Um dia depois de um carro-bomba explodir na área de uma escola militar em Bogotá - deixando cinco feridos, além de 18 pessoas atingidas por estilhaços -, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, fechou nesta sexta-feira todas as portas para uma possível negociação com as Farc e ordenou as Forças Armadas que intensifiquem as ofensivas para resgatar 58 reféns em poder da guerrilha marxista. Num veemente discurso, proferido no local onde explodiu o carro-bomba, Uribe voltou atrás na decisão de desmilitarizar duas cidades - Pradera e Florida, no sudoeste do país -, que serviriam de sede para negociações da troca dos reféns por cerca de 500 guerrilheiros das Farc sob a custódia do governo. Analistas colombianos estimam que Uribe utilizou o atentado - cuja autoria as Farc negaram nesta sexta-feira - como um pretexto para atender aos comandantes militares do país, que discordavam da iniciativa do governo de desmilitarizar as duas cidades, uma área de 850 quilômetros quadrados. O embaixador da Colômbia no Brasil, Mario Galofre Cano, disse ao Estado que o atentado, numa área militar, deve ter sido considerado por Uribe "a gota d´água" nas ações das Farc. "Nos últimos anos, conseguimos progressos significativos na tarefa de dar segurança ao país. O presidente havia concordado em princípio com a concessão de uma área à guerrilha para negociar a troca de reféns por guerrilheiros presos, mas deixou claro que não permitiria que perdêssemos o grau de segurança que já conquistamos", declarou o embaixador. Resgate militar "Hoje, a única opção que nos resta é a do resgate militar e policial dos seqüestrados", discursou Uribe, atribuindo a autoria do atentado às Farc. "Não permitiremos que nossa boa vontade para um acordo humanitário continue sendo objeto da farsa das Farc, que jogam com a dor dos parentes dos seqüestrados para buscar uma zona desmilitarizada e recuperar sua capacidade terrorista." Em 2002, nos últimos meses do mandato de Andrés Pastrana, o governo colombiano retomou uma área de 42 mil quilômetros quadrados que havia desmilitarizado no sul do país para abrigar um diálogo de paz com a guerrilha. Pastrana rompeu o diálogo depois de acusar as Farc de usar a área para reforçar-se militarmente e como cativeiro de reféns. A política de Uribe para as Farc tem sido marcada por fortes pressões. De um lado, governos europeus querem que Uribe abra canais de diálogo com a guerrilha para libertar os reféns - entre os quais se inclui a ex-candidata à presidência e ex-senadora, a franco-colombiana Ingrid Betancourt. De outro, estão os comandantes militares, que defendem a intensificação das operações contra as Farc. Texto ampliado às 19h27