Tarifas, ameaça e maus-tratos: entenda crise da expulsão de imigrantes nos EUA que envolve o Brasil

Avião com brasileiros que relataram maus-tratos desencadeou recusa da Colômbia em receber imigrantes ilegais e ameaças de tarifas de Donald Trump durante o final de semana

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Por Redação
Atualização:

A deportação de sul-americanos ilegais nos Estados Unidos foi o principal assunto do final de semana. Um voo de brasileiros ilegais que relataram maus-tratos chegou a Manaus no sábado, 25, iniciando uma crise entre os governos de países da região com a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Enquanto o Brasil repudiou o tratamento aos cidadãos brasileiros, a Colômbia se recusou a receber os deportados do país. A resposta do republicano foi de duras tarifas aos colombianos, que em um primeiro momento também retaliaram, mas depois concordaram com os termos de Trump.

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As ordens tarifárias contra Bogotá serão “mantidas em reserva e não assinadas”. Mas, de acordo com a secretária, Trump deve manter as restrições de visto para autoridades colombianas e aumentar as inspeções alfandegárias de produtos do país, “até que o primeiro avião com os deportados colombianos retorne”.

No começo da madrugada, no entanto, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, disse que seu país “superou o impasse” com os Estados Unidos sobre sua recusa em receber migrantes deportados e aceitou os termos da política do presidente Donald Trump.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assina decretos executivos no Salão Oval, em Washington, Estados Unidos  Foto: Ben Curtis/AP

Saiba mais sobre a crise:

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Voo de brasileiros

Um voo de brasileiros deportados cujo destino final seria Belo Horizonte realizou um pouso de emergência em Manaus no sábado, 25. Na capital amazonense, autoridades descobriram que as pessoas estavam algemadas e acorrentadas por determinação dos americanos.

Ao detectar o problema, o governo brasileiro determinou a remoção das algemas e decidiu enviar uma aeronave da FAB, um KC-30 do Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte, para transportar as pessoas deportadas dos Estados Unidos no trajeto entre Manaus e Belo Horizonte.

Depois que chegaram em Belo Horizonte, os brasileiros relataram aos jornalistas maus-tratos de agentes americanos durante o voo, incluindo agressão física, calor e más condições do avião.

“Eles maltrataram a gente. Eles bateram na gente algemado e não tínhamos cometido crime. Deixaram a gente algemado a viagem inteira. Tinha mulher e crianças. Estava muito calor”, disse ao Estadão Vitor Gustavo da Silva, 21, ex-morador de Atlanta, no Estado da Geórgia. Ele afirmou que morou por 20 anos nos EUA.

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Brasileiros ilegais foram algemados durante o voo para o Brasil e relataram maus-tratos no final de semana  Foto: Karoline Leavitt/Secretária de Imprensa da Casa Branca

Após o ocorrido, o Itamaraty publicou no domingo, 26, uma nota sobre a situação dos brasileiros deportados vindos dos Estados Unidos. No documento, a pasta afirma que o uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos do acordo com os EUA, “que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados”.

“O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso”, diz a nota do Itamaraty.

Recusa colombiana e tarifas

No domingo, 26, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se recusou a receber dois aviões que saíram dos Estados Unidos com imigrantes colombianos deportados. Petro citou os relatos de maus-tratos no avião que chegou ao Brasil no final de semana para afirmar que os colombianos precisam ser tratados com “dignidade”.

“Um imigrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece”, afirmou Petro. “Não posso obrigar os imigrantes a permanecer num país que não os quer; mas se esse país os devolver, deve ser com dignidade e respeito por eles e pelo nosso país”.

Diante da recusa colombiana, Trump anunciou retaliações comerciais e econômicas contra Bogotá. O republicano apontou de imediato a fixação de tarifas de importação de 25% sobre os produtos colombianos, além da suspensão de vistos para Petro, aliados políticos e familiares e sanções bancárias e financeiras contra o país. As tarifas subiriam para 50% na semana que vem.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, desembarca em Jacmel, Haiti  Foto: Patrice Noel/AP

“Estas medidas são apenas o começo. Não permitiremos que o governo colombiano viole suas obrigações legais no que diz respeito à aceitação e ao retorno dos criminosos que forçaram a entrada nos Estados Unidos”, afirmou Trump.

Já Petro adotou uma postura mais defensiva contra Trump e suas deportações. No X, ele disse que mais de 15,6 mil cidadãos americanos estão vivendo na Colômbia sem os documentos adequados. Petro disse que, embora esteja ciente de que alguns americanos estão vivendo ilegalmente na Colômbia, ele não vai prendê-los e devolvê-los aos EUA acorrentados, dizendo que seu governo é “o oposto dos nazistas”.

Posteriormente, pelas redes sociais, o presidente colombiano apontou que os produtos fabricados nos EUA também seriam taxados em 25% e substituídos por produtos locais. Petro também afirmou que não se importava de não ir para os EUA.

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Os Estados Unidos são o parceiro comercial e aliado de segurança mais importante da Colômbia. O comércio dos dois países gira em torno de US$15,6 bilhões e Bogotá exporta principalmente petróleo bruto (38,8%), café (11,5%) e flores (10,5%) para os Estados Unidos, segundo o Observatório da Complexidade Econômica (OEC), especializado em relações comerciais.