LONDRES - Um ex-líder de uma gangue de Londres mostrou-se favorável aos protestos que tomaram conta da capital e de outras cidades britânicas nesta semana e afirmou que trata-se de um 'fruto inevitável" das frustrações da juventude do país, e não de um simples ato de violência promovido por vândalos.
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Elijah Kerr, que transformou sua gangue em uma organização que ajuda jovens britânicos, disparou duras críticas contra o primeiro-ministro David Cameron, que sugeriu que as gangues tiveram papel crucial na coordenação dos distúrbios. "O que aconteceu é a frustração, a tensão, que transbordaram. É como uma panela de pressão. O fogo está ali, queimando, e aí alguém abre a porta e ele se espalha", disse Kerr.
Segundo ele, os saques e a violência que ocorreram durante cerca de quatro dias aconteceriam em qualquer sociedade onde gerações de jovens são excluídas. "Estou falando de onde venho, onde cresci, onde as pessoas não tem esperança, foram esquecidas", disse o antigo líder da PDC (Pil Dem Crew, algo como "Bando dos Roubos"). "Isso foi se acumulando por anos, talvez por uns cinco anos ou mais. Aconteceria de qualquer forma", disse ele, que cresceu em Brixton, no sul londrino.
Na quinta-feira, depois de quatro noites de violência em Londres e outras cidades importantes, como Birmingham, Manchester e Liverpool, Cameron declarou guerra contra as gangues, a quem responsabilizou pelo distúrbios, negando que os planos de austeridade e a pobreza de algumas regiões tenham contribuído para a explosão das revoltas. Kerr disse que os comentários do premiê são completamente infundados.
Kerr, agora com 31 anos, entrou para as gangues londrinas ainda criança. Ele se envolveu com drogas e foi para a prisão várias vezes. Durante os últimos anos, porém, deixou a vida como um jovem violento e se dedicou a transformar seu grupo em um órgão destinado ao desenvolvimento artístico de jovens de comunidades pobres em Londres.
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As revoltas tiveram início na noite do último sábado, após a morte de um vigia baleado pela polícia em Tottenham, no norte londrino. Em todo o país, mais de 1.900 pessoas foram detidas, sendo a maioria em Londres, e cerca de 600 já foram indiciadas. Uma pessoa morreu baleada em Croydon, três atropeladas em Birmingham e outra não resistiu a ferimentos que sofreu enquanto tentava apagar um incêndio em Londres.