O Irã entregou nesta quinta-feira, 29, sua resposta sobre um acordo esboçado pela ONU sobre combustível nuclear para o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Não há detalhes da resposta, mas um jornal iraniano pró-governo afirmou que o regime vai tentar obter duas mudanças na proposta, incluindo o envio gradual de seu urânio de baixo enriquecimento ao estrangeiro em vez de enviá-lo de uma vez e uma "mudança simultânea", sob a qual quer receber combustível para o reator de pesquisa em Teerã ao mesmo tempo em que seus navios com urânio de baixo enriquecimento deixam o país. A agência nuclear da ONU confirmou o recebimento de uma "resposta inicial" de Teerã e mostrou confiança em que seja possível alcançar, em breve, um acordo a respeito.
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Em nota, a AIEA afirmou que "recebeu uma resposta inicial das autoridades iranianas para sua proposta de usar o urânio de baixo enriquecimento do Irã para produzir combustível para a continuação das operações do reator de pesquisa de Teerã, que produz isótopos radiativos para fins médicos". "O diretor-geral está engajado nas consultas com o governo do Irã e com as partes envolvidas na esperança de que um acordo sobre a proposta seja alcançado em breve".
Em artigo que não cita suas fontes, o diário pró-governo Javan disse que o Irã quer fazer envios de urânio levemente enriquecido em etapas, para ser convertido em combustível para o reator de pesquisas de Teerã, e simultaneamente quer importar combustível enriquecido em grau mais alto para atender às necessidades do mesmo reator. As condições colocadas provavelmente serão rejeitadas pelas potências ocidentais, que suspeitam que a República Islâmica esteja secretamente buscando dotar-se da capacidade de fabricar armas nucleares. Teerã diz que seu programa nuclear visa unicamente a geração de eletricidade.
Pelo esboço de acordo traçado pelo chefe da AIEA em conversações realizadas na semana passada entre o Irã e três grandes potências, Teerã transferiria para a Rússia em um só lote cerca de 75% das 1,5 toneladas do urânio que se sabe que possui, para ser enriquecido em grau mais alto pela Rússia até o final deste ano, e então o transferiria para a França para ser convertido em chapas de combustível. Estas chapas seriam devolvidas a Teerã para mover o reator de construção norte-americana que produz rádio-isótopos para o tratamento de câncer. Teerã também aceitou abrir sua nova instalação nuclear de enriquecimento de urânio para inspetores da ONU. A visita ao local foi concluída nesta semana.
É provável que as potências ocidentais rejeitem as emendas propostas por Teerã porque a prioridade delas é reduzir o estoque de urânio de baixo enriquecimento iraniano, para evitar o perigo de que o Irã possa convertê-lo no urânio altamente enriquecido necessário para a fabricação de uma bomba atômica. O envio da maior parte do urânio ao exterior garantiria um prazo adicional de mais ou menos um ano para as negociações sobre a suspensão do enriquecimento no Irã em troca de incentivos para buscar uma solução de longo prazo à disputa nuclear. As potências ocidentais vão considerar problemática a contra-oferta iraniana envolvendo importações de combustível, porque as sanções da ONU proíbem o comércio de materiais nucleares - incluindo urânio enriquecido - com Teerã. O Irã vê essas sanções como sendo ilegais e injustas.
"Condições estão prontas"
Em discurso nesta quinta, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que "as condições estão prontas" para um acordo nuclear entre o país e as potências mundiais. Segundo ele, o Ocidente mudou de uma política de "confrontação para cooperação". Ahmadinejad elogiou a perspectiva de um acordo sobre enriquecimento de urânio.
O presidente disse que o Irã recebe bem iniciativas como "troca de combustível, cooperação nuclear, a construção de plantas e reatores de energia, e garantiu que "estamos prontos para cooperar". Ahmadinejad fez um discurso na segundo maior cidade do país, Mashhad, transmitido ao vivo na emissora estatal. Ahmadinejad ressaltou, porém, que o Irã não desistirá de desenvolver tecnologia nuclear. Ele garantiu que o país "não recuará um milímetro do direito da nação iraniana".