THE NEW YORK TIMES - O uso de armas de fogo na cidade de Nova York aumentou durante o primeiro trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado, mesmo com a diminuição dos homicídios, disseram autoridades policiais da cidade, em uma continuação de uma onda de violência que surgiu no início da pandemia de covid-19 e não diminuiu.
Os casos de tiros aumentaram de 260 para 296 no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo as últimas estatísticas do Departamento de Polícia, que incluem os três primeiros dias de abril. A tendência reflete “violência contínua e completamente inaceitável em nossas ruas”, disse a comissária de Polícia Keechant Sewell.
Foi a primeira vez desde o início da pandemia de coronavírus que as autoridades da cidade se reuniram coletivamente para o que antes era um ritual para a polícia, repórteres e o público.
Nos dois anos desde o último briefing completo do Departamento de Polícia sobre estatísticas de crimes, bolsões de Nova York viram aumentos nos tiroteios e assassinatos, ressaltando a preocupação de que a cidade mais populosa dos Estados Unidos possa estar retrocedendo.
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O prefeito Eric Adams fez da reversão dessa tendência o objetivo central de seu governo. “O departamento de polícia de Nova York usará todos os recursos e oportunidades para proteger esta cidade”, disse a comissária Sewell, mas “inverter anos não levará semanas”.
Ela creditou a diminuição nas taxas de homicídio a uma onda de prisões. Somente em março, disse, os policiais fizeram mais de 4 mil prisões, mais que o dobro das feitas na mesma época do ano passado.
Os dados são divulgados no momento em que a cidade enfrenta uma série de crimes com armas de fogo. Na semana passada, um menino de 12 anos foi morto no Brooklyn quando uma saraivada de balas atingiu um carro estacionado no qual ele estava comendo com parentes.
Dias depois, uma mulher de 61 anos foi morta após ser atingida por uma bala perdida no Bronx. E, no mês passado, uma criança de 3 anos foi baleada no ombro do lado de fora de uma creche no Brooklyn.
À medida que os nova-iorquinos começam a sair de mais de dois anos de limbo da pandemia, uma lacuna se abre entre as percepções do crime e a realidade da cidade. Esta Nova York é mais perigosa do que a que muitos moradores viviam no início da pandemia, na primavera de 2020. No entanto, continua muito mais segura do que nos anos anteriores, e a criminalidade é menor do que em muitas das maiores cidades do país.
Taxas de crimes
A violência armada atingiu mínimos históricos em 2018 e 2019. Mesmo com os aumentos recentes, as taxas de crimes com armas de fogo, assaltos criminais e crimes graves em geral são semelhantes ou inferiores aos níveis do final dos anos 2000 e início dos anos 2010. Houve nove assassinatos a menos este ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os primeiros três meses deste ano também viram aumentos em crimes como assaltos, roubos e furtos em comparação com os mesmos períodos de 2020 e 2021, embora especialistas alertem contra comparações de curto prazo, principalmente durante a pandemia, por causa da distorção estatística.
Nova York não é a única cidade que luta para controlar o crime em meio à pandemia. Em Houston, pelo menos 473 homicídios foram registrados no ano passado; Nova York viu apenas 15, com quase quatro vezes a população. E a apenas 90 minutos ao sul, Filadélfia viu 559 assassinatos em 2021, em uma cidade com apenas 1,5 milhão de habitantes.
Mas os novos casos geraram alertas sobre um retorno aos “maus velhos tempos” de Nova York, quando havia muitos anos com mais de 2 mil assassinatos. Para alguns, a semelhança entre os períodos não está no crime ou nos dados, mas na cobertura.
“Isso me lembra a década de 90, no sentido de que cada incidente de violência se torna uma grande notícia”, disse Jeffrey Butts, diretor do centro de pesquisa e avaliação do John Jay College of Criminal Justice.
“Algumas dessas coisas são simplesmente chocantes”, disse ele. “Mas também é importante lembrar que essas coisas sempre aconteceram e ainda foram incidentes bastante infrequentes. Mas eles ficam com você por tanto tempo e ficam na sua memória.”
Negros e latinos
Alguns tipos de crimes aumentaram significativamente desde o início da pandemia. Os casos com armas de fogo são duas vezes maiores do que nos anos anteriores à pandemia, e o fardo recai principalmente sobre os bairros negros e latinos.
Mais de 1.800 casos com armas de fogo foram registrados anualmente nos últimos dois anos, depois de cair para menos de 900 em 2018. Os ataques contra os nova-iorquinos asiáticos aumentaram, com mais de 130 queixas de crimes de ódio registradas na polícia no ano passado, depois de apenas uma relatada em 2019.
O sistema de metrô também se tornou mais perigoso, com assaltos e outros crimes graves significativamente maiores durante a pandemia. E nem todos os tipos de eventos assustadores, como encontros agressivos na rua ou assédio em um trem, são fáceis de rastrear.
Ainda assim, Adams e a comissária Sewell efetuaram uma série de mudanças no Departamento de Polícia, incluindo a recriação de unidades anticrime à paisana, dissolvidas em 2020 por alegações de brutalidade e força excessiva. As novas unidades foram reimaginadas para incluir treinamento sobre direitos constitucionais e diminuição da tensão, e os policiais agora usam um uniforme modificado em vez de roupas comuns, disse o Departamento de Polícia.
Desde que foram redistribuídas em março, as unidades fizeram 121 prisões, 25 das quais por porte ilegal de armas, informou o Departamento de Polícia.
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