Encorajados por uma vitória eleitoral que representa uma autêntica dor de cabeça para o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy, os partidos independentistas da Catalunha enfrentam nesta sexta-feira o desafio de governar com seus líderes na prisão ou no exterior.
O ex-líder catalão Carles Puigdemont, suspeito na Espanha de sedição e rebelião, propôs nesta sexta-feira a Rajoy uma reunião no exterior e deixou no ar a possibilidade de um retorno ao país, o que certamente resultaria em sua detenção. Rajoy rejeitou a proposta.
Ao ser questionado sobre seu retorno à Espanha - que provavelmente o levaria à prisão - o presidente catalão, destituído poucas horas depois de proclamar a independência em 27 de outubro, o condicionou à existência de garantias. "Se tomar posse como presidente, isto quer dizer que existem todas as garantias de uma democracia que permite que a vontade dos catalães se torne efetiva", disse. "Tenho que tomar posse como presidente e tenho que entrar no palácio da Generalitat", completou.
Derrota
A vitória dos independentistas é um golpe para Rajoy, que decretou uma intervenção na autonomia catalã depois da frustrada proclamação de independência e convocou as eleições, nas quais seu Partido Popular conseguiu apenas três deputados, contra 11 na legislatura anterior.
Para ser presidente catalão, Puigdemont teria primeiro que ser deputado e para assumir o mandato é imprescindível que o faça pessoalmente, segundo as leis. O mesmo acontece com os outros sete dirigentes independentistas que estão na Bélgica ou presos e que na quinta-feira conquistaram uma cadeira no Parlamento.
Nesta sexta-feira, o Tribunal Supremo espanhol anunciou que está investigando como suspeitos por supostos delitos de rebelião, sedição e fraude outros seis políticos independentistas catalães.
Entre os novos investigados estão a deputada reeleita Marta Rovira, número dois da Esquerda Republicana da Catalunha, duas dirigentes do partido anticapitalista e secessionista CUP, Anna Gabriel e Mireia Boya, e o ex-presidente regional Artur Mas.
Os seis novos casos se somam aos 22 já investigados pelo Tribunal Supremo por seu papel no processo separatista, que culminou em 27 de outubro com a declaração unilateral de independência da Catalunha no Parlamento regional.
Ciudadanos
Os partidos começaram nesta sexta-feira a examinar os resultados e definir posições para a nova legislatura, enquanto Rajoy presidirá uma reunião de seu partido em Madri, depois da qual poderia fazer um pronunciamento.
Elsa Artadi, que foi o rosto da campanha do partido de Puigdemont em sua ausência, afirmou que não acredita em problemas para alcançar um acordo com os outros partidos secessionistas. "Não tenho nenhuma dúvida de que nos entenderemos", disse.
Como aconteceu em 2015, os separatistas se beneficiaram de um sistema eleitoral que recompensa o voto em zonas rurais e conquistaram a maioria absoluta sem receber 50% dos votos dos mais de cinco milhões de catalães que estavam registrados para comparecer às urnas. A votação registrou uma participação recorde de quase 82%.
Os três partidos secessionistas receberam 47,5% dos votos, o que significa que não superaram a barreira simbólica que daria a vitória em um referendo. O partido mais votado, tanto em votos como em cadeiras no Parlamento regional, foi o Cidadãos, cuja líder Inés Arrimadas prometeu lutar contra o independentismo.
Esta foi a primeira vez que um partido abertamente antinacionalista catalão venceu as eleições. "Se o processo (independentista) não fazia sentido nem tinha maioria social ontem, hoje faz menos sentido e tem menos maioria", afirmou Arrimadas nesta sexta-feira.
"Vamos ver se os três partidos que não conseguiram fazer nada positivo para a Catalunha estes anos conseguem seguir com sua aventura. Eu não daria nada por garantido", disse. /AFP
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