Fungo potencialmente letal ataca pacientes com covid na Índia; mortos passam de 4 mil em 24 horas

Infecção também tem afetado muitos que se recuperaram, mas ainda estão com o sistema imunológico enfraquecido

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Por Redação
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MUMBAI - Os médicos na Índia estão preocupados com um número crescente de infecções por fungos potencialmente letais que afetam as pessoas que têm covid-19 ou aquelas que se recuperaram recentemente da doença.

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A condição, conhecida como mucormicose, tem uma alta taxa de mortalidade e estava presente na Índia antes da pandemia. É causada pelo fungo Rhizopus spp, que se desenvolve em ambientes úmidos e pode atacar por meio do trato respiratório, podendo erodir as estruturas faciais e prejudicar o cérebro.

Médicos e especialistas dizem que o fungo parece estar infectando alguns pacientes com covid cujo sistema imunológico enfraquecido e condições subjacentes, particularmente diabetes, os deixam vulneráveis.

Parente de vítima de covid-19 assiste à cremação improvisada de corpos em Nova Délhi, na Índia Foto: Harish Tyagi/EFE/EPA

Alguns especialistas atribuem as infecções fúngicas ao aumento do uso de esteroides para tratar pacientes hospitalizados. Outro fator pode ser que, com os hospitais sobrecarregados nesta segunda onda da covid-19, muitas famílias estão se automedicando e aplicando oxigenoterapia em casa sem a higiene adequada, dizem os especialistas.

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No Estado ocidental de Maharashtra, que inclui a cidade comercial de Mumbai e foi gravemente devastado pela pandemia, a mídia local noticiou que cerca de 200 pacientes que se recuperaram de covid estavam sendo tratados para mucormicose e 8 morreram.

Especialistas em saúde estão acompanhando a situação de perto. “É um fungo que tem forte relação com o diabetes”, acrescentou. “Se a pessoa não é diabética, é muito raro que ela tenha mucormicose”, disse o doutor V.K. Paul, que chefia a força-tarefa da covid na Índia. Mais de 10% da população adulta na Índia tem diabetes, ou seja, 77 milhões de pessoas.

A virulência da pandemia subjugou o frágil sistema de saúde deste país de 1,3 bilhão de habitantes, onde os casos de covid-19 e mortes têm batido recordes a cada dois ou três dias. O número de mortos passou de 4 mil pelo segundo dia consecutivo neste domingo, 9, e o de novas infecções passou de 400 mil em 24 horas. No total, a Índia tem 22,2 milhões de casos e mais de 242 mil mortes - atrás de EUA e Brasil.

No sábado, foram relatados 401.078 casos confirmados, incluindo um recorde de 4.187 mortes. O aumento de casos no país atinge também estados do sul. Com mais de 300 mil registros, a capital de Karnataka, Bengaluru, tem o maior número de casos positivos de qualquer cidade indiana. Mas especialistas alertam que o pior ainda está por vir, pois a terceira maior cidade da Índia sofre com a escassez de oxigênio, hospitais lotados e crematórios lotados.

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Pessoas infectadas com o coronavírus continuam morrendo nas portas de hospitais que colapsaram, apesar da ajuda internacional. E o pior ainda está por vir, segundo especialistas, que esperam um pico no final do mês. Muitos Estados indianos impuseram lockdowns rígidos no mês passado, enquanto outros anunciaram restrições ao movimento público e fecharam cinemas, restaurantes e shoppings. 

O governo vai recrutar centenas de médicos aposentados do Exército para apoiar seu sistema de saúde sobrecarregado, disse neste domingo, 9, o Ministério da Defesa. 

A pressão está aumentando sobre o primeiro-ministro Narendra Modi para anunciar um bloqueio nacional para conter a disseminação do vírus, como fez durante a primeira onda no ano passado. A Associação Médica Indiana (IMA) pediu um bloqueio nacional “completo, bem planejado e preanunciado”, em vez de toques de recolher noturnos “esporádicos”. 

Ainda neste domingo, a cientista chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, advertiu que a nova variante do coronavírus detectada na Índia é mais contagiosa e tem características que podem tornar as vacinas menos eficazes, contribuindo para a expansão da pandemia no país. Em entrevista à AFP, Swaminathan, pediatra e pesquisadora indiana, destacou que a variante B.1.617, detectada pela primeira vez em outubro em seu país, é, sem dúvida, um fator que agravou a epidemia. / NYT, REUTERS e AFP

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