O chanceler de Timor Leste, José Ramos-Horta, disse nesta sexta-feira a diplomatas que o primeiro-ministro Mari Alkatiri deve entregar no sábado sua renúncia ao Comitê Central de seu partido Fretilin, informou a agência portuguesa Lusa. "O primeiro-ministro decidiu renunciar. A decisão foi comunicada ao presidente Xanana Gusmão pelo presidente do Parlamento Nacional, Lu´Olo", indicou um comunicado distribuído pela chancelaria. O documento também indicou que Ramos-Horta - que também está acumulando o Ministério da Defesa após a demissão do ministro por causa da crise - estava se preparando para retornar à Fretilin, que ele ajudou a fundar, mas que acabou abandonando. Xanana voltou atrás em sua ameaça de renunciar nesta sexta-feira caso Alkatiri não atendesse a seu pedido para que deixe o cargo. Falando a uma multidão reunida em Díli que pedia a saída de Alkatiri, Xanana disse a seus partidários que não os abandonará enquanto o país busca uma solução para a crise, desencadeada por semanas de violentos distúrbios que deixaram 30 mortos e levaram mais de 100 mil pessoas a deixar suas casas na capital. Xanana, um ex-líder guerrilheiro reverenciado por ajudar Timor Leste a obter sua independência da Indonésia, diz que Alkatiri deve assumir sua responsabilidade pelos distúrbios. Para muitos timorenses, Alkatiri desatou a crise ao demitir em março 600 soldados que se queixavam de maus-tratos e discriminação. Revoltados, eles saíram às ruas para protestar e acabaram entrando em confronto com a polícia. Gangues se aproveitaram da situação para saquear e incendiar casas e lojas. Alkatiri também é acusado de ter contratado um grupo de mercenários para eliminar seus opositores e os soldados rebeldes que pediam sua renúncia. O primeiro-ministro nega a acusação. O ex-ministro do Interior Rogério Lobato - um grande aliado de Alkatiri - foi preso na quinta-feira sob a acusação de armar o grupo de mercenários e tentativa de revolução. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, telefonou nesta sexta-feira pela manhã a Xanana e ao representante da organização em Timor Leste, Sukehiro Hasegawa, que visitou o presidente para pedir que não renuncie. "A permanência de Xanana Gusmão é indispensável para a manutenção da estabilidade e a paz em Timor Leste", disse Hasegawa em um comunicado.