Um dia antes do início da cúpula Índia-Paquistão, tropas de choque indianas usaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que atirava pedras e gritava palavras de ordem contra o Exército indiano e a favor do Paquistão. A violência ocorreu durante uma greve geral convocada por uma coalizão de grupos separatistas da Caxemira, que fechou as portas do comércio e os escritórios do governo em todo o estado de Jammu-Caxemira. "Longa vida para o Paquistão! Avante, combatentes. Estamos com vocês", gritavam os 100 manifestantes em apoio aos grupos rebeldes muçulmanos que lutam pela independência do estado da Índia. O protesto começou logo após as preces dos rebeldes na mesquita Jamia, de Srinagar. A polícia também deu tiros para o ar para desocupar as ruas, aparentemente sem deixar feridos. Nesta sexta-feira também foram reforçadas as medidas de segurança em torno das instalações do governo no estado para prevenir ataques rebeldes antes ou durante a cúpula. Ao mesmo tempo, prosseguia a violência entre forças indianas e guerrilheiros muçulmanos, que já matou milhares de pessoas desde que a insurreição começou em 1989. Segundo a polícia, quatro pessoas, incluindo dois militares, morreram durante a noite em diferentes partes do estado. Os gritos durante a manifestação de hoje em Srinagar eram de apoio dos manifestantes a Lashkar-e -Tayyaba, principal grupo de militantes islâmicos que assumiu a responsabilidade por ataques suicidas em campos do Exército que resultaram em ferimentos leves. A Conferência Hurriyat de Todos os Partidos, a mais ampla aliança separatista, decretou greve em memória dos 16 "combatentes da liberdade" mortos há exatamente 70 anos durante protestos contra o mais opulento marajá do estado, Hari Singh. O povo da Caxemira observa o 13 de julho como o Dia dos Mártires. O governo estadual estabeleceu feriado neste dia, mas desencoraja o apoio aos rebeldes. Mesmo assim, a mais alta autoridade estadual eleita, Faruq Abdullah, colocou uma coroa de flores diante do monumento aos mártires no centro de Srinagar. "A Caxemira é parte da Índia, e não acho que esta condição deva ser alterada. O que tiver que ser feito pela Caxemira terá de ser feito por Índia e Paquistão; nem eu nem o Hurriyat temos qualquer papel nisso", disse Abdullah pela televisão. Na véspera do primeiro encontro entre o presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, e o primeiro-ministro indiano, Atal Bihari Vajpayee, a polícia colocou reforços nos distritos de Srinagar ocupados pela minoria muçulmana a fim de evitar que se repitam os conflitos que mataram 25 indianos de etnia sikh durante a visita à Índia do ex-presidente Bill Clinton. A Índia e o Paquistão já lutaram duas guerras pelo controle da Caxemira, território localizado na cordilheira do Himalaia, dividido entre ambos e uma linha de controle. Hurriyat, que se diz representante do povo da Caxemira, foi convidado para tomar chá com Musharraf na embaixada paquistanesa em nova Délhi, após a chegada do presidente paquistanês no sábado pela manhã. O governo indiano criticou este encontro, considerando-o um apoio aos insurgentes em luta na Caxemira. Mas o próprio Hurriyat tem negado qualquer participação na reunião de cúpula entre os dois chefes de governo.
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