Perfil: Macron, um reformista que viveu protestos, pandemia e uma guerra na Europa

Presidente francês briga pela reeleição com mesma adversária de 2017, a ultradireitista Marine Le Pen;

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Por Redação
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AFP - Desde que chegou ao poder em 2017, o presidente francês, Emmanuel Macron, enfrentou duros protestos contra suas reformas e uma pandemia global, com a mesma determinação com a qual agora opta pela reeleição em meio à guerra na Ucrânia.

Com 27,6% a 29,7% dos votos, segundo as primeiras estimativas, Macron carimbou o passaporte para o segundo turno, no dia 24 de abril, quando voltará a enfrentar a ultradireitista Marine Le Pen (23,5% a 24,7%).

Meses antes de chegar ao Eliseu, Macron já avisara que seria um “presidente jupiterino”, expressão que, segundo o dicionário Larousse, evoca o “caráter dominador e autoritário” do deus romano Júpiter. E não decepcionou.

Presidente da França, Emmanuel Macron, durante comício após os resultados parciais da eleição francesa, na qual ele disputa a reeleição. Imagem é deste domingo, 10 de abril Foto: Benoit Tessier / REUTERS

A crise dos “coletes amarelos” foi seu expoente máximo. Deflagrado em 2018 pelo aumento dos preços dos combustíveis, este protesto se espalhou por toda França para denunciar as medidas deste ex-banqueiro contra as classes populares.

A manifestação sustentou sua imagem de “presidente dos ricos” e desconectado da realidade, conquistada e reforçada com frases polêmicas. Entre elas, quando Macron disse que nas estações de trem “você encontra pessoas que fizeram sucesso e pessoas que não são nada”.

“Acho que cheguei [ao poder] com uma vitalidade que espero continuar tendo e com vontade de sacudir” o sistema, justificou-se em dezembro durante uma entrevista sobre seu mandato, na qual reconheceu “erros”.

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A partir de 2020, a pandemia de coronavírus pôs fim a estes protestos em uma nova França de confinamentos e de máscaras e promoveu o perfil mais “jupiterino” de Macron: “Estamos em guerra” contra a covid-19, destacou então.

Mobilização geral

Sua gestão pessoal da pior crise desde a 2ª Guerra rendeu-lhe ataques da oposição e, apesar da resistência inicial da população, soube ganhar sua confiança e impôs medidas polêmicas, como o passaporte sanitário.

“As crises exigem uma hiperpresidencialização [...]. Nesses momentos, Macron está como um peixe na água”, ao contrário de quando o “mar está calmo”, analisou recentemente a jornalista Corinne Lhaïk no jornal L’Opinion.

A atual ofensiva russa na Ucrânia representa mais uma crise que trouxe à tona a hiperliderança do presidente centrista que, apesar de fracassar em sua tentativa de evitar a guerra, viu suas intenções de voto avançarem nas pesquisas.

Contudo, o avanço recente da candidata de extrema-direita Marine Le Pen - sua principal rival em 2017 - ameaça uma reeleição que parecia garantida, em plena polêmica sobre o uso maciço de consultorias por parte do governo.

Desde o Brexit, passando por tantas eleições, o que parecia improvável aconteceu, assim que digo para vocês com muita ênfase esta noite que nada é impossível

Emmanuel Macron, em seu discurso após votar na eleição francesa

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“Desde o Brexit, passando por tantas eleições, o que parecia improvável aconteceu, assim que digo para vocês com muita ênfase esta noite que nada é impossível”, alertou Macron durante seu único comício, convocando uma “mobilização geral”.

Este jovem político era pouco conhecido até sua nomeação como ministro da Economia em 2014 pelo então presidente francês, François Hollande, depois de ser seu conselheiro econômico.

Três anos depois, Emmanuel Macron, nascido em 1977 em Amiens (norte) em uma família de classe média, tornou-se o mais jovem presidente eleito da França, aos 39 anos, ao final de uma ascensão meteórica de um homem com pressa.

‘Brilhante e carismático’

Em 1995, Macron se graduou com honras no prestigioso Lycée parisiense Henry IV, após o qual obteve o título de mestre em filosofia. Durante seus anos de faculdade, trabalhou como assistente editorial do renomado filósofo francês Paul Ricoeur.

Nos seus tempos de estudante já era “brilhante e carismático”, “um bom orador”, “com um perfil à la Barack Obama”, disse em 2016 Julien Aubert, seu colega na Escola Nacional de Administração (ENA), o antigo centro de formação das elites.

Naquela altura, já havia encontrado o amor de sua vida. Aos 16 anos, apaixonou-se por sua professora de teatro Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha e mãe de três filhos, uma história de amor atípica que cativou a imprensa.

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Trogneux era casada e tinha três filhos, mas se divorciou. O casal que quebrou tabus se casou em 2007.

Se for eleito, o líder europeísta terá de completar seu ambicioso programa de reformas interrompido pela pandemia, em linha com o que é recomendado pela Comissão Europeia para estabilizar sua economia.

Entre suas promessas para transformar a França, estão o “renascimento” da energia nuclear, alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e aumentar a idade de aposentadoria para 65 anos, uma reforma que já gerou protestos multitudinários em 2019 e 2020.

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