BOGOTÁ - Na semana da eleição presidencial colombiana mais um escândalo afeta o candidato presidencial opositor Óscar Iván Zuluaga, do partido Centro Democrático. Um vídeo divulgado neste domingo, 18, mostra o candidato uribista conversando com o hacker Andrés Sepúlveda, preso sob acusação de espionar conversas da negociação de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
No vídeo, publicado pela revista Semana, Sepúlveda diz a Zuluaga ter acesso a informações da inteligência militar do país, que são confidenciais.
O fato é mais um de campanhas eleitorais marcadas por escândalos e não pela discussão de propostas. O chefe de campanha de Zuluaga, Luis Alfonso Hoyos, renunciou após a emissora de TV colombiana RCN News informar que ele e Sepúlveda lhe ofereceram informações sobre as negociações de paz com as Farc.
O presidente Juan Manuel Santos, que tenta a reeleição, também teve a campanha marcada por escândalo político. No começo de maio, o assessor de campanha Juan José Rendón renunciou sob suspeita de suborno. Ele é acusado de ter recebido US$ 12 milhões de narcotraficantes para mediar a rendição de quatro chefes do tráfico.
Os candidatos, que não participaram de debates, optaram pela tática de defender ou atacar as negociações de paz com as Farc.
Zuluaga, que tem o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe e adota um discurso contra a guerrilha e de críticas ao governo por negociar com as Farc, aparece em todas as pesquisas de intenção de votos empatado com Santos.
Uribe e pessoas envolvidas na campanha do Centro Democrático criticaram o vídeo. "São montagens ao melhor estilo de fraude chavista da Venezuela", afirmou Uribe. O ex-vice-presidente Francisco Santos, integrante ativo da campanha de Zuluaga, classificou o vídeo como "uma conspiração".
Após a prisão de Sepúlveda, Zuluaga reconheceu a participação do hacker em sua campanha eleitoral na gestão de redes sociais e disse ter se encontrado com ele para cumprimentá-lo pelo trabalho, mas negou envolvimento com qualquer atividade ilegal. Zuluaga não comentou a divulgação do vídeo.
Dirigentes da campanha de Santos, que se fortaleceu com o acordo de sexta-feira com as Farc sobre a questão das drogas, consideraram grave o conteúdo do vídeo. "O vídeo confirma que Óscar Iván Zuluaga esteve mentindo para o país. É um fato extremamente grave, uma conspiração que fizeram contra a paz na Colômbia", afirmou o senador do Partido Liberal Juan Fernando Cristo, que apoia a reeleição do presidente.
O candidato presidencial pela Aliança Verde, Enrique Peñalosa, também disse que Zuluaga mentiu ao país e pediu sua renúncia. "A Colômbia não pode permitir que um candidato à presidência minta e cometa crimes."
Empate. As últimas pesquisas eleitorais na Colômbia mostravam um empate técnico entre Zuluaga e Santos, mas uma pesquisa divulgada ontem pelo instituto Ipsos Napoléon Franco mostrou o candidato opositor com uma pequena vantagem sobre o atual presidente. Zuluaga aparece com 29,5% das intenções de voto e Santos, 28,5%.
A pesquisa consultou 1.799 pessoas entre os dias 13 e 15 de maio, ou seja, antes da divulgação do vídeo. Com o empate, a eleição deve ser decidida no segundo turno. Para que um candidato vença no primeiro turno, é preciso alcançar mais de 50% dos votos.
Segundo a pesquisa, no segundo turno também há um empate entre os dois candidatos, cada um com cerca de 32% dos votos. O presidente Santos foi o candidato que mais perdeu popularidade. Em fevereiro, 52% dos entrevistados viam o presidente positivamente, em maio o número caiu para 38%. / EFE e REUTERS