O mundo árabe se solidarizou com rara rapidez com os Estados Unidos, depois dos ataques de terça-feira, e se dispôs a colaborar na luta contra o terrorismo, mas agora começam a se levantar no Oriente Médio vozes que pedem primeiro uma clara e conjunta definição sobre "terrorismo" que não se choque com a "luta de libertação" palestina. Foi claro nesse sentido o presidente egípcio, Hosni Mubarak, que se mostrou contrário a uma coalizão que não seja formada sob os auspícios da ONU. "Não se deve formar uma coalizão que junte apenas um certo número de países, porque não permitiria uma ação coletiva e decidida", disse. Mais explícito foi o semanário al-Moussawar, considerado próximo à presidência egípcia, segundo o qual "antes de qualquer coalizão, tem de haver uma definição clara de "terrorismo" que não confunda grupos terroristas com movimentos de resistência à ocupação (israelense), como (os palestinos) Jihad Islâmica, Hamas ou o (libanês) Hezbollah". No mesmo rumo seguiu o presidente libanês, Emile Lahoud, para quem o "Hezbollah não é terrorista, é patriota. Se não fossem eles, nunca teríamos recuperado nossa terra ocupada durante 22 anos pelos israelenses". Israel, obviamente, não pensa da mesma forma. O primeiro-ministro Ariel Sharon, informando que os Estados Unidos convidaram o Estado judeu a participar da coalizão, disse que se Estados árabes como a Síria quiserem unir-se, Washington exigirá primeiro a expulsão de seus territórios de "organizações extremistas" que estão ali "há muito tempo". A Síria, por seu lado, considera que "o mundo que se apressa a combater o terrorismo tem de recordar que Israel pratica terrorismo em alto estilo" contra os palestinos, escreveu o diário oficial Tishrin. Lembrando que até o dia dos atentados a hostilidade contra os Estados Unidos crescia continuamente no mundo árabe, que acusa Washington de apoiar incondicionalmente Israel, o diário libanês L´Orient le Jour escreveu que também no Golfo Pérsico a disposição em ajudar os americanos pode ser diferente da que existiu na guerra contra o Iraque, em 1991. "Porque naquela época se tratava de recuperar a soberania de um país (Kuwait). Hoje, os árabes não podem tomar parte de uma coalizão cujos objetivos não são claros, e entre os quais Israel tenta incluir a luta contra organizações palestinas que combatem a ocupação de suas terras?. Na moderada Jordânia, o rei Abdullah disse que é "fundamental", para erradicar o terrorismo, resolver as grandes crises regionais, sobretudo a israelense-palestina". Entretanto, em seu país, a Frente de Ação Islâmica, o maior partido político jordaniano, sempre na oposição, emitiu um edito religioso (fatwa) proibindo os países muçulmanos de atenderem aos chamados americanos e apoiar um provável ataque contra o Afeganistão. A frente também advertiu que "a lei de Deus promete misérias e castigos aos muçulmanos que levantam sua mão contra irmãos muçulmanos".