Rússia e China realizam exercícios militares durante visita de Biden à Ásia

Este é o primeiro exercício militar conjunto entre os dois países após a invasão da Ucrânia por Moscou; Japão chamou a medida de ‘provocação’

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Por Redação
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WASHINGTON - A China e a Rússia realizaram nesta terça-feira, 24, seu primeiro exercício militar conjunto desde a invasão da Ucrânia por Moscou, enviando bombardeiros pelos mares do nordeste da Ásia como uma demonstração de força enquanto o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitava a região.

O governo dos Estados Unidos estava acompanhando o exercício militar, disse um alto funcionário americano, enquanto Biden se reunia em Tóquio com os líderes da Austrália, Japão e Índia, nações parceiras da chamada coalizão Quad, formada em parte para combater o poder chinês na região do Indo-Pacífico.

A atividade militar foi um sinal significativo de que a parceria entre a China e a Rússia não enfraqueceu, mesmo quando a guerra de três meses na Ucrânia resultou em milhares de mortes de civis.

Os bombardeiros sobrevoaram o Mar do Japão e continuaram para o sul em direção ao Mar da China Oriental e ao Mar das Filipinas, disse a autoridade dos EUA, falando sob condição de anonimato ao The New York Times.

Um bombardeiro russo TU-95 e bombardeiros chineses H-6 sobrevoam o Mar da China Oriental nesta foto tirada pela Força de Autodefesa Aérea do Japão e divulgada pelo Gabinete do Estado-Maior Conjunto do Ministério da Defesa do Japão em 24 de maio de 2022 Foto: Divulgação/Gabinete do Estado-Maior Conjunto do Ministério da Defesa do Japão via Reuters

A Coreia do Sul emitiu um comunicado confirmando o exercício, dizendo que duas aeronaves militares chinesas e quatro aviões de guerra russos entraram em sua zona de identificação de defesa aérea na costa leste do país, sem invadir seu espaço aéreo.

A patrulha faz parte de um exercício militar anual, disse o Ministério da Defesa da China em seu site oficial. Os dois países já haviam realizado essas patrulhas em 2019, 2020 e 2021, mas na segunda metade do ano.

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Exercícios conjuntos envolvendo bombardeiros estratégicos são complexos e normalmente são planejados com bastante antecedência. O funcionário do governo americano se recusou a dar detalhes imediatos sobre o número de bombardeiros envolvidos ou como os Estados Unidos estavam rastreando o exercício.

“Achamos que isso mostra que a China continua disposta a se alinhar estreitamente com a Rússia, inclusive por meio da cooperação militar”, disse o funcionário. “A China não está se afastando da Rússia. Em vez disso, o exercício mostra que a China está pronta para ajudar a Rússia a defender seu leste enquanto a Rússia luta em seu oeste.”

O alto funcionário acrescentou que o exercício de bombardeio indicava que a Rússia ficaria com a China em suas disputas territoriais com vizinhos no Mar do Leste e do Sul da China.

Bombardeiro estratégico russo Tu-95 decola durante exercícios aéreos militares russo-chineses para patrulhar a região da Ásia-Pacífico, em local não identificado, nesta imagem tirada de um vídeo divulgado em 24 de maio de 2022 Foto: Divulgação/Ministério da Defesa da Rússia via Reuters

O presidente russo Vladimir Putin tentou fortalecer os laços da Rússia com a China como uma nação que se opõe ao domínio ocidental. Em 4 de fevereiro, quando Putin visitou Pequim para as Olimpíadas de Inverno e se reuniu com o presidente Xi Jinping pela 38ª vez como líderes nacionais, seus governos emitiram uma declaração de 5.000 palavras que declarava que as duas nações tinham uma parceria “sem limites” .

Autoridades dos EUA dizem que ainda não têm indicação de que Pequim forneceu apoio material à guerra da Rússia na Ucrânia, uma medida que eles alertaram que poderia desencadear sanções à China semelhantes a algumas das medidas abrangentes que Washington e seus aliados adotaram contra Moscou.

Protestos japoneses

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O ministro da Defesa do Japão, Nobuo Kishi, disse que seu país protestou por meio de seus canais diplomáticos depois que os bombardeiros voaram perto de seu território. Segundo ele, o governo de seu país transmitiu “graves preocupações” oficialmente junto a Pequim e Moscou.

“Dois bombardeiros chineses se uniram a dois bombardeiros russos no Mar do Japão e realizaram um voo conjunto no Mar da China Oriental”, informou Kishi à imprensa. “Depois disso, um total de quatro aviões, dois supostos novos bombardeiros chineses - que substituíram os dois bombardeiros anteriores - e dois bombardeiros russos, realizaram um voo conjunto do Mar da China Oriental ao Oceano Pacífico”, acrescentou.

Kishi disse que um avião de inteligência russo também voou do norte da ilha de Hokkaido até a península de Noto, no centro do Japão, nesta terça, e classificou essas manobras de “provocativas”, tendo em conta a cúpula em Tóquio.

“Acreditamos que o fato de esta ação ter sido tomada durante a cúpula do Quad a torna mais provocativa do que no passado”, disse ele, acrescentando que foi o quarto incidente desse tipo desde novembro.

Viagem de Biden

Não ficou claro se os exercícios foram planejados para coincidir com a primeira viagem de Biden como presidente à Ásia, onde visitou os aliados Coreia do Sul e Japão, e na terça-feira se juntou aos líderes democráticos do Japão, Índia e Austrália para seu segundo encontro presencial.

Biden enfatizou durante a viagem, destinada em parte a combater a crescente influência da China na região, que os Estados Unidos estarão com seus aliados e parceiros para pressionar por uma região do Indo-Pacífico livre e aberta.

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Um dia depois de declarar que seu país defenderia a ilha de Taiwan em caso de invasão da China, Biden afirmou nesta terça que a política dos Estados Unidos de “ambiguidade estratégica” permanece inalterada.

O primeiro-ministro australiano Anthony Albanese, o presidente dos EUA Joe Biden, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi Foto: STR / AFP

“Não” respondeu Biden ao ser questionado por jornalistas se a política havia sido suprimida. “A política não mudou em nada. Eu disse ontem quando fiz minha declaração”.

Funcionários de alto escalão do governo americano também explicaram na segunda-feira que a política de Washington para Taiwan não foi alterada.

A política consiste em fornecer armas à ilha pretendida por Pequim, ao mesmo tempo que reconhece a soberania legal da China e expressa uma “ambiguidade estratégica” sobre se as tropas americanas atuariam em um conflito.

Na segunda-feira, ao ser questionado se Washington se envolveria militarmente na defesa de Taiwan, Biden respondeu “sim”. Taiwan celebrou a resposta, enquanto Pequim reagiu com irritação e advertiu que Washington estava “brincando com o o fogo”./AFP, REUTERS e NYT