CIDADE DO PANAMÁ-O governo do Panamá iniciou uma auditoria para investigar a subsidiária da empresa chinesa Hutchison Holdings, que opera diversos portos no Canal do Panamá. A investigação ocorre em meio a declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem ressaltando a necessidade de Washington retomar o controle do canal. O republicano também afirma que Pequim controla a via marítima e não descartou tomar o canal à força.
O diretor de Portos e Indústrias Marítimas Auxiliares da Autoridade Marítima do Panamá (AMP), Max Florez, disse à AFP que os funcionários desta entidade se reuniram com o controlador-geral, Anel Flores, para tratar da auditoria nos portos controlados pela Panamá Ports Company.
Essa empresa é subsidiária da Hutchison Holdings, com sede em Hong Kong, e opera os portos de Balboa e San Cristóbal, na entrada do canal do Pacífico e do Atlântico, respectivamente.

“Em nome da AMP já notificamos a administração da Panama Ports Company, que a controladoria iniciaria a auditoria”, indicou Florez. “Os auditores chegaram à Companhia Portuária do Panamá para iniciar uma auditoria exaustiva que visa garantir o uso eficiente e transparente dos recursos públicos”.
A Controladoria busca “determinar se os contratos de concessão acordados entre a Panama Ports Company e o Estado panamenho são cumpridos, verificando se a empresa está reportando adequadamente suas receitas, pagamentos e contribuições ao Estado”, disse ele.
Em um comunicado, a Hutchinson Ports, apontou que “manteve e continuará mantendo uma relação transparente e colaborativa” com as autoridades panamenhas.

Soberania
Após o inicio da auditoria, o governo do Panamá seguiu ressaltando que o Canal do Panamá faz parte do país. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, afirmou nesta quarta-feira, 22, no Fórum de Davos, na Suíça, que o Canal não é “uma concessão e nem um presente”.
Em uma mesa redonda no Fórum Econômico Mundial, Mulino afirmou que “rejeita tudo o que Trump disse, primeiro porque é falso e, segundo, porque o Canal do Panamá pertence ao Panamá e continuará a pertencer ao Panamá”.
Em seu discurso de posse na segunda-feira, o presidente americano reiterou sua intenção de assumir o controle da hidrovia interoceânica. “A China está operando o Canal do Panamá e nós não o demos à China. Nós o demos ao Panamá e vamos tomá-lo de volta”, disse Trump.

No entanto, o presidente panamenho defende que o canal “não foi uma concessão de ninguém”, mas o resultado de lutas populares e dos tratados assinados em 1977 pelo então presidente Jimmy Carter, segundo os quais o controle do canal foi entregue ao Panamá em dezembro de 1999.
“Não se pode passar por cima do direito internacional público para impor critérios em uma era muito distante da de Teddy Roosevelt”, disse o presidente panamenho em Davos, referindo-se ao presidente dos EUA que supervisionou a construção do canal interoceânico há mais de um século.
Mulino pediu cooperação com Washington em outras questões, principalmente de segurança.

“A partir dessa crise, vamos chamá-la de crise, também deve haver oportunidades de trabalhar em outras questões que nos interessam com os Estados Unidos e nas quais temos trabalhado ao longo do tempo, questões de segurança”, disse ele. “Temos um enorme problema de migração na fronteira com a Colômbia”, disse ele.
O Canal do Panamá, que foi construído pelos Estados Unidos e inaugurado em 1914, tem os Estados Unidos e a China como seus dois maiores usuários.
Saiba mais
China nega interferência no Canal do Panamá
Em um comunicado nesta quarta-feira, a China insistiu que “nunca interferiu” no Canal do Panamá.
“A China não participa na gestão e operação do canal e nunca interferiu nos assuntos do canal”, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Mao Ning./com AFP