Pequim confina pessoas para conter covid, e revolta por lockdown em Xangai cresce

Governo chinês fechou novos prédios comerciais e residenciais na capital, enquanto protestos contra a política de ‘tolerância zero’ à pandemia se tornam mais visíveis em centro financeiro

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Por Redação
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Pequim fechou mais prédios comerciais e complexos residenciais nesta sexta-feira, 29, e intensificou o rastreio de contatos para conter um surto de covid-19, enquanto a insatisfação pela dura política de isolamento cresce em Xangai.

Autoridades chinesas correm contra o tempo para detectar casos de covid-19 e isolar pessoas que tiveram algum tipo de contato com infectados, mantendo uma custosa política de “tolerância zero” contra o vírus.

Em Pequim, uma placa colocada do lado de fora de um complexo residencial exemplificava o rigor da política: “Entrada apenas. Sem saída”.

Funcionário do governo chinês instala barreira em complexo residencial em lockdown em Pequim. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

O distrito de Chaoyang, em Pequim, primeiro a passar por testes em massa nesta semana, iniciou a última das três rodadas de triagem entre seus 3,5 milhões de habitantes nesta sexta. A maioria dos outros distritos deve fazer sua terceira rodada de testes no sábado.

Além de endereços residenciais, spas, salões, academias, cinemas e bibliotecas e pelo menos dois shopping centers fecharam na sexta-feira.

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Pessoas que visitaram recentemente locais em áreas que as autoridades declararam como “em risco” receberam mensagens de texto dizendo-lhes para permanecerem em casa até receberem os resultados dos testes.

“Olá cidadãos! Vocês visitaram recentemente a loja de macarrão de carne bovina e frango refogado na comunidade de Guanghui Li”, dizia um desses textos. “Por favor, reporte-se ao seu complexo ou hotel imediatamente, fique parado e aguarde a notificação do teste (...) Se você violar os requisitos acima e fizer com que a epidemia se espalhe, você terá responsabilidade legal”.

Seguranças vigiam bloqueio em complexo residencial isolado em Pequim. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

Moradora da capital chinesa, a polonesa Joanna Szklarska, de 51 anos, foi enviada para um hotel de quarentena por ter tido contato próximo com o vírus, mas se recusou a dividir o quarto de apenas uma cama com a vizinha.

Ela foi mandada de volta para casa, onde as autoridades instalaram um alarme na porta da frente. Em seguida, ela foi chamada de volta ao hotel, onde agora tem seu próprio quarto. “Nada faz sentido aqui”, disse a consultora por telefone.

Protestos em Xangai

Sinais frequentes de frustração entre os cidadãos chineses criam um desconforto no Partido Comunista da China, especialmente em um momento em que o presidente Xi Jinping se prepara para tentar um terceiro mandato à frente da sigla.

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Em Xangai, importante centro financeiro do país, pessoas proibidas de deixar suas casas protestam contra a política de tolerância zero. Moradores e uma testemunha da Reuters afirmaram que ‘panelaços’ foram realizados durante à noite.

Moradora de Xangai adere a panelaço contra o lockdown nesta sexta-feira, 29. Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI

Um vídeo compartilhado nas mídias sociais, cuja autenticidade não pôde ser verificada imediatamente, mostrava uma mulher alertando as pessoas por meio de um alto-falante para não protestarem, dizendo que tais gestos estavam sendo incentivados por “outsiders”.

O governo de Xangai não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da agência britânica.

Uma das principais reclamações dos moradores da metrópole chinesa é quanto ao acesso a mantimentos nos locais de isolamento. Embora alguns gargalos tenham sido amenizados, as críticas ao governo continuaram a crescer.

Moradores de alguns distritos ainda reclamam que o abastecimento em suas regiões têm sido menos frequentes do que em outros, usando as redes sociais para comparar as entregas.

Moradores em quarentena se reúnem durante protesto em Xangai. Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI

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O bloqueio também tem levando dezenas de residentes estrangeiros a fugir da cidade mais cosmopolita da China. Embora nenhuma estatística oficial esteja disponível para saídas nas últimas semanas, empresas de transporte de animais de estimação, agentes imobiliários e escritórios de advocacia dizem que estão vendo um aumento acentuado nas consultas, enquanto os grupos online que trocam conselhos sobre como sair aumentaram.

“Até o confinamento eu realmente não conseguia sentir o governo autoritário, porque você é mais ou menos livre para fazer o que quiser e eu nunca vivi oprimida”, disse Jennifer Li, uma estrangeira que está fazendo planos para sua família sair da cidade que tem sido sua casa por 11 anos.

Autoridades chinesas afirmam que mais pessoas estão sendo gradualmente autorizadas a deixar suas casas. Mais de 12 milhões, quase metade da população, estariam agora nessa categoria. No entanto, cerca de 52 mil policiais ainda estão mobilizados para garantir os bloqueios.

Estima-se que 46 cidades chinesas estão atualmente sob bloqueios totais ou parciais, afetando 343 milhões de pessoas. A Société Générale estima que as províncias com restrições significativas de mobilidade respondem por 80% da produção econômica da China.

Estratégia de tolerância zero permanece

Mesmo com os crescentes protestos contra as medidas restritivas, Xi Jinping e o principal órgão de formulação de políticas do Partido Comunista, o Politburo, reafirmaram o compromisso com uma política de “zero-covid” nesta sexta-feira.

O Politburo reconheceu o custo econômico dos bloqueios, dizendo que esforços devem ser feitos para “minimizar o impacto da epidemia no desenvolvimento econômico e social”, informou a agência de notícias oficial Xinhua, sem detalhar nenhuma medida prática.

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Equipe de saúde utiliza equipamento de proteção enquanto se desloca por rua de Xangai. Foto: REUTERS/Aly Song

Apesar do impacto na economia e na vida cotidiana, a abordagem radical de isolamento é exaltada pelo Partido Comunista como uma demonstração virtuosa de auto-sacrifício sob o slogan “Persistência é vitória”. As autoridades frequentemente apontam o número relativamente baixo de mortos na China e acusam os EUA e outros países de desistirem.

Li Bin, vice-ministra da Comissão Nacional de Saúde da China, citou a vasta população chinesa e os recursos médicos insuficientes para justificar as medidas consideradas extremas.

“Se a resposta a covid enfraquecer e liberar o vírus, definitivamente levará a um grande número de infecções em um curto período de tempo e a um grande número de casos graves e mortais”, disse Li em uma entrevista coletiva nesta./ REUTERS e AP