O cinegrafista sueco Martin Adler foi morto nesta sexta-feira durante as comemorações do acordo de paz da Somália, assinado na quinta-feira. Um homem armado não identificado atirou no coração do cinegrafista, no meio da multidão. O acordo de paz foi fechado no Sudão entre o governo interino e o grupo islâmico que controla Mogadiscio. Os dois lados concordaram em reconhecer o outro e cessar as hostilidades, mas alguns temas importantes continuam sem resolução. O cinegrafista teria sido morto pelas costas no momento em que manifestantes queimavam uma bandeira etíope. Temas sem resolução No início do mês, milícias da União das Cortes Islâmicas (UCI) tomaram a capital somali, Mogadiscio, que está entre as cidades mais perigosas do mundo. Há mais de uma década sem um governo central, o país passa por uma das piores crises humanitárias do continente africano. Líderes dos tribunais islâmicos criticaram a vizinha Etiópia pela interferência do governo etíope em assuntos internos dos somalis. O acordo de paz não faz menção à a intervenção de forças internacionais no país. O presidente interino, Abdullahi Yusuf, quer as forças de paz de volta, mas a UCI rejeita a proposta. Também não ficou decidido se o grupo islâmico vai participar do governo. Os dois lados voltam a se encontrar no dia 15 de julho para tentar chegar a um acordo sobre os pontos pendentes. O acadêmico Mohamed Ali Ibrahim, que integrou a equipe de negociadores do movimento islâmico em Cartum, no Sudão, disse que a UCI não tem interesse em tornar o país em um porto seguro para militantes terrorista, como acusam os EUA. "Não há extremismo na Somália e não há elementos terroristas. Qualquer um pode vir aqui conferir", disse. A União de Tribunais Islâmicos controla o sul do país e o governo interino, com sede de Baidoa, a 200 km ao norte de Mogadíscio, controla o norte. A pressão internacional é grande para que os dois lados cheguem a um acordo e consigam estabelecer o primeiro governo nacional e efetivo em 15 anos. O jornalista A morte do jornalista mostra que apesar dos esforços, o país continua um lugar onde o sentimento anti-estrangeiros reina. O líder do grupo islâmico, Sheikh Shariff Sheikh Ahmed, criticou o assassinato e pediu a busca de quem "está por trás deste crime". Foi confirmado pelo governo sueco a identidade do homem morto. Martin Adler trabalhava para a rede de televisão britânica Canal 4 e fez inúmeros trabalhos como freelance para o maior jornal sueco, o Aftonbladet, além de uma série de reportagens na Somália em 2002. Adler cobriu inúmeras guerras, como a do Iraque, Afeganistão, Bósnia, Ruanda, Congo e Serra Leoa, e ganhou inúmeros prêmios internacionais, inclusive o Amnesty International Media Award, em 2001, o prêmio de prata por jornalismo investigativo no Festival de Filme de Nova York, em 2001, e o Rory Peck Award for Hard News, em 2004. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que irá transportar o corpo para Estocolmo no sábado. Em fevereiro de 2005, um homem também atirou e matou a jornalista Kate Peyton, da BBC África, em Mogadishu.
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