O importante navio de guerra da Rússia Moskva afundou nesta quinta-feira, 14, após uma explosão cuja origem é alvo de disputa entre russos e ucranianos, confirmou o governo de Moscou. Kiev alega ter atingido o navio com um míssil no Mar Negro, enquanto Moscou diz que a causa foi um incêndio. De qualquer forma, a perda da embarcação, a principal da frota russa no Mar Negro, é um enorme revés para a Rússia, já que suas tropas estão se reagrupando para uma nova ofensiva no leste, depois de se retirarem de grande parte do norte, incluindo a capital, Kiev.
A Rússia disse que um incêndio a bordo do Moskva, um navio de guerra que normalmente teria 500 marinheiros a bordo, forçou toda a tripulação a se retirar. Mais tarde, disse que o fogo havia sido contido e o navio seria rebocado para o porto com seus lançadores de mísseis guiados intactos. Depois confirmou que ele tinha afundado.
O navio carregava 16 mísseis, de acordo com um analista militar, e sua retirada do combate reduz bastante o poder de fogo da Rússia no Mar Negro. O ataque ucraniano, que não pôde ser confirmado, representaria um grande golpe no prestígio russo sete semanas depois de uma guerra que já é amplamente vista como um erro histórico.
O secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby, disse em entrevista à rede americana CNN que os Estados Unidos detectaram uma enorme explosão no navio, que teria causado “grandes danos”, mas não era possível confirmar se um míssil o atingiu.
“A explosão foi grande o suficiente para pegarmos indicações de que outras embarcações ao redor do navio tentaram ajudá-lo, e então, eventualmente, isso não foi necessário”, disse, acrescentando que o navio estaria agora se deslocando pelo Mar Negro provavelmente para reparos em Sevastopol.
“Não temos capacidade neste momento para verificar as alegações da Ucrânia de forma independente”, disse o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, nesta quinta. Ainda assim, ele chamou de “um grande golpe para a Rússia”.
“Eles tiveram que escolher entre duas histórias: uma é que era apenas incompetência, e a outra era que eles foram atacados, e nenhuma delas é o bom resultado para eles”, disse Sullivan.
Uso de míssil Netuno
O governador da região de Odesa ao longo do Mar Negro, Maxim Marchenko, disse no Telegram que as forças do país atingiram o navio com mísseis Netuno. Um alto funcionário ucraniano, falando sob condição de anonimato ao The New York Times, disse que esta foi a primeira vez que o míssil, desenvolvido na Ucrânia, foi usado na guerra.
Qualquer que seja a causa da explosão do navio, foi uma poderosa vitória simbólica para os militares ucranianos, um constrangimento para Moscou e – se um Netuno foi de fato usado – uma demonstração do poder que novas armas poderiam ter na formação da guerra. Seria o primeiro ataque ucraniano bem-sucedido a um grande navio de guerra russo no mar e não no porto.
Navios da Frota do Mar Negro da Rússia estão no mar desde o início da guerra, lançando periodicamente foguetes ou mísseis contra alvos dentro da Ucrânia. A frota cortou o acesso da Ucrânia ao Mar Negro, removendo uma importante tábua de salvação econômica.
A perda do Moskva fornece um impulso moral para as forças ucranianas, mas é improvável que mude o curso da guerra. As forças russas estão prestes a tomar a estratégica cidade portuária de Mariupol, o que abriria caminho para a criação de uma “ponte terrestre” entre o território russo e a península ocupada da Crimeia.
O Moskva, com quase 700 tripulantes, era o orgulho da frota naval russa no Mar Negro. Foi originalmente construído na era soviética no porto ucraniano de Mykolaiv - a cidade onde as forças ucranianas montaram no mês passado uma defesa vigorosa que impediu o avanço russo em direção a Odesa.
Os ucranianos há muito têm a capacidade de atacar navios russos estacionados perto de suas águas territoriais, mas o Netuno dá às forças de defesa territorial do país um alcance muito maior. O míssil, que é baseado no sistema soviético AS-20 “Kayak” e é semelhante ao míssil Harpoon, construído nos EUA, pode atingir alvos a até 300 km da costa.
Enquanto a Marinha russa posicionou sua frota de forma ameaçadora no Mar Negro nas semanas anteriores à guerra, a Ucrânia correu para preparar defesas e seus militares descreveram o Netuno como uma arma vital sendo adicionada ao seu arsenal.
Não está claro quantos mísseis Netuno a Marinha da Ucrânia possui. Mas se foi um Netuno que atingiu o Moskva, seria uma demonstração da eficácia da arma. Os ucranianos pedem ao Ocidente que entregue armas anti-navio sofisticadas desde o início da guerra.
O Pentágono estima que a Marinha Russa tenha “algumas dúzias de navios” no Mar Negro e no Mar de Azov, e a Ucrânia teve dificuldade em combater o domínio naval da Rússia.
Concentração no leste
A perda do Moskva seria outro golpe para a campanha vacilante de Vladimir Putin, que entra em seu 50º dia na guerra, enquanto se prepara para um novo ataque na região leste de Donbas que provavelmente definirá o resultado do conflito.
As forças russas se retiraram de algumas partes do norte da Ucrânia depois de sofrerem pesadas perdas e não conseguirem tomar a capital Kiev. A Ucrânia e seus aliados ocidentais dizem que Moscou está se redistribuindo para uma nova ofensiva.
“As forças russas estão aumentando suas atividades nas frentes sul e leste, tentando vingar suas derrotas”, disse o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, em um discurso em vídeo na noite de quarta-feira, 13.
A vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar, disse que a Rússia está concentrando tropas não apenas ao longo da fronteira Rússia-Ucrânia, mas também na região separatista da Transnístria, em Belarus, e da Moldávia.
O governo da Moldávia acusou separadamente o Exército da Rússia de tentar recrutar moldavos. O Ministério das Relações Exteriores de Moscou não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Autoridades da Transnístria, que faz fronteira com o sul da Ucrânia, negaram que a Rússia esteja preparando forças para ameaçar a Ucrânia.
As regiões de Kharkiv, Donetsk e Zaporizhzhia, no leste do país, estão sendo atingidas por ataques de mísseis, disse Malyar. O governador de Kharkiv disse que o bombardeio matou quatro civis. /AP, REUTERS e NYT