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Líderes religiosos dos EUA pregam aos incrédulos a fé na vacina contra a covid-19

Padres, imãs, rabinos e swamis estão incentivando suas congregações a tomarem as vacinas. Muitas pessoas confiam mais neles do que nas autoridades de saúde

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Por Jan Hoffman

Durante um recente culto de domingo no Gathering Place, uma igreja evangélica em Orlando, Flórida, o reverendo Gabriel Salguero dedicou seu sermão à vacina contra a covid-19 e ao medo e à suspeita a que sua congregação predominantemente latina se agarra com tanta força.

Ele recorreu ao Novo Testamento: a parábola do bom samaritano, sobre a importância de ajudar o outro.

As pessoas assistem a um culto religioso com Rev. Gabriel Salguero. Foto: Octavio Jones / The New York Times

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“Ao se vacinar, você está ajudando seu próximo”, ele pregou para cerca de trezentos fiéis de máscara e fazendo distanciamento social. “Deus quer que você esteja inteiro para que você possa cuidar da sua comunidade. Então, pense nas vacinas como parte do plano de Deus”.

Salguero está entre os milhares de sacerdotes de várias religiões – imãs, rabinos, padres, swamis – que estão tentando convencer os hesitantes a se vacinarem contra a covid-19. Ao entrelaçar as escrituras com a ciência, eles estão empregando a singular confiança neles investida por suas congregações para dissipar mitos e desinformação sobre os imunizantes. Muitos estão até oferecendo seus santuários como locais de vacinação para deixar a experiência mais acessível e reconfortante.

Sua missão está se fazendo cada vez mais vital. Com o fornecimento de vacinas previsto para aumentar nos próximos meses nos EUA e a Casa Branca prometendo doses suficientes para cada adulto americano até maio, as autoridades de saúde pública estão voltando suas atenções para o número ainda substancial de pessoas que são céticas quanto às vacinas. Convencer essas pessoas é fundamental para o país obter imunidade generalizada contra o vírus e alguma aparência de normalidade.

Algumas das razões mais poderosas que as pessoas citam para resistir às vacinas estão enraizadas em crenças religiosas e, de fato, um obstáculo que esses sacerdotes enfrentam é a investida de seus próprios colegas contra os imunizantes. A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos recentemente proclamou que os católicos deveriam evitar a vacina da Johnson & Johnson se tivessem escolha, chamando-a de “moralmente comprometida”, porque teria sido desenvolvida com linhagens celulares de um feto abortado em 1985. Um rumor falso, espalhado por alguns imãs e rabinos, segundo o qual as vacinas covid-19 contêm subprodutos da carne de porco, permeia as comunidades muçulmanas e judaicas.

Mas os membros do clero que acreditam na importância das vacinas estão em uma posição única para combater essas alegações. O próprio Papa Francisco declarou que as vacinas contra o coronavírus são “moralmente aceitáveis” por causa da gravidade da pandemia e da distância da conexão com o feto abortado. Com o Ramadã se aproximando no mês que vem, os imãs têm mantido bate-papos no Facebook Live com médicos muçulmanos, organizados em torno de perguntas como: “A vacina da covid-19 é Halal?”.

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Albert Mohler, o influente presidente do Southern Baptist Theological Seminary, anunciou que tomaria a vacina. Em vídeos de YouTube, mensagens de WhatsApp e podcasts, alguns rabinos ultraortodoxos em Israel e no Brooklyn, Nova York, estão endossando a vacina, citando textos religiosos.

O ativismo clerical evangélico que promove a vacinação, liderado por ministros como Salguero, está ganhando força. Este mês, uma rede nacional de pastores evangélicos latinos realizou um webinar em espanhol sobre vacinas com especialistas médicos do governo.

No governo Biden, o clero tem um novo parceiro. O recém-restabelecido Gabinete de Parcerias Religiosas e de Vizinhança da Casa Branca vem mantendo uma conversa semanal com milhares de líderes religiosos de todo o país sobre estratégias para trabalhar com clínicas para aplicar as injeções imunizantes. Durante a chamada de 4 de março, Jared Moskowitz, diretor da Divisão de Gerenciamento de Emergências da Flórida, que estava conectado com igrejas das comunidades cubana, haitiana e vietnamita da Flórida, disse que os líderes religiosos são cruciais para levar vacinas para suas comunidades.

“Existem grandes problemas de confiança, grandes problemas de transporte e problemas de exclusão digital”, disse Moskowitz. “E o que a comunidade da igreja fez foi resolver todos esses problemas”.

As congregações, disse ele, “conhecem o pastor, confiam no pastor, e o pastor é melhor do que qualquer pessoa para mobilizar as pessoas”.

Evangelizar pela vacina

Qué lo prueben”.

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Eles que o comprovem.

Esta é a réplica que Salguero ouve dos paroquianos quando menciona as vacinas covid-19. Sua congregação abrange afro-americanos e famílias multigeracionais de vinte países da América Latina e do Caribe. Entre os membros se encontram desde pessoas que não sabem ler até médicos e outros profissionais altamente qualificados.

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O vírus se espalhou pela igreja e também pela família do pastor – ele, sua esposa, sua irmã e ambos os filhos. Mesmo assim, muitos na congregação estão imersos em mitos sobre a vacina e em experiências reais de desigualdade na assistência médica.

Salguero, que é descendente de porto-riquenhos e está ciente do histórico de abuso médico contra latinos, como as décadas de esterilização forçada de mulheres porto-riquenhas, exorta os paroquianos a fazerem quantas perguntas quiserem sobre a vacina.

E as perguntas vêm à tona: se você está morando no país sem permissão legal, a vacina pode ser usada para deportá-lo? Se você não é cidadão americano, pode tomar a vacina mesmo assim? A vacina é uma marca da Besta (referência a um anúncio do fim dos tempos no Livro do Apocalipse)?

Embora Salguero esteja munido de muitos fatos – ele moderou debates nacionais de prefeituras com especialistas dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças – ele tenta balizá-los com o contexto bíblico: sim, existe um bálsamo em Gileade.

“Nossa tradição é rica em Cristo, o curador”, disse ele. “E a medicina é uma forma de curar as pessoas”.

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Dra. Uzma Syed, médica infectologista, citou uma narração sobre o Profeta Maomé ao exortar muçulmanos a serem vacinados. Foto: Laylah Amatullah Barrayn / The New York Times

Medicina e fé

Em janeiro, Swayamprakash Swami, ex-médico na Índia que agora é um monge afiliado ao BAPS, uma tradicional denominação hindu, deu sua bênção às vacinas contra a covid-19. Agora, o antigo princípio hindu da ahimsa, uma exortação a não fazer mal e reverenciar a vida, está sendo usada para encorajar os hindus na América do Norte a tomar a vacina, disse o Dr. Kashyap Patel, cardiologista de Atlanta que é consultor médico do BAPS. Templos hindus americanos, como o BAPS Shri Swaminarayan Mandir em Melville, Nova York, estão fornecendo postos de vacinação provisórias para suas comunidades.

A hesitação vacinal é mais arraigada entre os muçulmanos americanos, que somam quase 3,5 milhões de pessoas. Cerca de um quarto deles são afro-americanos, que têm suas próprias razões históricas para desconfiar das imunizações.

Hagar Aboubakr, que dirige uma escola islâmica em Howard County, Maryland, disse que não via razão para tomar a vacina da covid.

Mas, ao saber que os professores de sua escola estavam sendo vacinados, ela pensou: “Tenho a responsabilidade de dar o exemplo. Será que não estou sendo egoísta por não me vacinar?”.

Ela fez uma oração de súplica, pedindo a Alá que a conduzisse a uma boa decisão. Ela ouviu palestras de médicos muçulmanos. Ela consultou seu imã.

E ele disse a ela: “Os estudiosos muçulmanos a aconselham a tomar a vacina. Como muçulmanos, é nossa responsabilidade fazer o que precisamos para aliviar a humanidade desta pandemia”.

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Aboubakr recentemente tomou a primeira dose.

Embora muitas comunidades hassídicas tenham desafiado as diretrizes de saúde pública da covid e se oposto às vacinações obrigatórias em geral, a maioria das denominações judaicas geralmente as endossa. Algumas sinagogas se ofereceram para abrigar locais de vacinação inter-religiosa e ajudar a equipe de clínicas móveis de vacinação. Mas até mesmo alguns rabinos tradicionais vêm falando sobre novas questões sobre os imunizantes contra a covid.

“Trata-se de um mandato judaico tomar todas as medidas necessárias para salvar vidas, mesmo no caso de risco potencial”, disse o rabino Adir Posy, de Beth Jacob, uma sinagoga ortodoxa em Beverly Hills, Califórnia, que também é líder da União Ortodoxa, uma rede de congregações.

Retornando a um lugar seguro

Só de pensar na vacina da covid, Carolyn Love ficava paralisada. Love, que é consultora em programas de diversidade e inclusão corporativa e é negra, sabe muito bem que as pessoas não brancas têm sido tratadas com desdém pelo sistema de saúde, e ela mesma desconfiava da vacinação.

Mas, para saber mais, ela participou de sessões de informações sobre vacinas conduzidas por médicos negros. Quando ela soube que a Shorter Community AME Church em Denver, sua casa de fé há 40 anos, estava oferecendo a vacina, isso fez toda a diferença.

Na Shorter, o reverendo Dr. Timothy Tyler falou sobre vacinação em suas pregações on-line, participou de painéis e postou no Facebook fotos do dia em que ele próprio tomou a vacina. Agora, quando o UCHealth, o sistema de saúde afiliado à Universidade do Colorado, manda dizer que aplicará quinhentas doses em Shorter no domingo, os membros da igreja pegam o telefone e oferecem ajuda aos fiéis mais velhos.

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Em um domingo semanas atrás, depois de um ano difícil longe da igreja, Love voltou à Shorter para tomar sua vacina. Ela saudou companheiros que não via há muito tempo e, ajoelhando-se diante do altar do santuário, chorou.

“Orei por aqueles que não tiveram a oportunidade com a qual fui abençoada e por uma cura para nossa nação”, disse ela.

Em seguida, ela se dirigiu ao salão Omar D. Blair, batizado em homenagem a um aviador de Tuskegee que se tornou defensor dos direitos civis. É o lugar onde ela liderava as atividades das escoteiras e onde a igreja velou seu marido quando ele faleceu.

Agora, um novo marco.

Ela se sentou a uma mesa para receber a vacina, na esperança de que a imunização ajudasse a livrá-la da pandemia, devolvendo-a à vida comunitária que ela tanto preza.

Enquanto enrolava a manga da camisa, ela olhou ao redor. Era muito melhor do que um consultório médico, ela pensou. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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