mas não indicaram se haverá alguma penalização pelo não cumprimento dessas metas. O plano pede que as forças iraquianas assumam a responsabilidade pela segurança de todas as 18 províncias do Iraque até novembro - atualmente o governo controla apenas três províncias. Segundo os funcionários, isso não representa um calendário para a retirada das tropas americanas. Grupo de estudos Após quase quatro anos de guerra, foram gastos cerca de US$ 400 bilhões e mais de 50 mil civis iraquianos e 3.015 soldados americanos foram mortos desde o início do conflito, em março de 2003. Os EUA atualmente possuem 132 mil soldados no Iraque. Fontes citadas pela agência EFE especificaram que US$ 5,6 bilhões do total dos fundos que serão pedidos por Bush devem ser destinados ao aumento de tropas, enquanto o US$ 1,2 bilhão restante financiará programas de reconstrução e de emprego para o país. Além disso, outro funcionário do governo, que exigiu anonimato, disse que Bush vai ignorar a recomendação do Grupo de Estudos sobre o Iraque para que promova conversações com os vizinhos do Iraque, entre eles Síria e Irã, sobre como reduzir a violência sectária no país ocupado. O grupo é um painel bipartidário que fez uma série de sugestões em documento entregue à Casa Branca no mês passado. Entre as recomendações feitas estão a redução gradual das tropas dos EUA no Iraque e iniciativas para incentivar a paz entre Israel e palestinos.
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