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Rússia afirma que objetivo militar vai além do leste da Ucrânia, e Kiev pede mais armas ao Ocidente

Após alertas dos EUA, Moscou disse que suas ambições territoriais mudaram para incluir uma faixa do sul do país; primeira-dama da Ucrânia pede sistemas de defesa aérea no Congresso dos EUA

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Por Redação
Atualização:

MOSCOU - Contrariando as falas iniciais do presidente Vladimir Putin ao invadir a Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta-feira, 20, que os objetivos militares da Rússia vão além dos territórios do leste ucraniano, onde ficam as províncias de Donetsk e Luhansk - em um momento em que Kiev aumenta os pedidos por armamentos modernos.

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Em declaração à agência estatal russa RIA Novosti, Lavrov disse que os objetivos territoriais do país mudaram para incluir uma faixa do sul da Ucrânia, apontando falhas nas negociações de paz e mudanças no terreno. “Este é um processo em andamento”, disse o chanceler, acrescentando que os objetivos da Rússia podem se expandir ainda mais se os países ocidentais entregarem mais armas de longo alcance à Ucrânia.

A afirmação do chanceler russo demonstra um afastamento das alegações do Kremlin de que a Rússia não está travando uma guerra de expansão imperial na Ucrânia.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta que os objetivos de Moscou mudaram para incluir territórios do sul da Ucrânia Foto: SERGEI KARPUKHIN/REUTERS

Ao falar das armas ocidentais, Lavrov mencionou especificamente os lançadores de foguetes múltiplos HIMARS que os Estados Unidos entregaram à Ucrânia e que foram fundamentais para limitar os avanços russos ao atingir alvos distantes, incluindo depósitos de munições e instalações de infraestrutura importantes.

Como a Ucrânia intensificou os ataques às forças russas no sul da Ucrânia em um possível prelúdio para uma contraofensiva em larga escala, Lavrov disse que Moscou também está de olho nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia no sul da Ucrânia, partes das quais estão ocupadas pelas forças russas, bem como “vários outros territórios”.

Em seu discurso de fevereiro anunciando a invasão da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin afirmou que a Rússia não pretendia ocupar o país ou “impor nada a alguém pela força”, mas sim “desmilitarizar” a Ucrânia. O governo ucraniano e seus aliados ocidentais descartaram o raciocínio de Putin como apenas pretexto.

Autoridades ucranianas disseram que os objetivos da Rússia foram claros desde o início e permanecem inalterados: a destruição da Ucrânia como nação soberana e a aniquilação da cultura ucraniana, evidenciada pelo bombardeio implacável da Rússia, bloqueio naval aos portos ucranianos e a deportação de centenas de milhares de ucranianos para a Rússia.

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Depois que a Rússia não conseguiu capturar rapidamente a capital Kiev, no estágio inicial da guerra, a narrativa de Moscou começou a mudar, com Putin citando a proteção de repúblicas separatistas pró-Rússia na região leste de Donbas do país como o principal objetivo do Kremlin.

Desde que reduziu suas ambições declaradas publicamente, Moscou redirecionou a maior parte de suas forças de combate para uma campanha extenuante destinada a reivindicar território no leste. Depois de tomar o controle da província de Luhansk, que com a vizinha província de Donetsk compõe o Donbas, a Rússia não obteve ganhos notáveis em mais de duas semanas.

O governo russo está sob pressão de blogueiros militares pró-guerra, um grupo cada vez mais vocal que critica o desempenho do exército e continua pressionando o Kremlin a expandir suas ambições territoriais.

Já na última terça-feira, 19, a Casa Branca reafirmou sua previsão de que a Rússia tentará anexar mais território ucraniano, alertando que Moscou pretende reivindicar como suas próprias grandes áreas do leste e sul do país ainda este ano.

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“A Rússia está começando a lançar uma versão do que você poderia chamar de ‘manual de anexação’”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, citando o que chamou de “ampla evidência” reunida pela inteligência ocidental e já “no domínio público”, indicando que o presidente Vladimir Putin quer tomar Kherson, Zaporizhzhia e a região de Donbas “em violação direta da soberania da Ucrânia”.

A Rússia aperfeiçoou seu “manual de anexação” em 2014, quando ocupou a Península da Crimeia e a submeteu a um referendo, efetivamente colocando a região sob o domínio russo. Continua sendo uma parte de fato da Rússia, apesar dos esforços da comunidade internacional para condenar e punir Moscou pela mudança.

Putin nunca tentou um movimento semelhante com as partes das regiões de Donetsk e Luhansk que caíram sob o controle de separatistas pró-Rússia durante os intensos combates em Donbas que se seguiram à anexação da Crimeia. Mas Kirby disse que a Rússia está se preparando para tal apropriação de terras, e fazendo isso com maior urgência, à medida que pressiona lentamente sua ocupação mais profundamente no território ucraniano.

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Vista de um shopping destruído na cidade de Kherson em 20 de julho. Kherson, junto com Zaporizhzhia, entrou nas ambições de anexação da Rússia Foto: AFP

Mais armas

Em meio à mudança no discurso de ambições da Rússia, a primeira-dama ucraniana Olena Zelenska dirigiu-se ao Congresso americano nesta quarta, fazendo um raro apelo pessoal como a esposa de um líder estrangeiro para que os Estados Unidos forneçam à Ucrânia sistemas de defesa aérea, já que a invasão russa da Ucrânia entra em seu sexto mês.

Em um discurso breve, mas emocionado, Zelenska falou sobre as condições cada vez mais terríveis de segurança, econômicas e humanitárias no terreno na Ucrânia.

“Quero me dirigir a você não como primeira-dama, mas como filha e mãe”, disse Zelenska em ucraniano, enquanto uma mulher traduzia seu discurso para o inglês, quase a ponto de chorar em determinados momentos. “Não importa quais posições e títulos alcançamos em nossas vidas, antes de tudo, sempre continuamos fazendo parte de nossa família. Esta é a grande verdade de nossa vida. Nossa família representa o mundo inteiro para nós e faríamos tudo para preservá-la.”

A presidente da Câmara dos EUA Nancy Pelosi e a primeira-dama ucraniana Olena Zelenska participam de uma reunião com membros do Congresso dos Estados Unidos, no Capitólio, em Washington Foto: Jabin Botsford/Reuters

Zelenska observou que ela foi a primeira esposa de um líder estrangeiro a discursar no Congresso e que as primeiras-damas geralmente estão “envolvidas exclusivamente em assuntos pacíficos”.

Os “Jogos Vorazes” da Rússia estão destruindo famílias e cidades pacíficas na Ucrânia, disse ela, fazendo referência à série de filmes e livros distópicos onde um grupo de crianças deve lutar até a morte – e a devastação nunca seria transmitida no noticiário russo, acrescentou. “É por isso que estou mostrando aqui”, disse Zelenska.

Ela encerrou seu discurso com um apelo por mais armas, dizendo que a guerra na Ucrânia não havia acabado e que a resposta estava em Washington, onde os legisladores americanos poderiam se entregar à normalidade de planejar com meses de antecedência.

“Estou pedindo armas – armas que não serão usadas para travar uma guerra na terra de outra pessoa, mas para proteger a própria casa e o direito de fazer uma vida nessa casa”, disse Zelenska. “Estou pedindo sistemas de defesa aérea para que os foguetes não matem crianças em seus carrinhos, matem famílias inteiras.”

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As declarações de Zelenska ao Congresso ocorrem menos de dois meses depois que o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda de US$ 40 bilhões para a Ucrânia em maio, que incluiu US$ 20 bilhões em ajuda militar, quase US$ 8 bilhões em ajuda econômica, quase US$ 5 bilhões em ajuda alimentar global e mais de US$ 1 bilhão em apoio combinado para refugiados./NYT e W.POST

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