O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, que há muito busca desempenhar um papel de liderança no cenário mundial, esteve esta semana no centro diplomático de duas das crises mais urgentes do planeta.
Na segunda-feira, 17, o príncipe herdeiro Mohammed se reuniu com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, na capital saudita, Riad, para discutir tanto o futuro da Faixa de Gaza quanto a guerra na Ucrânia. No dia seguinte, em Riad, ocorreram conversas amigáveis entre Rússia e Estados Unidos.
E, nesta sexta-feira, 21, o reino deve receber oficiais árabes para planejar a reconstrução de Gaza.
O fato de a Arábia Saudita ser o cenário de negociações com interesses tão monumentais é mais uma evidência de que o príncipe herdeiro está a caminho de atingir seu objetivo de se tornar um ator de poder global.
As reuniões representam uma virada notável para o príncipe herdeiro Mohammed, líder de fato do reino rico em petróleo, que foi marginalizado por um tempo nos círculos diplomáticos. Ele foi acusado de graves abusos de direitos humanos que negou, incluindo a aprovação do assassinato, em 2018, do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi, dissidente saudita.
Veja a seguir o que saber sobre as ações passadas do príncipe herdeiro e seus planos para a Arábia Saudita.
Uma nova visão para o reino
Em 2016, cerca de um ano após seu pai, o rei Salman, ascender ao trono, o príncipe herdeiro Mohammed, então vice-príncipe herdeiro, apresentou a Visão 2030. O ousado plano visava diversificar a economia do reino e torná-la menos dependente do petróleo. Ele incluía aumentar o número de sauditas no emprego privado, incluindo mulheres; solicitar investimentos estrangeiros; e vender ações da Saudi Aramco, o monopólio estatal do petróleo, para levantar capital para investir em outros setores, como o turismo.
Esse plano o ajudou a conquistar seu papel como príncipe herdeiro e herdeiro aparente ao trono.

Para o sucesso de seu plano econômico, ele também precisou introduzir mudanças significativas de cima para baixo que aliviaram as rígidas restrições sociais conservadoras.
O príncipe herdeiro se comprometeu a reverter a tão criticada proibição de mulheres dirigirem. Ele também iniciou uma luxuosa conferência financeira para vender aos investidores a Arábia Saudita.
Como parte dessa apresentação, ele falou sobre um “islamismo moderado e equilibrado que é aberto ao mundo, a todas as religiões, tradições e povos.”
Detenção de rivais
Aquela conferência de investimentos inicial, em 2017, aconteceu no hotel Ritz-Carlton, em Riad, um local ao qual alguns participantes logo retornaram sob circunstâncias muito diferentes.
Centenas dos homens mais ricos e poderosos da Arábia Saudita, incluindo vários parentes reais do príncipe herdeiro, foram detidos e mantidos no hotel.
O governo disse que estava combatendo a corrupção. O príncipe herdeiro foi nomeado para chefiar o comitê que lideraria as investigações. Críticos disseram que ele havia orquestrado as detenções para consolidar seu poder. Para garantir sua liberação, muitos detidos entregaram grandes quantias de dinheiro e entregaram o controle de suas empresas ao governo.
O príncipe herdeiro chamou de “ridículo” na época sugerir que a campanha fosse uma tentativa de tomar o poder, dizendo que era essencial para erradicar a corrupção e fortalecer a confiança dos investidores estrangeiros.
Conflitos externos
Não é apenas dentro das fronteiras do reino que o príncipe herdeiro usou coerção e força.
Suas tentativas de minimizar a influência regional do Irã, confrontando seus grupos armados, incluindo a milícia Houthi no Iêmen e o Hezbollah no Líbano, às vezes deram errado.
Em 2015, quando o príncipe herdeiro era ministro da Defesa, a Arábia Saudita liderou uma coalizão em uma guerra contra as forças Houthi no Iêmen. O esforço não conseguiu erradicar os Houthis, muitos civis iemenitas morreram, e, em 2018, a Arábia Saudita se viu presa em um impasse sangrento, sendo acusada internacionalmente de “fome” no Iêmen.
Em um incidente em 2017, a Arábia Saudita tentou diminuir a influência do Hezbollah no Líbano orquestrando a renúncia do primeiro-ministro do país na época, Saad Hariri, e fazendo com que ele culpasse publicamente o Irã. A medida foi projetada para virar os libaneses contra o Hezbollah e a interferência iraniana.
Hariri, aliado da Arábia Saudita e opositor do Hezbollah, foi convocado ao reino, onde, após intensa pressão e tratamento ríspido, ele renunciou conforme instruído, lendo um discurso na TV saudita. Hariri foi autorizado a retornar ao seu país semanas depois para reassumir seu cargo. Em vez de diminuir a influência do Hezbollah, o poder do grupo militante só cresceu após o que se tornou um escândalo internacional.
Um assassinato de grande repercussão
Fontes de inteligência americanas apontaram que o príncipe herdeiro Mohammed teria aprovado o assassinato, em 2018, de Jamal Khashoggi na embaixada saudita em Istambul. O príncipe herdeiro foi desprezado em grande parte do mundo após o assassinato, mas o presidente Donald Trump permaneceu seu aliado próximo durante sua primeira administração.
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Em sua campanha de 2020, Joe Biden prometeu tornar a Arábia Saudita um “pária” pelo assassinato. Em 2021, sua administração liberou um relatório concluindo que operativos de elite teriam executado o assassinato a mando do príncipe herdeiro. O governo saudita criticou o relatório e disse que havia “denunciado claramente esse crime hediondo.”
Por um tempo, Biden evitou o príncipe herdeiro. Mas, em 2022, com a invasão russa da Ucrânia afetando os preços do petróleo e o Irã sendo suspeito de expandir suas capacidades nucleares, Biden suavizou as relações. Os dois se encontraram em Riad e o encontro deu ao príncipe herdeiro uma medida da reabilitação internacional que ele buscava.
Aliança de negociadores
Trump, em 2018, elogiou o príncipe herdeiro Mohammed como um “verdadeiro aliado espetacular”, mesmo depois que a CIA concluiu que o príncipe teria ordenado o assassinato de Khashoggi. O presidente destacou o príncipe herdeiro como seu parceiro preferido no Oriente Médio e ele se tornou central na estratégia regional da administração.
A Arábia Saudita também foi uma compradora prolífica de armas americanas.
Os laços de Trump com a Arábia Saudita vão além dos negócios oficiais do governo e abrangem uma série de empreendimentos familiares, principalmente acordos de branding imobiliário que geram taxas pelo uso do nome Trump.
Objetivos regionais
Trump exaltou os Acordos de Abraão de 2020, que estabeleceram laços oficiais entre Israel e quatro estados árabes (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão), como uma das maiores conquistas de sua política externa em seu primeiro mandato, e uma que ele pretende expandir durante este mandato. Conseguir que a Arábia Saudita assine seria uma grande conquista.
Mas Trump, neste mês, irritou as nações árabes ao propor que a Faixa de Gaza poderia ser tomada pelos Estados Unidos para construir uma “Riviera”, enquanto os palestinos seriam deslocados para viver no Egito, Jordânia e outros países. A Arábia Saudita imediatamente descartou a ideia e disse que ainda insiste que um estado palestino seja estabelecido antes de normalizar relações com Israel.
Em Riad, na sexta-feira, representantes do Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos irão trabalhar em um plano para a reconstrução de Gaza, parcialmente financiado pelos países árabes, que preserva a possibilidade de um estado palestino.
Mediador global
A Arábia Saudita tem desempenhado cada vez mais o papel de mediadora na guerra Rússia-Ucrânia, mantendo que não busca tomar partido. O reino enviou ajuda humanitária para a Ucrânia enquanto cultivava estreitas relações com a Rússia.
Ao receber oficiais russos e americanos para conversas sobre a guerra nesta semana, o reino irritou o presidente ucraniano Volodmir Zelenski, que adiou uma visita planejada a Riad nesta semana.
Mas o encontro posicionou o príncipe herdeiro como um intermediário-chave capaz de reunir potências globais à mesa e solidificou seu status como um líder influente além do Oriente Médio.
c.2025 The New York Times Company
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