Os jogadores de xadrez conhecem bem uma estratégia que leva o nome de "diagonal do louco". Os palestinos da Faixa de Gaza utilizam uma outra figura, que se poderia chamar de "diagonal do túnel". Ela foi abandonada durante a guerra e retomou seu serviço assim que os soldados israelenses voltaram para seu país. Esses túneis são os que os palestinos perfuraram há dois anos, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, por baixo da fronteira com o Egito. Há mais de mil deles. Eles permitem a entrada de produtos vindos do Egito que não poderiam entrar pelas passagens fronteiriças normais que Israel mantém sob rigoroso controle. O problema é que o Hamas utiliza esses túneis não só para receber alimentos, mas também para se reabastecer de fuzis, granadas de morteiro e foguetes. Os mesmos foguetes que o Hamas dispara sobre cidades israelenses vizinhas. Foi para acabar com esses insuportáveis disparos de foguetes que Israel invadiu Gaza. Desses túneis, um bom número foi demolido pelas potentes bombas israelenses. Mas, mesmo assim, ainda restam muitos deles, às vezes a 30 metros de profundidade. Além disso, desde a manhã de ontem, as perfuratrizes retomaram o trabalho e estão escavando novos túneis. Portanto, dentro de pouco tempo estaremos de volta à situação de antes da guerra entre Israel e o Hamas. É compreensível que os israelenses de direita (do Partido Likud) assegurem que, apesar de uma superioridade militar total, a guerra do trabalhista Ehud Barak e seus aliados centristas do Kadima não foi encerrada com uma vitória e sim, talvez, com um revés. OFENSIVAS SUBTERRÂNEAS É curioso que os incontáveis generais do planeta não manifestem mais interesse pelos túneis em suas estratégias. Mas a história está cheia de túneis. Em 1683, Viena evitou uma invasão dos turcos que se haviam aproximado da cidade por túneis imensos. Felizmente, na manhã em que os turcos começariam seu ataque, os padeiros de Viena, que haviam descido para seus fornos, escutaram os últimos golpes de picareta dos soldados turcos e puderam alertar os generais austríacos. Os turcos recuaram. O Ocidente estava salvo. Como recompensa, os padeiros receberam do rei o direito de dar a forma do crescente otomano aos pequenos brioches que fabricavam e de chamá-los "croissants". Há dez anos, o Líbano descobriu que os camponeses da vizinha aldeia israelense de Adeissis entravam todas as noites no território libanês por túneis. Ali, eles enchiam cestos com a terra libanesa que era despejada do lado israelense. Se a manobra fosse prolongada, por exemplo, durante alguns milênios, o Líbano se veria um belo dia integralmente transportado para Israel, mesmo sem se dar conta. Durante a guerra atroz que o Vietnã travou contra os americanos, o general Vo Nguyen Giap mandou escavar um vasto labirinto de túneis sob a floresta tropical. Os soldados vietnamitas circulavam por esse labirinto e surgiam, de repente, na cara dos soldados americanos, abatendo-os, antes de voltar a seu reino de sombras. O miserável Vietnã acabou por vencer o colosso americano. Sob a cidade de São Luis, no Maranhão, existe toda uma rede de túneis que, antigamente, permitia que padres e monges escapassem de seus inimigos quando os colonos e os soldados se aborreciam com as provocações humanitárias da Igreja. Uma grande parte da guerra de 1914-18 opôs os Exércitos alemão, francês e britânico enfiados em trincheiras, nas ligações estreitas entre elas, em labirintos inextricáveis de túneis. Um dos animais que melhor resistem a seus inimigos é a formiga. Ela vive em túneis. E criou, ao contrário do nosso, um reino nas trevas. Isso explica por que a formiga é invulnerável, vitoriosa e próspera. O peso total das formigas no planeta iguala o peso total de todos os homens. Isso atesta o sucesso dessa espécie "perfuradora". O filósofo grego Aristóteles havia percebido isso (que vale também para o Vietnã, as trincheiras da guerra de 1914, São Luis e os túneis de Gaza). Ele dizia que a formiga é "o animal político" por excelência.