Em meio a ameaças americanas de ação unilateral contra o Iraque, o chanceler iraquiano, Naji Sabri, e outros funcionários iniciaram nesta quinta-feira conversações com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para discutir a possível volta dos inspetores de armas da organização ao país. "Foi um início positivo e construtivo", afirmou o porta-voz da ONU, Fred Eckhard, num intervalo do encontro. "O secretário-geral está particularmente satisfeito porque as conversações enfocaram aquilo que ele esperava", acrescentou, sem dar detalhes. O próprio Annan avaliou positivamente as conversações: "Até agora, vão muito bem". Os iraquianos tomaram a iniciativa de manter o encontro - o primeiro com funcionários de alto nível em um ano -, do qual tomou parte também um inspetor de armas da ONU, Hans Blix. Aí está o indício da crescente pressão que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, enfrenta de seus vizinhos no Oriente Médio para concordar com a ONU e evitar um confronto militar com os EUA. Um funcionário americano citado nesta quinta-feira pelo jornal londrino The Times voltou a advertir que, se necessário, Washington adotará uma ação militar unilateral para mudar o regime iraquiano. O Iraque também se defronta, no Conselho de Segurança da ONU, com um novo consenso sobre o plano americano-britânico de impor "sanções inteligentes", visando permitir que bens para fins civis e humanitários cheguem ao país. O plano privará Saddam da chance de atribuir o sofrimento do povo iraquiano à sua posição de desafio às sanções da ONU, impostas depois que o Iraque invadiu o Kuwait em 1990. "Desde (os atentados de) 11 de setembro, o Iraque está sob pressão cada vez maior", disse um veterano diplomata do Oriente Médio na ONU, pedindo que seu nome não fosse divulgado. "O mundo árabe está aconselhando (Bagdá) a mostrar moderação." Nesta quarta-feira, num sinal de crescente preocupação com o Iraque, os EUA apresentaram ao Conselho de Segurança informações reservadas, mostrando que caminhões importados por meio do programa da ONU de venda de petróleo para compra de alimentos foram convertidos em lança-foguetes e em outros veículos militares. O programa permite ao Iraque adquirir certos bens com o produto da venda de petróleo, apesar das sanções. Em novembro, o presidente americano, George W. Bush, exortou o Iraque a abandonar sua antiga objeção à volta dos inspetores de armas da ONU, dizendo que países que desenvolvem armas de destruição em massa "serão chamados a prestar contas". O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, aguardado em Washington neste mês para discutir o próximo front da guerra contra o terrorismo, repetiu as opiniões de Bush. As sanções impostas ao Iraque em 1990 devem durar até que inspetores da ONU possam atestar que o país desativou seus programas de fabricação de armas nucleares, químicas e biológicas. Depois de um confronto em 1998 com os inspetores, Saddam proibiu-os de voltar. Especialistas receiam que o Iraque tenha aproveitado os anos posteriores para ocultar seus estoques restantes de armas químicas e biológicas e desenvolver novas armas de destruição em massa. O país também melhorou sua capacidade de transformar materiais perigosos em armas, inclusive aumentando o alcance de seus mísseis, segundo um veterano diplomata no Conselho de Segurança. Hans Blix diz que existem muitas perguntas sobre os programas armamentistas do Iraque, especialmente suas armas biológicas. As conversações desta quarta, depois das quais virá uma segunda reunião em abril, são vistas como o início de uma última tentativa de fazer com que o governo iraquiano ceda. Poucos diplomatas da ONU esperam, porém, o rápido reinício das inspeções de armas Mas, no mundo da diplomacia, onde as aparências falam mais alto que as palavras, o fato de a reunião ocorrer já indica que a posição do Iraque ficou um pouco flexível.