Uma eventual vitória do Hezbollah nas eleições parlamentares no Líbano neste domingo pode isolar o país, na opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil. Nas eleições, estão em jogo as 128 cadeiras no Parlamento, e o bloco majoritário que sair vencedor vai formar o novo governo. Especialistas indicam para um páreo apertado entre os movimentos rivais 14 de Março (pró-Ocidente, que junta os principais grupos sunitas, cristãos e drusos do país), atual maioria no Parlamento, e o 8 de Março (liderado pelo Hezbollah, reúne xiitas, drusos e cristãos pró-Síria), apoiado por Síria e Irã. Para o diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute, Paul Salem, "os Estados Unidos e a comunidade internacional poderão reagir de forma exagerada. Haverá uma comparação de uma vitória democrática do Hezbollah com a tomada de poder feita pelo Hamas em Gaza ou pelo Talebã em Islamabad (no Paquistão)". Este cenário, segundo Salem, poderia levar a um colapso da ajuda internacional ao Estado libanês e às Forças Armadas do país. O mundo árabe poderia agir de forma semelhante, com a Arábia Saudita eoutros países do Golfo suspendendo a ajuda financeira, levando a umprecipitado pânico social e econômico. O cientista político da Universidade Americana de Beirute Hilal Khashan acredita que outra consequência seria o aumento da tensão com Israel, já que o grupo xiita poderia usar sua chegada ao governo como um pretexto para se rearmar. "O governo israelense poderia agir de forma precipitada e veria um governo do Hezbollah, apoiado por seus inimigos Irã e Síria, como ameaça à sua segurança", enfatizou Khashan. Neste caso, o professor não descarta um novo conflito com Israel, o que seria devastador para o Líbano. Divisão Khashan diz que o país continuará dividido entre dois campos após opleito, mas terá seu mapa político redefinido. "Nós nãoacordaremos com um Estado islâmico no dia seguinte, em caso de vitóriado Hezbollah, mas teremos sim uma nova estagnação política que só seráresolvida com uma negociação entre os dois lados", salientou Khashan. Já Salem acredita em uma polarização ainda mais acentuada com uma eventual vitória do Hezbollah: "Não estariam descartados confrontos armados entre os dois lados por causa da pressão que isso causaria sobre o novo governo". Pesquisas de opinião feitas por universidades libanesas mostraram uma pequena vantagem na coalização do 8 de março como vencedor das eleições. Para Salem, nenhum dos lados deve obter uma maioria muitoampla em caso de vitória, embora o grupo liderado pelo Hezbollah tenhamaiores chances de formar a maioria. "O apelo do Hezbollah aumentou, com uma forte coalizão baseada em alianças com vários grupos, incluindo cristãos", disse ele, salientando que nenhum dos dois lados poderágovernar sozinho. "No Líbano, um lado só governa em acordo com o outro, e eu sóvejo um novo governo de união nacional como solução". O professordisse que o presidente Michel Suleiman, considerado neutro e confiávelpor ambos os lados, pode ter um papel decisivo para intermediar acriação de um novo governo. "O Ocidente deveria encorajar a formação de um governo de coalização, o que seria o melhor para a estabilidade do Líbano". Hilal Khashantambém espera que um governo de união nacional seja criado e que o 14de Março não decida boicotar um governo liderado pelo Hezbollah. "O 14 de março servirá muito mais aos interesses do Líbano, se participar de um governo mesmo como minoria". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.