Seu primeiro compromisso oficial desacompanhada ocorreu em 1942, quando ela passou em revista à tropa dos Guardas Granadeiros no Castelo de Windsor. Mais de 21 mil inaugurações de estabelecimentos e placas se seguiram, entre mais de 200 retratos oficiais e mais de 300 mil telegramas de congratulações enviados para súditos centenários. Neste fim de semana, o Reino Unido celebra outro importante marco para a rainha Elizabeth II: o Jubileu de Platina, que comemora seus 70 anos no trono.
Grande parte do que transcorre durante as comemorações de quatro dias é objetivamente extravagante. Pessoas usando enormes chapéus desfilaram montadas a cavalo. Um almoço em Windsor tentará bater o cobiçado recorde da maior mesa de refeição do mundo.
A lei dos números exagerados sugere que alguém deverá morrer em algum acidente em algum evento temático do jubileu – engasgado em um ovo à escocesa, talvez, ou estrangulado por uma bandeirola. Ainda assim, apesar de sua estranheza, o jubileu não é mero pavê (apesar de o Pudim do Jubileu ser um pavê).
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Walter Bagehot, editor de Economist no século 19, dividiu o estatuto britânico em dois campos, o dignificante e o eficiente. O jubileu – e mais especificamente a mulher em seu coração – mostrará que a monarca, exemplo de um Estado digno, está cumprindo com seu lado da barganha. Isso importa acima de tudo quando o governo, longe de ser eficiente, está consumido em escândalo e introspecção. As virtudes que a rainha representa, de continuidade e consenso, não são qualidades pequenas no Reino Unido dos tempos modernos.
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Por sua própria natureza, o jubileu representa continuidade. Um reinado de 70 anos não tem precedente na monarquia britânica. A rainha passou por 14 primeiros-ministros e poderá conhecer o 15.º no futuro próximo. Ela se encontrou com 4 papas e 13 presidentes americanos; somente Lyndon Johnson não tocou suas luvas brancas.
Elizabeth é tema recorrente na vida de milhões de britânicos, 87% dos quais nunca conheceram outro chefe de Estado. Uma monarquia hereditária é projetada para sobreviver à morte dos ocupantes do trono: a rainha, aos 96 anos, já está entregando algumas de suas atribuições para o príncipe Charles. Mas sua longevidade tem simbolizado a constância do Estado mesmo quando outras instituições vacilam.
Aprovação
Em relação ao consenso, isso emana da aprovação à rainha. Oito em cada dez britânicos têm opinião positiva sobre ela; pessoas de todas as idades pensam nela favoravelmente. Ampla concordância é atualmente algo mais raro no Reino Unido do que já foi. A maioria das pessoas ainda vê a si mesma mais enquanto favorável ou contrária ao Brexit, em vez de expressar lealdades a partidos políticos.
Os políticos buscam temas desagregadores para galvanizar seus apoiadores, e símbolos do Estado não estão imunes. O governo exalta orgulho na bandeira. Promove o uso da coroa como símbolo em copos de cerveja, enquanto libertação da tirania da União Europeia. Está refletindo sobre o retorno de medidas imperiais, esperando que o pensamento de abrir o Instapound em seus telefones fomentará fervor entre apoiadores. A rainha transcende tais disparates: é uma figura unificadora em um país mais tribal.
A coisa nem sempre foi assim. A expressão contida da rainha não lhe ajudou de nenhuma maneira após a morte da princesa Diana em um acidente de trânsito em Paris, em 1997. Ainda assim, o consenso em seu favor flui neste momento daquelas mesmas virtudes antiquadas da função e do autocontrole.
Bagehot reconhecia que o paroquialismo da família real era fonte de força constitucional: ela “adoça a política com a temperada adição de eventos agradáveis e belos”. A “vida fútil” sobre a qual ele escreveu estar em plena exibição neste fim de semana, juntamente com os dramas infinitos que envolvem os filhos e os netos da rainha.
A visão insensível de Elizabeth é como uma incógnita segurando uma bolsa de mão. Mas ela manteve seu lado do Estado britânico merecedor de celebração nas mentes de milhões. Seja qual for a visão que você tem da monarquia, trata-se de uma proeza. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
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