Manifestantes contrários a Mubarak montaram barricadas na Praça Tahrir O primeiro-ministro do Egito, Ahmed Shafiq, pediu nesta quinta-feira desculpas à população do país pelos violentos confrontos ocorridos no dia anterior na capital, Cairo, que deixaram um saldo de cinco mortos e centenas de feridos. "Este é um erro fatal", disse Shafiq à rede privada de TV Al-Hayat. "Quando as investigações revelarem quem está por trás deste crime e quem permitiu que ele ocorresse, eu prometo que eles serão responsabilizados e punidos pelo que fizeram." "Não há qualquer desculpa possível para atacar manifestantes pacíficos, e é por isso que eu estou pedindo desculpas", afirmou o premiê, que pediu ainda que os participantes dos protestos "vão para casa e ajudem a encerrar esta crise". Os choques que eclodiram nessa quarta-feira na Praça Tahrir, no centro do Cairo, entre manifestantes contra e a favor do presidente do Egito, Hosni Mubarak, foram os mais violentos desde o início dos protestos, no dia 25 de janeiro. Tiros O ministro da Saúde, Ahmed Samih Farid, informou que cinco pessoas morreram e 836 acabaram feridas nos confrontos. A ONU estima que mais de 300 pessoas tenham morrido desde o início dos protestos contra Hosni Mubarak. Segundo um dos enviados da BBC ao Cairo, Ian Pannell, manifestantes arremessaram coquetéis molotov durante a madrugada e soldados deram tiros ao alto para tentar conter a multidão. Manifestantes também atearam fogo em diversos pontos da praça. Nesta quinta-feira, já são registrados novos confrontos entre os grupos a favor e contra Mubarak - embora sem a mesma intensidade do dia anterior. O correspondente da BBC Paul Danahar afirma que as pessoas estão jogando pedras umas nas outras. Ele afirma que podem ser ouvidos tiros na praça. Mais cedo, os manifestantes contrários a Mubarak haviam erguido barricadas no centro do Cairo, reforçando suas posições após os confrontos da quarta-feira. Há relatos de que o Exército está se mobilizando para retirar os apoiadores de Mubarak da Praça Tahrir, impedindo-os de chegar à multidão formada por manifestantes de oposição. Os milhares de manifestantes anti-Mubarak afirmam que as declarações feitas pelo presidente na terça-feira, de que não tentará a reeleição mas seguirá no poder até setembro, seriam insuficientes. Eles pedem a saída imediata do presidente. Agressões à imprensa O empresário Ibrahim Kamel, um dos principais apoiadores de Mubarak, disse à BBC que não se sente responsável pela violência da quarta-feira, mesmo tendo feito um pedido público para que os apoiadores do presidente fossem às ruas para se manifestar. "Eu não perdoo o que ocorreu na praça, de maneira alguma. É algo que nós não podemos aceitar enquanto egípcios. Mas eu não posso aceitar que o Egito seja representado somente pelas pessoas na praça", disse Kamel. "As reportagens da BBC e de toda a imprensa estrangeira no Egito infelizmente estavam transmitindo uma ideia para o mundo inteiro que a multidão na Praça Tahrir era o Egito. Não, lamento dizer que eles não são o Egito", afirmou. Há relatos de diversos jornalistas de fora do Egito que acabaram agredidos, verbal ou fisicamente, ou que tiveram equipamentos confiscados. O enviado da BBC a Alexandria Wyre Davis afirma que está ficando cada vez mais difícil para ele, como jornalista estrangeiro, trabalhar na cidade, a segunda maior do país. Ele diz ter sido agredido e atacado verbalmente duas vezes nos últimos dois dias enquanto tentava fazer reportagens em vídeo nas ruas de Alexandria. Manifestantes pró-Mubarak invadiram a praça com cavalos "Existe raiva e tensão dos dois lados, não somente com a crise política, mas também devido à situação econômica cada vez pior aqui", afirmou. Toque de recolher Em pronunciamento à TV estatal do país, o recém-indicado vice-presidente do país, Omar Suleiman, disse ainda que só iniciará negociações com a oposição quando os protestos conta o governo terminarem. "(Para o) diálogo com as forças políticas da oposição é necessário que as demonstrações acabam e as ruas egípcias voltem ao normal", disse ele. Suleiman, que ocupava o posto de chefe da segurança, foi nomeado vice-presidente na semana passada, no que analistas dizem ter sido uma medida adotada pelo governo de Hosni Mubarak para apaziguar os ânimos dos opositores. O vice-presidente pediu para que os manifestantes "voltem para suas casas e obedeçam ao toque de recolher". "Os participantes nas manifestações já transmitiram suas mensagens, tanto pedindo reformas ou dando apoio ao presidente Hosni Mubarak." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.