MOSCOU - Um dia após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que a Ucrânia pode ou não se tornar parte da Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, usou a declaração para justificar as anexações russas no país que invadiu. Segundo ele, uma “parte significativa” dos ucranianos quer fazer parte do território russo.
Em entrevista à Fox News transmitida na noite de segunda-feira, Trump comentava as incertezas sobre um acordo de paz para a guerra na Ucrânia quando se referiu à possibilidade de o país se juntar ao vizinho. “Eles podem fazer um acordo ou podem não fazer. Eles podem se tornar russos algum dia ou podem não se tornar”, declarou Trump.

Em resposta, o porta-voz do Kremlin disse nesta terça-feira que é um fato que parte da Ucrânia quer se tornar Rússia. Ele citou referendos realizados em territórios ocupados por forças russas ou apoiadas pela Rússia que, segundo ele, mostraram apoio à anexação. Em setembro de 2022, Moscou declarou que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia faziam parte da Rússia. Os referendos, porém, não foram reconhecidas pela comunidade internacional.
O retorno ao poder de Trump, que prometeu acabar com “a carnificina” da guerra no seu primeiro dia no cargo, reacendeu as especulações em torno das negociações de paz.
Troca de território
Em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, divulgada nesta terça, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, indicou estar aberto à possibilidade de uma troca de território com a Rússia como parte de eventual negociação para encerrar a guerra.
“Se o presidente Donald Trump conseguir levar a Ucrânia e a Rússia para a mesa de negociações, trocaremos um território por outro”, indicou Zelenski, sem especificar quais regiões poderiam ser negociadas. “Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há prioridade”, afirmou.
O presidente ucraniano reforçou estar disposto a abrir um diálogo pelo fim da guerra, desde que a partir de uma posição de forças. Segundo o jornal, Zelenski diz que oferecerá a empresas americanas contratos lucrativos para a reconstrução do país após o conflito.
A volta de Trump ao poder também colocou a ajuda americana aos ucranianos em xeque. Trump falou em condicionar essa ajuda e declarou querer negociar um acordo com Kiev que possa oferecer como garantia suas terras raras. Essas áreas abrigam materiais usados principalmente na indústria eletrônica.
Segundo Zelenski, a proteção da Ucrânia depende dos EUA e afastou a possibilidade de a Europa, sozinha, conseguir oferecer garantias de segurança a seu país. Ele afirmou ainda que uma missão pacífica da ONU não ajudaria a acabar com o conflito, a não ser que fosse acompanhada por garantias de que lutaria contra a Rússia se Moscou retomasse as hostilidades.
“Serei franco com você, não acho que as tropas da ONU ou algo semelhante tenham realmente ajudado alguém na história”, acrescentou./AP e AFP