Se você quiser garimpar bitcoins no conforto da sua sala de estar, precisa de três ingredientes: um software livre, um suprimento constante de eletricidade (de preferência barata) e um computador. Cidadãos de muitos países tornaram-se devotos. No entanto, por que os venezuelanos estão entre os mais ávidos mineradores da criptomoeda?
+ Ex-procuradora venezuelana entrega à Justiça provas contra Maduro em caso Odebrecht

O bitcoin oferece às pessoas em todo o mundo a capacidade de trocar fichas de valor online sem depender de bancos. Todo o registro necessário é descentralizado para um “blockchain”, um livro de registro online que mantém o histórico de transações de todos os bitcoins em circulação.
Os “cripto-crentes” louvam as virtudes de sua descentralização, destacando que há uma oferta total fixa, impedindo que o símbolo seja desvalorizado por governos tirânicos. Em democracias que funcionam com taxas razoáveis de inflação, há uma aceitação limitada, porque existem muitas outras ofertas e opções para criar riqueza ou para investir.
+ Nos supermercados da Venezuela, o que Maduro barateia, some
Já os venezuelanos, por sua vez, quase não têm essas oportunidades, porque o bolívar, a moeda local, perdeu 99,9% de seu valor desde 2016. Rígidos controles sobre a moeda estão em vigor há 15 anos, reduzindo a oferta de moedas fortes, como o dólar, que mantém seu poder de compra. Mesmo Jamie Dimon, um conhecido banqueiro que chamou o bitcoin de uma “fraude” que acabará por “explodir”, admitiu que, num lugar como a Venezuela, ela pode ser útil.
Os venezuelanos que podem se dar ao luxo têm máquinas importadas como o Antminer S9, uma engenhoca do tamanho de uma caixa de sapatos vendida por cerca de US$ 2 mil na Amazon, que suga ar fresco e eletricidade e cospe barulho, calor e bitcoins recém-extraídos. E há um setor no qual os venezuelanos têm uma vantagem. O controle sobre os preços da eletricidade subsidia o fornecimento.
+ Maduro destinará 5 bilhões de barris de petróleo como lastro para sua criptomoeda
O alcance dos subsídios do governo significa que, de acordo com dados da Crescent Electric Supply Company, a Venezuela é o lugar mais barato do mundo para se garimpar bitcoins. Os mineradores estão arbitrando, comprando uma commodity subvalorizada (eletricidade) e convertendo-a em bitcoin para obter lucro.
No localbitcoins.com, um site que permite que a criptomoeda seja trocada por moedas locais em todo o mundo, a Venezuela negocia mais bitcoins do que a China.
Os mineradores venezuelanos podem ganhar centenas de dólares por semana, uma fortuna relativa. Alguns usam para poupar, outros para comprar os escassos produtos de primeira necessidade.
Infelizmente, o governo percebeu. O presidente Nicolás Maduro não gosta de mineradores de bitcoins e a propriedade do governo chavista sobre a rede elétrica permite localizar e reprimir aqueles que usam as quantidades extraordinariamente altas de eletricidade que a mineração de bitcoin exige.
Não há leis referentes às criptomoedas. Portanto, algumas pessoas foram presas por acusações falsas, como roubo de energia. O equipamento de mineração foi confiscado por funcionários do governo, alguns dos quais usados em benefício próprio. Embora o bitcoin possa ser uma proteção na tirania dos governos que imprimem dinheiro, outros tipos de tirania permanecem fora de controle. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM