Tropas ucranianas em Mariupol resistem enquanto prazo da Rússia para rendição chega ao fim

Soldados que resistem em parque industrial da cidade podem ter apenas ‘algumas horas ou dias de vida’, diz comandante ucraniano

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Por Redação
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MARIUPOL, UCRÂNIA - O ultimato dado pela Rússia às tropas ucranianas em Mariupol para se renderem expirou na tarde (horário local) desta quarta-feira, 20, sem a rendição em massa. Os soldados e civis ucranianos, que estão dentro da usina siderúrgica da Azovstal Iron and Steel Works, continuam protegidos em uma área subterrânea do local, mas possuem apenas dias ou talvez horas de vida, segundo um comandante da marinha da Ucrânia,

O governo de Kiev acusou a Rússia de usar bombas destruidoras de bunkers para conduzir os ucranianos acima do solo e, nesta quarta-feira, autoridades disseram que um hospital improvisado perto da fábrica foi bombardeado durante a noite, deixando centenas de pessoas presas sob os escombros.

A Rússia disse mais uma vez que os soldados ucranianos deveriam se render se não quisessem ser mortos, mas os ucranianos prometeram lutar até a “última gota de sangue”. Em uma série de vídeos, telefonemas e mensagens nas mídias sociais, as forças ucranianas imploraram por apoio internacional para ajudá-las a lutar para escapar ou obter passagem segura sob a supervisão de terceiros.

Imagem mostra parque industrial da Azovstal Iron and Steel Works detrás de edifícios danificados durante a guerra na Ucrânia, em Mariupol. Imagem é desta terça-feira, 19  Foto: Alexander Ermochenko / REUTERS

“Provavelmente estamos enfrentando nossos últimos dias, se não horas”, disse Serhi Volina, comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais, da fábrica de aço de Azovstal sitiada. “Apelamos e imploramos a todos os líderes mundiais que nos ajudem.”

Volina, falando em uma mensagem de vídeo postada no Facebook, disse que as forças ucranianas estavam em desvantagem numérica de 10 para um. Embora seja difícil saber quantas pessoas estão nos bunkers, ele afirmou que 500 pessoas ficaram feridas e que “centenas de civis, incluindo mulheres e crianças” estão ficando sem comida e água.

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Dois soldados da siderúrgica relataram ao The New York Times que as forças russas estavam bombardeando a instalação com tudo o que tinham. Os relatos, juntamente com declarações públicas divulgadas na quarta-feira por comandantes ucranianos, políticos locais e outros em comunicação com pessoas dentro de bunkers, pintam um retrato de desespero e desafio.

Mariupol, que viveu o pior cenário de guerra desde que as forças russas começaram a cercar a cidade, chega a uma batalha que significa seu controle total com a mesma brutalidade do início.

A cidade ao redor da usina está arrasada. O número de mortos é desconhecido, mas o governo ucraniano estima que seja superior a 20 mil. Há pelo menos 12 mil pessoas que ainda vivem na cidade, de acordo com autoridades locais. Antes da guerra, havia 400 mil.

O governo ucraniano afirmou que chegou a um acordo com os russos para permitir que mulheres, crianças e idosos deixem a cidade a partir das 14h desta quarta-feira. No entanto, acordos anteriores desmoronaram e as autoridades alertaram que a situação pode mudar rapidamente. Não ficou claro se alguém abrigado na fábrica de aço teria permissão para escapar.

O vice-prefeito de Mariupol, Sergei Orlov, disse à BBC nesta quarta-feira que a maioria dos civis que buscaram segurança na siderúrgica o fizeram depois que suas casas foram destruídas ou porque tinham familiares trabalhando no complexo.

Dados da ONU mostraram que 5,03 milhões de pessoas haviam fugido da Ucrânia por conta da guerra até esta quarta-feira, elevando a contagem acima de 5 milhões pela primeira vez. “Eles deixaram para trás suas casas e famílias”, disse o chefe da agência de refugiados ACNUR, Filippo Grandi, no Twitter. “Cada novo ataque destrói suas esperanças. Apenas o fim da guerra pode pavimentar o caminho para a reconstrução de suas vidas.” /THE NEW YORK TIMES, REUTERS