THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - Uma árvore plantada para cada camiseta comprada. Para cada garrafa de vinho. Para cada compra no cartão de crédito. Árvores plantadas por países para cumprir promessas globais e por empresas para reforçar seus registros de sustentabilidade.
À medida que a crise climática se aprofunda, empresas e consumidores estão se juntando a grupos sem fins lucrativos e governos em um boom global de plantação de árvores. No ano passado, bilhões de árvores foram plantadas em diversos países ao redor do mundo. Esses esforços podem ser uma vitória tripla, fornecendo meios de subsistência, absorvendo e bloqueando o dióxido de carbono que aquece o planeta e melhorando a saúde dos ecossistemas.
Mas quando mal feitos, os projetos podem piorar os próprios problemas que deveriam resolver. Plantar as árvores erradas no lugar errado pode realmente reduzir a biodiversidade, acelerando as extinções e tornando os ecossistemas muito menos resilientes.
Enfrentar a perda de biodiversidade, já uma crise global semelhante à mudança climática, está se tornando cada vez mais urgente. As taxas de extinção estão aumentando. Estima-se que um milhão de espécies correm o risco de desaparecer, muitas dentro de décadas. E o colapso do ecossistema não ameaça apenas animais e plantas; põe em perigo os suprimentos de comida e água dos quais os humanos dependem.
Em meio a esse agravamento da crise, empresas e países estão investindo cada vez mais no plantio de árvores que cobrem grandes áreas com espécies comerciais não nativas em nome do combate às mudanças climáticas. Essas árvores absorvem carbono, mas fornecem pouco suporte para as teias de vida que uma vez prosperaram nessas áreas.
“Você está basicamente criando uma paisagem estéril”, disse Paul Smith, que administra o Botanic Gardens Conservation International, um grupo que trabalha para evitar a extinção de plantas. “Se as pessoas querem plantar árvores, vamos também tornar isso positivo para a biodiversidade.”
Há uma regra geral no mundo da plantação de árvores: deve-se plantar “a árvore certa no lugar certo”. Alguns acrescentam: “pelo motivo certo”.
Mas, de acordo com entrevistas com pessoas de diversas áreas – cientistas, especialistas em políticas, empresas florestais e organizações de plantio de árvores – as pessoas geralmente discordam sobre o que “certo” significa. Para alguns, são grandes fazendas de árvores para armazenamento de carbono e madeira. Para outros, são árvores frutíferas para pequenos agricultores. Para outros ainda, é a possibilidade de que espécies nativas se regenerem.
Os melhores esforços tentam atender a uma série de necessidades, de acordo com especialistas em restauração ecológica, mas pode ser difícil conciliar interesses conflitantes.
“É meio que o Velho Oeste”, disse Forrest Fleischman, professor de política ambiental da Universidade de Minnesota.
Uma solução natural
Não há espaço suficiente na Terra para enfrentar as mudanças climáticas apenas com árvores, mas se combinadas com cortes drásticos nos combustíveis fósseis, as árvores podem ser uma importante solução natural. Elas absorvem dióxido de carbono através dos poros de suas folhas e o armazenam em seus galhos e troncos (embora as árvores também liberem carbono quando queimam ou apodrecem). Essa capacidade de coletar CO2 é o motivo pelo qual as florestas são frequentemente chamadas de sumidouros de carbono.
Na África Central, a TotalEnergies, gigante francesa de petróleo e gás, anunciou planos para plantar árvores em 40 mil hectares na República do Congo. O projeto – no planalto de Batéké, um mosaico de gramíneas e savanas arborizadas com trechos de florestas mais densas – sequestraria mais de 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono ao longo de 20 anos, segundo a empresa.
“A Total está se comprometendo com o desenvolvimento de sumidouros naturais de carbono na África”, disse Nicolas Terraz, então vice-presidente sênior da Total para a África, exploração e produção, em um comunicado à imprensa da empresa sobre o projeto em 2021. Essas atividades se baseiam nas iniciativas prioritárias adotadas pelo grupo para evitar e reduzir as emissões, em linha com sua ambição de chegar ao zero líquido até 2050.”
Para atingir o zero líquido, as empresas devem remover pelo menos tanto carbono do ar quanto liberam. Muitos, como a TotalEnergies, estão recorrendo às árvores para ajudar nisso. No Planalto de Batéké, uma espécie de acácia da Austrália, destinada à extração seletiva, cobrirá uma grande área.
O projeto, parte de um programa do governo congolês para expandir a cobertura florestal e aumentar o armazenamento de carbono, criaria empregos, disse a empresa, e, finalmente, ampliaria a biodiversidade do ecossistema, à medida que as espécies locais pudessem crescer ao longo de décadas.
Mas os cientistas alertam que o plano pode ser um exemplo de um dos piores tipos de esforços de reflorestamento: plantar árvores onde elas não ocorreriam naturalmente. Esses projetos podem devastar a biodiversidade, ameaçar o abastecimento de água e até aumentar as temperaturas porque, em alguns casos, as árvores absorvem o calor que as pastagens – ou, em outras partes do mundo, a neve – teriam refletido.
“Não queremos causar danos em nome do bem”, disse Bethanie Walder, diretora executiva da Society for Ecological Restoration, uma organização global sem fins lucrativos.
O Planalto de Batéké é um dos ecossistemas menos estudados da África, de acordo com Paula Nieto Quintano, cientista ambiental que se concentrou na região. “Sua importância para a subsistência local, sua ecologia e funções ecossistêmicas são mal compreendidas”, disse Nieto.
Aqueles que estudam a restauração florestal enfatizam que as árvores não são uma panaceia.
“Temo que muitas corporações e governos estejam vendo isso como uma saída fácil”, disse Robin Chazdon, professor de restauração de florestas tropicais da Universidade de Sunshine Coast, na Austrália. “Eles não precisam necessariamente trabalhar tanto para reduzir suas emissões porque podem apenas dizer: ‘Ah, estamos compensando isso plantando árvores’.”
‘Fazendo a coisa certa’
Todas as árvores armazenam carbono, mas seus outros benefícios variam muito dependendo da espécie e do local de plantio.
O eucalipto, por exemplo, cresce rápido e reto, tornando-se um lucrativo produto madeireiro. Nativo da Austrália e de algumas ilhas ao norte, suas folhas alimentam coalas, que evoluíram para tolerar um potente veneno que eles contêm. Mas na África e na América do Sul – onde as árvores são amplamente cultivadas para madeira, combustível e, cada vez mais, armazenamento de carbono – eles oferecem muito menos valor à vida selvagem. Eles também são culpados por esgotar a água e agravar os incêndios florestais.
Os especialistas reconhecem que a restauração florestal e o sequestro de carbono são complexos e que as espécies comerciais têm um papel a desempenhar. As pessoas precisam de madeira, um produto renovável com pegada menor de carbono do que concreto ou aço. Elas precisam de papel e combustível para cozinhar.
Plantar espécies de crescimento rápido para colheita às vezes pode ajudar a preservar as florestas nativas vizinhas. E, adicionando estrategicamente espécies nativas, as fazendas de árvores podem ajudar a biodiversidade criando corredores de vida selvagem para ligar áreas de habitat desconectadas.
“Esse movimento de restauração não pode acontecer sem o setor privado”, disse Michael Becker, chefe de comunicações da 1t.org, um grupo criado pelo Fórum Econômico Mundial para impulsionar a conservação e o crescimento de 1 trilhão de árvores com a ajuda de investimentos privados. “Historicamente, houve maus atores, mas precisamos trazê-los de volta e fazer a coisa certa.”
Um desafio é que ajudar a biodiversidade não oferece o retorno financeiro do armazenamento de carbono ou dos mercados de madeira.
Muitos governos estabeleceram padrões para os esforços de reflorestamento, mas geralmente oferecem ampla margem de manobra.
No País de Gales, um dos países mais desmatados da Europa, o governo está oferecendo incentivos para o plantio de árvores. Mas os produtores precisam incluir apenas 25% de espécies nativas para se qualificarem para os subsídios do governo. No Quênia e no Brasil, fileiras de eucalipto crescem em terras que já foram florestas e savanas ecologicamente ricas. No Peru, uma empresa chamada Reforesta Perú está plantando árvores em terras amazônicas degradadas, mas está usando cada vez mais eucaliptos clonados e teca, destinados à exportação.
Equilíbrio da Biodiversidade
Quando as empresas prometem plantar uma árvore para cada compra de um determinado produto, geralmente fazem isso por meio de grupos sem fins lucrativos que trabalham com comunidades em todo o mundo. O apoio pode reflorestar após incêndios florestais ou fornecer árvores frutíferas e castanheiras aos agricultores. Mas mesmo esses projetos podem comprometer a biodiversidade.
O planeta abriga cerca de 60 mil espécies de árvores. Um terço está ameaçado de extinção, principalmente pela agricultura, pastoreio e exploração. Mas globalmente, apenas uma pequena fração das espécies é amplamente plantada, de acordo com grupos de plantio de árvores e cientistas.
“Eles estão plantando as mesmas espécies em todo o mundo”, disse Meredith Martin, professora assistente de silvicultura da Universidade Estadual da Carolina do Norte, que descobriu que os esforços de plantio de árvores sem fins lucrativos nos trópicos tendem a priorizar as necessidades de subsistência das pessoas em detrimento da biodiversidade ou armazenamento de carbono. Com o tempo, ela disse, esses esforços correm o risco de reduzir a biodiversidade nas florestas.
Um grande obstáculo é a falta de oferta nos bancos de sementes locais, que tendem a ser dominados por espécies comerciais populares. Alguns grupos superam esse problema pagando às pessoas para coletar sementes de florestas próximas.
Outra solução, dizem os especialistas, é deixar as florestas voltarem por conta própria. Se a área está apenas levemente degradada ou fica perto de uma floresta existente, um método chamado regeneração natural pode ser mais barato e mais eficaz. Simplesmente cercar certas áreas de pastagem muitas vezes permitirá que as árvores retornem, com o sequestro de carbono e a biodiversidade incorporados. “A natureza sabe muito mais do que nós”, disse Chazdon. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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