A Europa está vivendo outra crise -- não da dívida, e sim das uvas. A produção caiu muito, com redução de até 40 por cento em determinadas regiões portuguesas, o que significa que as vinícolas terão menos garrafas para vender dentro de alguns meses. A situação é ainda pior em partes da Borgonha (França), onde chuvas de granizo castigaram os vinhedos de Pommard, Santenay e Volnay, destruindo quase 80 por cento da safra, segundo o Departamento Interprofissional dos Vinhos da Borgonha (BIVB, na sigla em francês). Além do frio e do granizo, os produtores enfrentam também a ameaça do mofo e de outros fungos. Cecile Mathiaud, porta-voz da entidade, observou que as atuais circunstâncias provocam um crescimento desigual dos cachos, condição chamada de "millerandage", que é "ruim para a quantidade, mas geralmente é promessa de qualidade". Um produtor vinícola português, Bernardo Cabral, da Casa Santa Vitória, repetiu a previsão de Mathiaud, dizendo que "felizmente, pequenas bagas estão correlacionadas com alta concentração, então, neste momento, temos vinhos de altíssima qualidade em processo (de fabricação)". David Baverstock, enólogo da vinícola portuguesa Esporão, que está na metade da colheita, disse que "há casos de safras caindo até 40 por cento em relação ao normal, e provavelmente ficará na média entre 20 a 30 por cento (abaixo do habitual)". No Loire, uma das maiores regiões vinícolas da França, a colheita acaba de começar, mas uma redução na quantidade já é esperada. Na Espanha, o conselho regulador dos vinhos da Rioja confirmou que sua safra também ficará reduzida. Mas, segundo email enviado à Reuters por uma porta-voz da entidade, "a boa notícia é que os consumidores não sentirão nenhum efeito dessa safra menos produtiva, já que a Rioja tem reservas suficientes em termos de volume para atender à demanda global". Karl Storchmann, editor da revista da Associação Americana dos Economistas do Vinho, disse que "as leis da oferta e da procura funcionam em qualquer mercado, inclusive no das uvas". "No entanto", prosseguiu, "se o preço das uvas europeias sobe, isso não significa que os preços dos vinhos para o consumidor subirão". "As vinícolas tendem a manter seus preços bastante estáveis -- não muito abaixo nos anos ruins, não muito acima nos anos bons". Vinícolas da Itália e da Grécia também relataram safras reduzidas, mas com boa qualidade.