A revolução islâmica do Irã, em 1979, derrubou a ditadura corrupta e violenta do xá Rehza Palevi, sustentada por um enorme apoio popular, de setores que abrangiam desde lideranças seculares e liberais ao clero xiita. O regime instalado após o levante tornou-se tão ou mais autoritário e violento quanto o anterior. Nos últimos dias, surgiu na imprensa americana, israelense, e até na brasileira,o temor de que a onda de recentes manifestações no Egito possa dar lugar a um regime islâmico similar ao do Irã.
O próprio país persa incentivou as comparações ao elogiar os levantes na Tunísia e no Egito. "Os líderes ocidentais ainda não querem ver a realidade. O novo Oriente Médio será islâmico", disse o aiatolá Ahmad Khatami, membro da linha dura da teocracia xiita.
O imã do Cairo, Safwad Hagazi, no entanto, pensa diferente. Segundo ele, os protestos no Egito são fruto de revolução popular e não islâmica. "O que vemos é uma revolta de todo o Egito. Cristãos e muçulmanos estão do mesmo lado, que é a democracia. Não há risco de que os protestos sejam uma repetição do que ocorreu no Irã. Não temos Aiatolás.", disse.
Em artigo na revista Foreign Policy, a jornalista americana Geneive Abdo, diretora do programa sobre o Irã no think thank National Security Network, expõe diferenças entre a revolução islâmica persa e as revoltas que têm abalado o mundo árabe.
Segundo a autora, quem compara o Cairo de 2011 com a Teerã de 1979 não conseguiu compreender as origens da revolução islâmica e nem o caráter não-ideológico da revolta no Egito. O movimento xiita amalgamou uma ampla diversidade de correntes da sociedade, mas tinha um líder definido e carismático: o aiatolá Ruhollah Khomeini.
No Egito, o papel da Irmandade Muçulmana tem sido de coadjuvante. O tradicional grito 'O Islã é a solução' não é ouvido na praça Tahrir, nota a jornalista. Além disso, ao contrário do Irã, as manifestações desencadeadas pela Revolução de Jasmin não têm um líder. Por fim, a boa imagem do Exército junto à população faz com que a oposição evite um choque violento com as Forças Armadas.
A autora conclui dizendo que ao invés de fazer analogias errôneas entre o Irã de 1979 e o Egito de hoje, o Ocidente deveria aceitar o fato de que qualquer um que assuma um governo pós-Mubarak terá algum grau de refração às políticas americanas, qualquer que seja o tamanho da Irmandade Muçulmana no governo