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Premiê da Eslováquia flerta com autoritarismo após levar tiro em atentado

Robert Fico demitiu promotores, jornalistas e outros que ele acusa de alimentar ‘ódio e agressão’ que teriam motivado ataque

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Por Andrew Higgins
Atualização:

BRATISLAVA - Quando o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, voltou ao trabalho após se recuperar dos ferimentos a bala de uma tentativa de assassinato em maio, ele divulgou uma mensagem em vídeo intitulada “Eu perdoo e alerto”.

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Desde então, houve poucos sinais de perdão. Fico mais do que cumpriu sua advertência àqueles que considera inimigos políticos. Nas últimas semanas, ele presidiu um expurgo contínuo de promotores anticorrupção, diretores de museus e teatros, jornalistas e outros que ele considera responsáveis por uma atmosfera de “ódio e agressão” que, segundo ele, levou ao ataque.

Enquanto seus partidários aplaudem o que consideram uma limpeza há muito esperada de um sistema dominado por elites liberais, seus críticos veem um ataque vingativo e disperso contra pessoas com pouco em comum além do papel compartilhado como inimigos de Fico e seus aliados de ultradireita em um governo de coalizão.

Fico se reúne com o premiê da Ucrânia, Denys Shmygal, em Kiev; Eslováquia tem adotado posição cada vez mais pró-Rússia Foto: Handout/AFP

Tendências autoritárias

O ritmo tem sido tão rápido, e seu escopo tão amplo, que muitos em Bratislava, a capital de tendência liberal, temem que Fico quer diminuir o espaço para vozes críticas. Na avaliação deles, o premiê estaria levando a Eslováquia ao caminho autoritário traçado por Viktor Orbán, o líder da vizinha Hungria. Fico, assim como Orbán, estaria num curso mais antagônico ao Ocidente e mais amigável com a Rússia.

“Ele realmente mudou física e psicologicamente depois que foi baleado, e isso está se tornando muito perigoso”, disse Lubos Machaj, 70, um jornalista muito respeitado que conhece Fico há anos e perdeu seu emprego como diretor-geral da emissora pública estatal da Eslováquia em julho.

Ele não foi demitido: seu antigo cargo simplesmente deixou de existir depois que o governo liquidou a emissora pública, a RTVS, e criou uma nova, a STVR. Fico “está atacando todos os pilares da nossa democracia”, disse Machaj.

Isso, segundo Lubos Blaha, vice-presidente do partido governista Smer, de Fico, é apenas a “conversa histérica” dos liberais de Bratislava. “Eles dizem que estamos nos tornando mais autoritários e antidemocráticos. Estamos apenas tentando introduzir mais equilíbrio”, disse Blaha, insistindo que as ações foram uma resposta a “um mundo onde o premiê quase foi morto por uma pessoa que sofreu lavagem cerebral dos liberais”.

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O gabinete de Fico não respondeu a um pedido de entrevista. O primeiro-ministro descreveu o homem acusado da tentativa de assassinato —um poeta amador de 71 anos, Juraj Cintula— como um “mensageiro do mal e do ódio político” enviado por seus inimigos.

No entanto, não foram divulgadas evidências de que Cintula tivesse qualquer opinião política fixa ou ligação com os oponentes de Fico. O governo inicialmente o descreveu como um “lobo solitário”, mas depois afirmou que ele poderia ter tido cúmplices.

Justiça e mídia na mira

Logo depois que Machaj foi expulso da emissora pública, o mesmo destino teve Michal Surek, um promotor envolvido em casos de corrupção contra membros e aliados do partido Smer.

O gabinete especial onde ele trabalhava foi extinto em março, mas ele continuou trabalhando em vários casos delicados, incluindo um envolvendo um importante parlamentar membro do Smer. Em julho, o procurador-geral, um aliado de Fico, suspendeu Surek.

Em seguida, um promotor corrupto que Surek havia colocado atrás das grades em 2021 —ao garantir sua condenação por suborno e vazamento de arquivos secretos de investigação— foi libertado da prisão a pedido do ministro do Interior de Fico. “Eles estão se vingando de pessoas que dificultaram a vida deles”, disse Surek.

Orbán fez praticamente o mesmo na Hungria. Depois de anos silenciando vozes independentes, ele transformou a vibrante democracia da Hungria no que é essencialmente um estado de partido único.

Fico também imitou Orbán ao criticar o apoio do Ocidente à Ucrânia, denunciando a Otan e a União Europeia, da qual a Eslováquia é membro. Ele dissolveu alguns escritórios do governo criados para combater a desinformação russa sobre a guerra e outras questões.

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Mas Fico não fez nada para bloquear a ajuda ocidental e permitiu que os fabricantes de armas eslovacos continuassem a vender para a Ucrânia e que outros países transportassem armas destinadas à Ucrânia através da Eslováquia.

Dificuldades no Parlamento

E, ao contrário de Orbán, cujo partido tem uma grande maioria no Parlamento, Fico tem apenas um controle tênue. Seu partido não conseguiu obter a maioria nas eleições de setembro passado, e sua sobrevivência como premiê depende de legisladores do ultranacionalista Partido Nacional Eslovaco.

“Estamos indo na direção da Hungria, mas ainda não chegamos lá”, disse Michal Simecka, líder do principal partido de oposição, o Eslováquia Progressista. “Ainda temos muitos meios de comunicação independentes e algumas instituições independentes, embora, é claro, todas elas estejam agora sob ataque.”

O mais preocupante, disse Simecka, foi a iniciativa do governo de reformular o sistema jurídico para restringir os protestos e dificultar o julgamento de casos de corrupção. Um código penal revisado que entrou em vigor recentemente reduz as sentenças para crimes econômicos e restringe o prazo de prescrição para processos, o que significa que os políticos do partido de Fico —que enfrentaram processos antes da eleição do ano passado— agora têm pouco a temer.

Uma unidade de elite da polícia anticorrupção foi dissolvida em agosto, após a extinção do gabinete especial de Surek.

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