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Todas as vezes que papas pediram perdão pelas ações da Igreja Católica

O Papa Francisco fez um histórico pedido de perdão aos indígenas do Canadá, acrescentando mais um pedido à lista de desculpas feitas pela Igreja por abusos sexuais, Holocausto e escravidão

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Por Redação
Atualização:

O papa Francisco pediu perdão na última segunda-feira, 25, às comunidades indígenas do Canadá pelo papel que a Igreja Católica desempenhou em décadas de abuso em algumas das escolas do país. Mas esta não foi a primeira vez que Francisco – ou mesmo seus antecessores – pediu perdão pelos crimes e transgressões da Igreja. Na verdade, seus comentários foram os mais recentes de uma série de desculpas papais nos últimos anos.

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No passado, a Igreja pediu perdão por seu papel no Holocausto, na escravidão e pelas inúmeras denúncias de abusos sexuais. Além disso, o papa Francisco já indicou que os cristãos e a Igreja Católica deveriam pedir o perdão de homossexuais pela forma como foram tratados, também sugeriu pedir desculpas aos pobres, pelo trabalho infantil e pela “benção a tantas armas”.

Nem todos os apelos implicaram totalmente a Igreja, em vez disso, culpam os indivíduos por irregularidades ou má conduta. Aqui estão algumas das desculpas que os vários chefes da Igreja Católica deram nos últimos anos.

Papa Francisco recebe um cocar durante seu pedido de perdão aos indígenas do Canadá Foto: Gregorio Borgia/AP

Indígenas no Canadá

Francisco está no Canadá esta semana para a primeira visita papal desde 2002 ao país. Na segunda-feira, vestido com um cocar apresentado a ele por líderes indígenas, ele descreveu o sistema escolar residencial do Canadá como “catastrófico” e pediu perdão pelo “mal cometido por tantos cristãos”.

As escolas, administradas tanto pela Igreja quanto pelo governo federal do Canadá, removeram cerca de 150.000 crianças indígenas de suas famílias – e usaram a fome, violência sexual e doutrinação religiosa para assimilar os alunos à força.

Abusos sexuais

Francisco já emitiu várias desculpas desde que se tornou o chefe da Igreja Católica em 2013, principalmente por abuso sexual. Em uma carta aos bispos do Chile em 2018, ele admitiu “erros graves” ao lidar com um escândalo de abuso sexual. Mais tarde naquele ano, ele escreveu uma longa carta aos católicos em todo o mundo, na qual expressou profundo pesar pelo papel da Igreja no abuso de menores e o subsequente encobrimento, dizendo: “Não mostramos nenhum cuidado com os pequeninos. Nós os abandonamos.”

O atual papa emérito Bento XVI, que serviu de 2005 a 2013 quando renunciou alegando motivos de saúde, também precisou pedir desculpas pelos históricos de abuso sexuais, não apenas cometidos por membros da Igreja, mas por seu suposto envolvimento em ajudar a varrer o assunto.

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Em 2010, quando os escândalos de abuso sexual varreram as dioceses da Europa, Bento XVI escreveu uma carta aos católicos da Irlanda pedindo desculpas por décadas de abuso “sistêmico” contra crianças. Ele criticou as autoridades da Igreja na Irlanda, mas não disciplinou nenhum líder.

Bento XVI disse que a Igreja Católica deveria refletir sobre o que é errado com sua mensagem e vida cristã em geral, que permitiu o abuso sexual generalizado de crianças por padres Foto: Alessandra Tarantino/AP

Naquele ano, o então papa expressou “profunda vergonha” depois que uma investigação alemã encomendada pela Igreja o acusou de irregularidades ao lidar com casos de abuso sexual durante seu tempo no comando da Arquidiocese de Munique entre 1977 e 1982.

“Só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha profunda tristeza e meu sincero pedido de perdão”, disse Bento XVI. “Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Maior é a minha dor pelos abusos e erros que ocorreram nesses diferentes lugares durante o tempo do meu mandato”.

No primeiro pedido de perdão feito por e-mail na história do Vaticano, o papa João Paulo II também pediu desculpas por abusos sexuais cometidos por clérigos nos países do Oceano Pacífico. “Em certas partes da Oceania, o abuso sexual de alguns clérigos causou grande sofrimento e dano espiritual às vítimas”, escreveu em 2001.

Colonialismo na América Latina

Em 2015, em uma viagem à Bolívia, Francisco pediu desculpas pelos “muitos pecados graves cometidos contra os nativos da América em nome de Deus”. O perdão, segundo ele, era pela cumplicidade da Igreja Católica na opressão da América Latina durante a era colonial.

“Peço humildemente perdão, não apenas pela ofensa da própria Igreja, mas também pelos crimes cometidos contra os povos nativos durante a chamada conquista da América”, disse ele, conforme noticiou o The New York Times na época.

Holocausto

Em 1998, também sob o papado de João Paulo II, a Igreja pediu desculpas formalmente por não ter tomado medidas mais decisivas durante a 2º Guerra para impedir o extermínio de mais de 6 milhões de judeus.

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“Lamentamos profundamente os erros e o fracasso desses filhos e filhas da Igreja”, disse o jornal do Vaticano na época . “Não podemos saber quantos cristãos em países ocupados ou governados pelas potências nazistas ou seus aliados ficaram horrorizados com o desaparecimento de seus vizinhos judeus e ainda não foram fortes o suficiente para levantar suas vozes em protesto”.

Em seu ato mais memorável, o papa colocou uma nota de oração no Muro das Lamentações em Jerusalém pedindo perdão a Deus por aqueles que “causaram o sofrimento desses seus filhos”.

O Papa João Paulo II colocou uma carta assinada em uma rachadura no Muro das Lamentações em 26 de março de 2000, na Cidade Velha de Jerusalém Foto: Gabriel Bouys/AP

No entanto, o Vaticano defendeu o papa Pio XII, que liderou a Igreja durante a guerra, das acusações de que ele fez vista grossa para o assassinato sistemático de judeus, argumentando que Pio foi motivado por preconceitos religiosos da Igreja que datavam da morte de Jesus Cristo.

Escravidão

Em1992, em São Tomé e Príncipe, na África Central, o holo João Paulo II pediu perdão pelo papel da Igreja no comércio de escravos. ″Não posso deixar de deplorar esta cruel e triste ofensa à dignidade do homem africano″, disse.

O papa repetiu diversas vezes o pedido de perdão conforme visitou outros países africanos. Há registros de pedidos de desculpas em discursos em 1985, em Camarões, onde teria dito que “a tarefa dos cristãos envolve cura e compaixão porque o homem necessitado, à beira da estrada, é seu irmão, seu próximo. No curso da história, homens pertencentes a nações cristãs nem sempre fizeram isso, e pedimos perdão aos nossos irmãos africanos que tanto sofreram por causa do comércio de negros”, disse, segundo arquivos do The New York Times.

Mulheres

João Paulo II também escreveu, em 1995, um amplo pedido de desculpas às mulheres, que “muitas vezes foram relegadas à margem da sociedade e até reduzidas à servidão”, disse ele, culpando o “condicionamento cultural” e alguns “membros da Igreja”.

“É hora de examinar o passado com coragem para atribuir responsabilidade onde for devido em uma revisão da longa história da humanidade. As mulheres contribuíram para essa história tanto quanto os homens e, na maioria das vezes, o fizeram em condições muito mais difíceis”, escreveu o pontífice nas vésperas da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim./AP, NYT e W.POST