Projeto de represa na Europa ficou anos paralisado; castores construíram a própria barragem em dias

Castores locais construíram várias represas, economizando ao governo mais de um milhão de euros

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Por Livia Albeck-Ripka (The New York Times)

Por anos, autoridades na República Tcheca tentaram levar adiante um projeto de represa para proteger um rio ao sul de Praga e as espécies criticamente ameaçadas que vivem nele. No entanto, o projeto ficou parado devido a negociações de terras. Enquanto isso, um grupo de mamíferos — conhecidos por suas habilidades de engenharia e ética de trabalho, e sem a burocracia como obstáculo — decidiu assumir a tarefa. Os castores de Praga simplesmente construíram suas próprias represas.

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O trabalho rápido dos roedores economizou cerca de € 1,2 milhão para as autoridades locais, segundo um comunicado da Agência de Conservação da Natureza da República Tcheca, órgão responsável pela preservação ambiental no país.

“A natureza seguiu seu curso”, disse Bohumil Fišer, chefe da Área Protegida da Paisagem de Brdy, onde o projeto de revitalização estava planejado. Os castores, acrescentou, criaram as condições ambientais ideais “praticamente da noite para o dia”.

Castor-europeu em uma área alagada protegida em Vesin, Padrtské rybníky, na Boêmia Central, ao sul de Praga, na Tchéquia Foto: Bohumil Fiser/AFP

“Um trabalho brilhante”

O projeto, planejado para um antigo terreno militar no rio Klabava, cerca de 60 km a sudoeste de Praga, foi elaborado em 2018 e já tinha licença para construção. No entanto, ficou travado por anos devido a negociações sobre o terreno, que havia sido usado como campo de treinamento militar, informou a agência de notícias AFP. As autoridades esperavam construir uma barreira para proteger o rio e sua população de lagostins criticamente ameaçados da sedimentação e da água ácida vinda de dois lagos próximos.

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Os castores começaram a trabalhar antes mesmo que as escavadoras pudessem iniciar as obras. Ainda não está claro exatamente quando as represas foram construídas e quanto tempo levou para terminá-las.

A nova área alagada criada pelas represas cobre quase 2 hectares, o dobro da área planejada pelos humanos, segundo a AFP. “É um serviço completo”, disse Fišer. “Os castores são absolutamente fantásticos, e quando estão em um lugar onde não causam danos, fazem um trabalho brilhante.”

“Nugget gigante para predadores”

Apesar de suas impressionantes habilidades de construção, os castores frequentemente geram reclamações de proprietários de terras e agricultores por destruírem árvores, comerem plantações e alagarem estradas e campos. No entanto, ao reduzirem a cobertura das árvores, eles podem diversificar o ecossistema, permitindo que a luz do sol alcance outras espécies vegetais, explicou Emily Fairfax, professora assistente de ecologia na Universidade de Minnesota.

“Eles mudam fundamentalmente a forma como a água e a vida se movimentam na paisagem”, disse ela.

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Para construir uma represa, os castores, que podem pesar entre 18 e 36 kg na fase adulta, começam empilhando pequenas pedras em um rio ou riacho, compactando-as com lama e repetindo o processo até formarem um lago, que então expandem para criar uma área alagada, explicou Fairfax.

O que os motiva é o medo de predadores: os castores são excelentes nadadores e conseguem prender a respiração por até 15 minutos debaixo d’água. Porém, em terra firme, seu andar desajeitado os torna presas fáceis. “Basicamente, eles são um nugget gigante para predadores”, disse ela, citando ursos, pumas e lobos como exemplos.

“Poderosos, grandes e difíceis de encontrar”

A represa na República Tcheca não é a primeira que esses roedores ajudam a criar uma área alagada. Castores na Califórnia já restauraram uma planície de inundação a cerca de 50 km ao nordeste de Sacramento, o que também gerou economia para as autoridades locais. “Tudo o que eles tiveram que fazer foi deixar os castores lá”, disse Fairfax.

Em muitos casos, o trabalho dos castores passa despercebido. “Temos uma espécie de cegueira para os castores”, comentou, observando que eles costumam ser vistos como um incômodo por causa de seu tamanho e da capacidade de alterar rapidamente o ambiente.

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“Eles são poderosos, grandes e difíceis de encontrar”, disse Fairfax, acrescentando que, apesar de seu talento como engenheiros, eles representam um desafio para grupos de conservação ao planejarem projetos de restauração.

“Muitas vezes, não queremos permitir que os castores tomem as decisões porque é difícil planejar diante dessa incerteza; é difícil entregar o controle a um roedor aquático gigante”, disse ela. “Mas é exatamente aí que os castores se destacam.”

c.2024 The New York Times Company

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

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