A Organização das Nações Unidas aceitou um pedido da Turquia para mudar o nome oficial do país na língua inglesa: a partir de agora, Turkey será substituído por Türkiye (pronuncia-se ‘turquiei)’. O chanceler do país, Mevlut Cavusoglu, enviou a solicitação de mudança para a ONU e outras organizações nesta semana, e o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas confirmou a aprovação nesta quinta-feira, 2.
A mudança abre caminho para o fim de trocadilhos linguísticos com a palavra inglesa turkey, usada também para designar o peru, tradicional animal que protagoniza as ceias de Natal e de ação de graças nos Estados Unidos - uma confusão que se repete em português, com o nome do animal e do nosso vizinho sul-americano.
Recentemente, um artigo recente da emissora estatal TRT World observou que a palavra “Turkey”, além de se confundir com o peru, tem outros sinônimos menos honrosos. “Folheie o Cambridge Dictionary e ‘turkey’ é definido (na língua inglesa) como ‘algo que falha’ ou ‘uma pessoa estúpida ou tola’”, destaca o artigo.
A origem da Turquia e dos perus
Os historiadores dizem que a ave recebeu o nome do país - ou porque os comerciantes que a trouxeram da América do Norte eram do Império Otomano, então popularmente conhecido como Turkey em inglês, ou porque achavam que era semelhante a outra ave já importada por comerciantes otomanos.
Do ponto de vista político, mudança alinha na arena internacional o nome em inglês do país com o nome em turco. As duas palavras são pronunciadas de forma semelhante, mas Türkiye tem uma sílaba extra no final – pronunciada “yay” em inglês.
O país adotou o nome oficial, Türkiye Cumhuriyeti, ou República da Turquia, após sua fundação em 1923. O nome se refere ao povo turco, como são chamados àqueles que vivem na região desde pelo menos a Idade Média. O presidente fundador do país, Mustafa Kemal, recebeu mais tarde o sobrenome honorífico Atatürk, que significa “pai dos turcos”.
Embora o país seja conhecido como “Turkey” na língua inglesa por pelo menos um século, e esse nome também tenha sido adotado no país, existe uma onda crescente a favor do “Türkiye”. Em janeiro de 2020, um grupo exportador turco disse que usaria o “Made in Türkiye” em todos os rótulos para padronizar a marca.
A medida foi oficializada em um decreto de 2021 do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. “A frase Türkiye representa e expressa da melhor maneira a cultura, a civilização e os valores da nação turca”, diz o decreto.
O novo nome também substitui outros usados internacionalmente para se referir ao país, como “Turkei” e “Turquie”.
Um rebranding contra a crise
O governo de Erdogan retratou a medida como uma estratégia de fortalecer a posição comercial do país no cenário mundial através do fortalecimento do nome, em uma espécie de “rebranding” (estratégia de marketing no qual uma organização decide alterar elementos simbólicos, como o nome ou o logotipo, para formar uma nova identidade).
A economia turca está em crise há meses devido a um rápido aumento da inflação, em meio à pressão de Erdogan para cortar as taxas de juros. O baixo valor da moeda turca torna as exportações do país baratas. Mesmo que haja uma valorização, economistas dizem que o déficit comercial provavelmente vai continuar por causa do alto custo dos bens intermediários.
As eleições gerais turcas devem ser realizadas em pouco mais de um ano. A economia é uma questão-chave para Erdogan, que está no poder desde 2003.
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Outros casos de países ‘rebatizados’
Os países mudaram seus nomes ao longo da história por vários motivos. Nos últimos anos, a Holanda passou a se chamar Países Baixos para representar com mais precisão a suas características geográficas. A Suazilândia mudou para Essuatíni para celebrar o 50º aniversário da independência; e a Macedônia acrescentou “Norte” ao nome para resolver conflitos com a vizinha Grécia.
Os movimentos às vezes podem causar confusão. Em 2016, políticos em Praga solicitaram que o país fosse conhecido por “Chéquia” em vez de República Checa, embora este último permanecesse um nome convencional mais longo. Entretanto, a lenta adoção do nome mais curto decepcionou os que fizeram campanha por ele./ W. POST