PARQUE NACIONAL DE TA PHRAYA, TAILÂNDIA - Os guardas florestais caminhavam há horas na densa floresta tailandesa, falando apenas por sussurros. O batedor que ia na frente vasculhava a paisagem em busca de sinais da presença de algum criminoso no parque - as pegadas de um intruso, uma garrafa de uísque velha atirada no chão, munições descartadas. Se eles detectassem o símbolo de uma estrela entalhado em uma árvore, tinham a certeza de que caçadores ilegais se encontravam nas imediações.
A mata do Parque Nacional de Ta Phraya, no sudeste da Tailândia, parte de uma reserva que é patrimônio mundial da Unesco, é o habitat de ursos, crocodilos e elefantes. Mas estes caçadores furtivos buscam a árvore perfeita. Quando a encontram, a derrubam e a serram em tábuas em poucas horas. Seu objetivo principal é o pau-rosa, também conhecido como pau-sangue, usado para fabricar móveis ornamentais para gente rica.
Os caçadores furtivos são na maior parte cambojanos. Eles penetram na selva, dormem em árvores, carregam motosserras que funcionam por bateria e, às vezes, rifles de assalto chineses. Os cerca de 60 guardas tailandeses que patrulham os 600 quilômetros quadrados de floresta em busca de sinais que permitam levá-los a uma prisão são insuficientes, têm poucos recursos e muitas vezes armas insuficientes. Alguns dos rifles de assalto e espingardas têm 60 anos. E eles precisam pagar a comida e os suprimentos do próprio bolso. No entanto, procuram realizar as suas tarefas da melhor maneira possível.
“Estas florestas são os pulmões do país”, disse Kaew Kornkam, um treinador de elite dos patrulheiros. “O exército protege o país, a polícia protege a sociedade, nós protegemos o ar que respiramos”. O pau rosa é uma árvore densa, escura e fragrante, e seus veios são longos e profundos. O lento crescimento desta árvore torna a sua madeira vermelha preciosa. De pequeno porte, levam cerca de 60 anos para crescer, e as mais maduras têm aproximadamente 200 anos.
Os tailandeses raramente derrubam estas árvores, porque acreditam que sejam habitadas pelo espírito da floresta. Mas quando a demanda chinesa desta madeira começou a crescer, há nove anos, alguns tailandeses passaram a guiar lenhadores furtivos cambojanos na floresta para ajudá-los a encontrar as árvores preciosas. Agora, estes lenhadores ilegais conhecem o caminho. Em vez de acampar na floresta durante semanas, uma equipe chega e transforma uma árvore em madeira. Outra entra na mata durante a noite e retira a madeira antes do amanhecer.
Os lenhadores ilegais ganham de US$ 150 a US$ 200 por um carregamento que poderá valer dezenas de milhares de dólares na China. Uma única árvore madura chega a ser cotada $ 300 mil. Recentemente, uma patrulha do parque foi encarregada de treinar novos recrutas. Eles aprenderam a fazer uma prisão, rastreamento e como identificar diferentes tipos de árvores. Alguns nunca haviam segurado um rifle antes.
Em patrulha, os guardas costumam usar tênis baratos e sandálias de plástico para evitar que a sua presença seja descoberta. Caminham por riachos, enchem garrafas de plástico vazias de água potável e montam barracas em acampamentos abandonados de caçadores furtivos, às vezes poucas horas depois de estes terem partido.
Um dos integrantes da patrulha, Maung, foi lenhador furtivos de pau rosa e se tornou um patrulheiro. A certa altura, foi preso e cumpriu seis meses de prisão; foi então, contou, que decidiu aplicar o seu conhecimento das táticas ilegais para fazer o que tinha de ser feito. Agora, ele também dirige um grupo de voluntários que leva as crianças para a floresta a fim de ensinar-lhes o conhecimento das árvores.
“Nunca vou deixar este trabalho”, disse Maung. “Pretendo trabalhar até morrer. Quero ensinar à próxima geração a amar a floresta. Então ela saberá que não deve destruí-la”. Os rastreadores buscam sinais - como fogueiras na mata, um símbolo entalhado ou mesmo lixo - que possam ajudá-los a encontrar e prender lenhadores cambojanos em busca de pau rosa que cruzaram a fronteira e penetraram na Tailândia. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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