UE esboça veto a petróleo russo, mas pondera impacto na eleição francesa

Plano para proibir importação de energia da Rússia só será discutido após segundo turno na França, para não prejudicar a reeleição de Macron

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Por Redação
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BRUXELAS - A União Europeia está elaborando um plano para proibir a compra de petróleo russo. A medida é a mais decisiva e arriscada forma de punir a Rússia pela invasão da Ucrânia, em razão dos custos e da capacidade de desestabilizar a política no bloco. O embargo, porém, só começaria a ser debatido após as eleições francesas, no dia 24, para não atrapalhar a candidatura à reeleição do presidente, Emmanuel Macron.

O veto ao petróleo russo pode causar efeito devastador no preço da energia na Europa, especialmente na Alemanha, país da UE mais dependente do gás russo. Por isso, o plano europeu seria adotar uma proibição progressiva destinada a dar aos alemães – e a outros países – tempo para arranjar fornecedores alternativos.

Diplomatas e líderes europeus também se preocupam com o impacto que o aumento do preço da energia teria na França. Embora o país não seja tão dependente da Rússia, em boa parte graças à energia nuclear produzida em suas fronteiras, qualquer instabilidade econômica poderia ajudar a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, uma crítica contumaz da integração.

vice-primeiro-ministro russo de Energia, Alexander Novak, afirmou que um embargo ao petróleo russo teria "consequências catastróficas para o mercado mundial" 

Por isso, o timing das novas sanções é considerado tão importante quanto os detalhes, o que também indica a dificuldade que será convencer todos os 27 membros da UE. Muitos governos, como o do premiê húngaro, Viktor Orbán, enxergam o presidente russo, Vladimir Putin, com simpatia. Orbán, que acabou de ser reeleito na Hungria, se tornou o maior obstáculo às sanções contra a Rússia – ele chegou até mesmo a bater boca com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, em mensagens pelas redes sociais.

Massacres.

Autoridades e diplomatas europeus disseram ao New York Times, sob condição de anonimato, que a revelação de atrocidades cometidas pelos russos na Ucrânia havia facilitado a decisão. De acordo com eles, há uma sensação crescente de que o embargo ao petróleo da Rússia poderia ser adotado mesmo na ausência de mais revelações como o massacre de civis na cidade de Bucha.

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“Até agora, os países da Europa foram inteligentes ao não determinar uma ação-limite que desencadearia uma resposta à invasão da Ucrânia”, disse Emre Peker, diretor do Eurasia Group. “Espero que a UE continue evitando esses gatilhos. A escalada da violência russa e as atrocidades em Bucha endureceram a posição europeia. Quanto mais catástrofes forem reveladas, maior será o ímpeto da retaliação.”

Fila para receber comida em Mariupol, cidade cercada pelos russos e com escassez de alimentos, água e energia elétrica Foto: SERGEI ILNITSKY

A UE, que anunciou cinco rodadas de sanções contra a Rússia desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, está sob pressão para interromper o fluxo de petrodólares para os cofres do Kremlin.

Recentemente, Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, criticou o fato de o bloco ter comprado da Rússia € 35 bilhões (R$ 180 bilhões) em petróleo e gás desde que a guerra começou. “Demos à Ucrânia € 1 bilhão em ajuda militar. Pode parecer muito, mas € 1 bilhão pagamos a Putin todos os dias pela energia que ele nos fornece”, disse. NYT

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