PARIS - Enquanto todas as atenções dos governos europeus estão voltadas para a chegada de imigrantes sírios que entram na Europa por terra, a mais mortífera das rotas, a do Mediterrâneo, segue quebrando recordes. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (HCR), 218,3 mil estrangeiros chegaram ao continente cruzando o mar vindos da Turquia ou do Norte da África – um recorde absoluto, 26% superior ao registrado em setembro, de 172,8 mil.
De janeiro a outubro, o total de pessoas que chegaram à Europa atravessando o Mar Mediterrâneo já superou o total dos 12 meses de 2014. “No mês passado houve um recorde mensal de chegadas”, confirmou Adrian Edwards, porta-voz do HCR, lembrando que os números inéditos são registrados mesmo apesar do início do outono no Hemisfério Norte, quando as temperaturas baixas e as chuvas tornam o percurso ainda mais duro para os candidatos a refugiados.
Os dados mostram que a pressão imigratória agora se concentra sobre a ilha de Lesbos, na Grécia, que se tornou o grande ponto de desembarque, superando os portos italianos nas ilhas de Lampeduza e Sicilia. Por lá, pisaram em solo europeu 210,2 mil pessoas, a maior parte vindas da Turquia.
Já pela Itália, chegaram 8,1 mil, um número que indica o esvaziamento ao menos temporário da rota, que em outubro de 2014 recebeu 15 mil estrangeiros. Entre as pessoas que buscam chegar à Europa, cerca de 65% são homens adultos, 15% são mulheres adultas e os cerca de 20% demais são crianças.
Ainda segundo o HCR, no mesmo período o total de mortes também explodiu, chegando a 3.440 desde o início do ano. A maior parte das mortes, entretanto, continua ocorrendo no trajeto mais longo, entre o Norte da África e as ilhas italianas, conforme dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Os números obrigaram o HCR a rever mais uma vez para cima suas expectativas quanto ao total de imigrantes que chegarão à Europa em 2015: 744 mil apenas pelo Mar Mediterrâneo, dos quais 601 mil pela Grécia e 140 mil pela Itália.
Até aqui, o organismo das Nações Unidas previa um total de 700 mil chegadas neste ano, e outras 700 mil, no mínimo, em 2016 – um indicativo de que a crise migratória prosseguirá no próximo ano, como tudo de fato indica.
Os dados sobre a imigração tendem a reforçar os movimentos contrários à chegada de estrangeiros que florescem em vários países da Europa Central e na Alemanha. No fim de semana, vários ataques foram registrados a centros de acolhimento em várias cidades alemãs, em especial no Leste do país.
De acordo com um relatório do Escritório Federal de Polícia Criminal (BKA), mais de 500 atos de caráter xenofóbico foram registrados desde o início do ano no país, onde a chanceler Angela Merkel enfrenta críticas crescentes – ontem, uma reportagem da revista Der Spiegel chamou a chefe de governo de “a chanceler solitária”.
Em 2014, o total registrado havia atingido 114 atos, e em 2013 a 18 casos. /COM AFP E REUTERS
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