Voltando para Nova York de avião, um dia desses, tive pela primeira vez a visão da Torre da Liberdade, agora conhecida como World Trade Center 1, o arranha-céu construído sobre o marco zero de 11 de setembro de 2001. Ela realmente arranha o céu, projetando-se a nada menos que 541 metros de altura. Treze anos depois, valorizo o orgulho nacional graças ao qual, se os terroristas conseguiram derrubar os nossos edifícios, nós pudemos reconstruí-los. Tome essa, Osama bin Laden. Pois é, mas a história não acabou aqui. Infelizmente, Bin Laden subverteu de maneira concreta a nossa ordem. Apagamos as ruínas do World Trade Center, mas a política externa do medo, que os fatos do 11 de Setembro instilaram, continua muito presente - demais até. Ela continua sendo o subtexto de muitas coisas que os EUA fazem hoje no mundo e, por isso, é o subtítulo de um novo livro de David Rothkopf, National Insecurity: American Leadership in an Age of Fear (Insegurança Nacional: Liderança Americana na Era do Medo).Grande parte do livro é a visão interna da elaboração da política externa sob dois presidentes, desde o 11 de Setembro. Mas, sob vários aspectos, o verdadeiro personagem do livro é a "Era do Medo", que subverteu nossas instituições e as prioridades políticas. Ela acabará ou Bin Laden será o presente eternamente lembrado? Essa é a pergunta que enviei por e-mail a Rothkopf, editor da revista Foreign Policy. "A era pós-11 de setembro não será vista como a idade do ouro da política externa americana", ele respondeu. "Em grande parte, porque os eventos de 11 de setembro de 2001 infligiram um golpe emocional tão profundo para os EUA que, em um instante, mudou nossa visão de mundo, criando uma tremenda consciência de vulnerabilidade". Como reação, "não só exageramos a ameaça, como reordenamos nossa maneira de pensar, tornando-a o princípio organizador central na formulação da nossa política externa." Foi um erro em muitos níveis, insistiu Rothkopf. "Não só provocou a hiper-reação e os excessos dos anos Bush, como também produziu a virada na direção oposta de Obama, que procurou, ao mesmo tempo, ser o Bush ao contrário, mas também temeu parecer fraco diante desse problema, adotando uma política arriscada no Afeganistão e voltando a intervir no Iraque, em parte com medo de que a responsabilidade pudesse recair sobre ele se algo ocorresse." O medo de ser responsabilizado tornou-se uma força poderosa na política americana. "Passaram-se mais de dez anos", acrescentou Rothkopf, "durante os quais ficamos reagindo ao medo, a uma ameaça muito próxima, permitindo que ela nos redefinisse, sem conseguir fazer frente às ameaças maiores com que nos defrontamos - quer as implícitas na nossa reconstrução como país, na reordenação do poderio mundial, na mudança dos modelos econômicos que já não criam empregos e riqueza como antes, quer criando novas instituições internacionais porque as antigas tornaram-se ultrapassadas e não funcionam mais como deveriam." Tenho simpatia pelo presidente Obama, que precisa lidar com esse mundo totalmente caótico, onde as principais ameaças são representadas por Estados que se desintegram e só podem ser tratadas mediante sua reconstrução a um custo gigantesco, com resultados incertos e parceiros problemáticos. Por outro lado, esses países criam aberturas para o terrorismo de alto impacto e escassa probabilidade, onde um tiro certeiro em um milhão pode realmente nos atingir. Entretanto, houve muito mais mortes de americanos em desastres de automóvel provocados por veados, no ano passado, do que pela ação de terroristas. Não acho que Obama tenha tido um mau desempenho ao tentar driblar todas essas contradições. Ele fez um grande trabalho explicando o que está fazendo e procurando coordenar sua moderação com objetivos políticos maiores. Gautam Mukunda, professor da Harvard Business School e autor de Indispensable: When Leaders Really Matter (Indispensável: Quando os Líderes Fazem a Diferença), afirma que o fato de os EUA se concentrarem numa posição defensiva, desde o 11 de Setembro, distraiu o país da capacidade de recuperação, da maneira como fazia antes, investindo em educação, infraestrutura, imigração, pesquisa financiada por entidades estatais e em normas que incentivem a capacidade de assumir riscos, evitando a precipitação. "Costumávamos investir nessas coisas mais do que em qualquer outra, porque ofereciam retornos de alto impacto e alta probabilidade", disse Mukunda. "Vivemos em um mundo no qual as pequenas apostas podem ter elevados retornos."Diante do esforço que os líderes americanos realizam para impedir ataques terroristas de escassa probabilidade e alto impacto em lugar de repensar e investir nas fontes comprovadas do poderio do país, segundo Mukunda, só é possível concluir que "o equilíbrio se perdeu". /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLAÉ COLUNISTA, ESCRITOR E GANHADOR DO PRÊMIO PULITZER
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