Obama oferece aliança ao mundo islâmico contra extremistas

Presidente pede a muçulmanos novo começo, adverte radicais e reitera apoio a Israel e a palestinos

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Por Gustavo Chacra
Atualização:

Com um apelo para um novo começo nas relações entre os Estados Unidos e o mundo islâmico, o presidente Barack Obama propôs ontem uma aliança com os muçulmanos para trabalharem juntos contra o extremismo radical e pela paz no Oriente Médio e na Ásia Central.Veja também:Leia a íntegra do discurso de Barack Obama no EgitoVeja o presidente dos EUA falando pela TVConfira comentário no blog de Gustavo Chacra Em discurso na Universidade do Cairo, acompanhado por centenas de milhões de muçulmanos em todo o mundo, o presidente americano defendeu um diálogo "com base no interesse e no respeito mútuo, e na verdade de que os EUA e o Islã não precisam competir. Na realidade, eles se misturam e dividem princípios comuns. Princípios de justiça e de progresso; de tolerância e de dignidade para todos os seres humanos". Nos mais de 50 minutos que discursou em meio a aplausos, Obama começou falando da importância do islamismo para o mundo e de sua experiência pessoal, tendo vivido na Indonésia e com raízes em uma família muçulmana do Quênia.SETE TEMASO discurso - uma promessa de campanha - foi organizado em sete temas que, segundo o presidente, provocam tensão no mundo islâmico: a violência de extremistas, incluindo as ações contra o Taleban e a Al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão e também a guerra no Iraque; o conflito envolvendo israelenses e palestinos; a questão das armas nucleares e o Irã; a democracia na região; a liberdade religiosa; os direitos das mulheres; e o desenvolvimento econômico."Nós não fomos ao Afeganistão por opção. Fomos por necessidade. Sejamos claros, a Al-Qaeda matou 3 mil pessoas inocentes naquele dia", afirmou Obama, referindo-se ao 11 de Setembro. Citando o Alcorão, o líder americano afirmou que "aquele que mata um inocente, é como se tivesse matado toda a humanidade". Sobre o Iraque, o presidente fez um mea-culpa ao dizer que foi "uma guerra por opção" dos americanos, apesar de ele não ter dúvida de que os iraquianos estão melhores hoje do que na época de Saddam Hussein. Segundo Obama, "os eventos no Iraque lembraram aos americanos da necessidade de usar diplomacia e construir um consenso internacional para resolver os problemas sempre que possível". No caso afegão, o presidente assegurou que não pretende manter as tropas no país para sempre e se comprometeu, mais uma vez, a retirar as forças americanas do Iraque até agosto de 2011.Ao falar sobre o conflito entre israelenses e palestinos, Obama reforçou os laços históricos e culturais com Israel, afirmando que "esta ligação é inquebrável". Descreveu a importância de os judeus terem seu Estado, por causa do Holocausto. Mas, segundo o presidente, é indiscutível que os palestinos, "por mais de 60 anos, enfrentam a dor do deslocamento. Muitos esperam em campos de refugiados na Cisjordânia, Faixa de Gaza e territórios vizinhos por uma vida e uma segurança que eles nunca puderam viver. Eles enfrentam humilhações diárias - grandes e pequenas - que ocorrem com a ocupação. Portanto, sejamos claros: a situação dos palestinos é intolerável. Os EUA não virarão suas costas para as aspirações legítimas palestinas de ter dignidade, oportunidade e um Estado".Além de criticar os assentamentos israelenses, como fizera anteriormente, Obama foi específico ao dizer que ações do Hamas, como "disparar foguetes contra crianças dormindo ou explodir bombas em ônibus com mulheres idosas", não produzem resultados. Ele aconselhou os palestinos a seguir os passos dos negros americanos, "que por séculos sofreram como escravos e a humilhação da segregação. Mas não foi a violência que os levou a conquistar a igualdade. Foi uma insistência pacífica e determinada com base nos ideais americanos. A mesma história pode ser contada por pessoas na África do Sul e no sul da Ásia".Os países árabes também foram advertidos de que a proposta de paz da Liga Árabe "foi um importante começo, mas não o fim de suas responsabilidades. O conflito árabe-israelense não deve ser usado para distrair as nações árabes de outros problemas".Em outro tópico, mais adiante, Obama abordou a questão da democracia no Oriente Médio - delicada no Egito, onde a oposição é reprimida e a imprensa, censurada. Segundo o presidente americano, "nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto por uma nação em outra", em clara crítica à posição de George W. Bush no Iraque. Mas Obama acrescentou que "isso não reduz meu compromisso com um governo que represente a vontade do povo. Cada nação tem seu princípio, com base na tradição de seu povo. Os EUA não presumem saber o que é melhor para todos". Neste trecho, Obama não mencionou nenhum país árabe. A questão nuclear serviu para o presidente concentrar-se um pouco no Irã, descrevendo a história de desconfiança mútua. Defendendo um mundo sem armas nucleares, o presidente disse que é do interesse de toda a comunidade internacional impedir "uma corrida nuclear no Oriente Médio" que coloque "o mundo em uma trajetória perigosa".No tópico sobre as mulheres, Obama disse rejeitar "a visão de alguns no Ocidente de que a mulher que decide cobrir seu cabelo é de alguma forma menos igual. Mas acredito que negar o direito à educação a uma mulher é como negar o direito à igualdade. E não é coincidência que países com mulheres educadas são mais prósperos".No fim do discurso, Obama citou o Alcorão (sagrado para os muçulmanos), o Talmude (sagrado para os judeus) e a Bíblia. A audiência, depois da despedida, entoou gritos de "Obama, Obama, Obama". PRINCIPAIS TÓPICOS DO DISCURSORelação com mundo islâmicoPediu um novo começo para a relação entre EUA e muçulmanos. Citando várias vezes o Alcorão, falou que os conflitos históricos que dividem as culturas precisam ser superados, mas que, para isso, o extremismo tem de ser derrotado"Vim ao Cairo em busca de um novo começo entre EUA e muçulmanos, um começo com base no interesse e respeito mútuo""Ninguém deve tolerar os extremistas. Eles mataram em muitos países, gente de diferentes crenças. Suas ações são irreconciliáveis com os direitos humanos, o progresso das nações e o Islã"Guerras no Iraque e AfeganistãoAfirmou que os EUA não desejam manter soldados ou bases militares no Afeganistão, mas precisam continuar com a luta contra os extremistas. Estabeleceu uma diferença entre o conflito afegão e a guerra no Iraque, que classificou de "uma guerra de escolha""Acredito que os eventos (no Iraque) servem para lembrar aos EUA da necessidade de usar a diplomacia para resolver nossos problemas sempre que possível""Não queremos manter nossas tropas no Afeganistão. É um terrível sofrimento perder nossos jovens. É dispendioso e politicamente difícil continuar esse conflito"Conflito entre Israel e palestinosEndossou a solução de dois Estados e pediu um acordo entre os dois povos "com aspirações legítimas". Denunciou a violência de palestinos, a negação do Holocausto, mas também afirmou que não aceita a legitimidade da expansão dos assentamentos judaicos"Essa construção viola acordos prévios e atrapalha os esforços para se alcançar a paz. É hora de esses assentamentos pararem""Para desempenhar um papel nas aspirações palestinas, para unir o povo, o Hamas deve pôr fim à violência, reconhecer os acordos anteriores e reconhecer o direito de Israel à existência" Programa nuclear iranianoReiterou desejo de avançar no diálogo com o Irã em vários assuntos, apesar da tensão e da "história tumultuada" entre os países. Disse que Irã tem direito à energia atômica desde que respeite determinações do Tratado de Não-Proliferação Nuclear"Trata-se de evitar uma corrida de armas nucleares no Oriente Médio que poderia levar a região a um caminho perigoso""Em vez de ficar preso ao passado, deixei claro aos líderes iranianos que estamos prontos para avançar. A pergunta agora não é mais a quem o Irã se opõe, mas qual futuro deseja construir".

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